terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Advento

História e Significado



Advento

 O período que abre o ano litúrgico da Igreja. Inicia-se no quarto domingo antes do Natal, isto é, “nas primeiras vésperas do domingo que sucede ao dia 30 de novembro ou o mais próximo desta data, e  termina antes das primeiras vésperas do Natal” (cf. Missal cotidiano. P.8).

É tempo de alegre espera, arrependimento, expectativa e preparação para a chegada de Cristo.

A verdadeira origem do advento é incerta e escassas são as notícias que chegaram até nós.



Elementos do advento:

1º celebra a vinda gloriosa de Cristo.

2º advento escatológico.

O advento é tempo litúrgico da Igreja ocidental. A Igreja oriental tem apenas poucos dias de preparação para o natal.

A notícia que temos do advento remonta ao século IV. “Da mesma forma que a festa da Páscoa, o Natal recebeu também um tempo de preparação, ao qual se deu o nome de advento (= vinda). Os primeiros indícios de uma preparação para o Natal, não o encontramos na liturgia romana, mas na Espanha e Gália”.  Em Roma aparecem os primeiros indícios de uma liturgia do advento em meados do século VI com São Gregório Magno. Contudo, “é fácil verificar que o conteúdo original do advento não era tanto a expectativa da vinda de Cristo no final dos tempos (Parusia), quanto propriamente a Encarnação e a preparação para a sua celebração litúrgica. De fato, a Encarnação como acontecimento histórico é o começo de nossa Redenção e a garantia de sua consumação na segunda vinda de Cristo” (Adolf Adam, in O Ano Litúrgico, p. 129-130).



Estrutura do Advento no Missal de Paulo VI



O advento consta de quatro domingos e é formado de dois períodos.

1º.   Do 1º Domingo do advento até 16 de dezembro, dá-se maior evidência ao aspecto escatológico e procura-se orientar as almas para a  espera da vinda gloriosa de Cristo.

2º.  17 de dezembro a 24, tanto na missa, quanto na liturgia das horas, todos os textos orientam-se mais diretamente a preparação do natal.



Três figuras emergem nesse tempo

1º - O profeta Isaías.

2º - João Batista.

3º - Maria.

 Isaías: Antiquíssima e universal tradição escolheu o texto a leitura de Isaías, porque nele, mas do que nos outros profetas, se encontra um eco da grande esperança que conforta o povo eleito durante os séculos duros e decisivos da sua história. Suas páginas constituem um anúncio de esperança perene para os homens de todos os tempos.



João Batista: é o último dos profetas que resume na sua pessoa e na sua palavra, toda a história anterior no momento em que desemboca no seu cumprimento. Ele é o sinal da intervenção de Deus em favor do seu povo; como precursor de messias, tem a missão de preparar os caminhos do Senhor (cf. Isaías 40,3), de oferecer a Israel o “conhecimento da salvação” (Lc 1,77-78) e, sobretudo, de apontar Cristo já presente no meio do seu povo (Jo 1,29-34).

Neste tempo de advento, dá-se especial e feliz destaque, a figura de Maria por causa da sua cooperação no mistério da redenção. Mas é bom dizer logo de passagem, que não é justo chamar o advento de “mês de Maria”, exatamente pelo fato de ser este tempo essencialmente celebração do mistério do Senhor, da sua vinda, mistério a que se acha ligada a cooperação de Maria no cumprimento da história da salvação com sua realização total e plena no Cristo senhor. Em Maria Imaculada, Deus nos deu “as primícias da Igreja, esposa de Cristo sem ruga e sem mancha, resplandecente de beleza” (prefácio da Imaculada Conceição).



Teologia do advento



O advento lembra antes de tudo a dimensão histórico-sacramental da história da salvação. O Deus do advento é o Deus da historia, o Deus que veio plenamente para a salvação do homem em Jesus de Nazaré, em quem se revela a face do Pai (Jo 14,9).

O advento é o tempo litúrgico em que se evidencia fortemente a dimensão do mistério cristão (1 Ts 5,9; 1 Pd 1,5; 1Cor 1,8; 5,5; At 10,40-42.

A Igreja na sua peregrinação terrena vive a tensão do já da salvação realizado em Cristo e o ainda não da sua plena manifestação na volta do Senhor, juiz e salvador.

O advento reacende também o compromisso missionário da Igreja e de todo o cristão para o advento do reino de Deus. A missão da Igreja de anunciar o Evangelho a todos os povos e nações, “é essencialmente baseada no mistério da vinda de Cristo, enviado pelo Pai; sobre a vinda do Espírito Santo, mandado pelo Pai e pelo (ou ‘para o’) Filho”.

A Espiritualidade do Advento



         A comunidade cristã, com a liturgia do advento, é chamada a viver algumas atitudes essenciais à expressão evangélica da vida: a espera vigilante e jubilosa, a esperança e a conversão. Mas a atitude da esperança adquire um sentido todo especial, porque é a atitude que assume a Igreja esposa de Cristo, enquanto espera o seu glorioso esposo, até a vinda do seu Senhor em seu advento no final da história. A esperança caracteriza, portanto a Igreja e o cristão, porque o Deus da revelação é o Deus da promessa que em Cristo manifestou toda a sua fidelidade ao homem (cf. 2Cor 1,20). No advento, a Igreja vive a espera de Israel em níveis de realidade e manifestação definitiva da realidade que é Cristo. Agora vemos “como num espelho”, mas virá o dia em que “veremos face a face” (1 Cor 13,12). A Igreja vive essa esperança na vigilância e na alegria. Por isso reza: “Maranathá: Vem, Senhor Jesus” (Ap 22,17-20). O advento celebra o “Deus da esperança” (Rom 15,13) e vive a alegre esperança (Rom 8,24-25). O canto que se caracteriza esse tempo é o do salmo 25: “A ti, Senhor, eu me elevo, ó meu Deus. Eu confio em ti, que eu não seja envergonhado, que meus inimigos não triunfem contra mim! Os que esperam em ti, não ficarão envergonhados”. Deus que entra na história põe o homem em causa e o questiona. A vinda de Deus em Cristo requer conversão contínua e permanente. A novidade do Evangelho, que se destaca com grande força neste tempo, é o da conversão como convite a acolher a Luz que é Cristo, o que exige de cada um, estar atento e acordado (Rom 13,11-14), decidido a ir ao encontro do senhor, quando ressoar sua voz como convite, a exemplo das cinco virgens prudentes que conservaram suas lâmpadas com óleo. Enquanto dormiam, seu coração estava vigilante. A voz do Senhor foram despertadas e quanta alegria e festa.



O Advento educa para viver a atitude dos ‘pobres de javé', ’mansos, humildes, disponíveis, e que Jesus proclamou bem-aventurados (cf. Mt 5,3-12).



PASTORAL  LIRTÚRGICA



 A pastoral do advento, não ignorando que este período, na nossa sociedade industrial e consumista, coincide com o lançamento comercial da ‘operação natal’, justamente por isso, deve comprometer-se a transmitir os valores e as atitudes que estejam de acordo com a visão escatológica transcendental da vida. O advento, com sua mensagem de espera e de esperança diante da vinda do Senhor, deve formar comunidades cristãs e crentes individualmente que se proponham como sinais alternativos para uma sociedade em que as áreas do desespero parecem mais vastas do que as da fome e do subdesenvolvimento. Uma verdadeira tomada de consciência da dimensão escatológica e transcendente da vida cristã deve aumentar em cada um o desejo e o compromisso missionário com a “redenção da história e a preparação através do serviço aos homens aqui na terra, considerando-a a matéria para o reino dos céus. Na verdade, Cristo, com a força do Espírito Santo, age e opera no coração dos homens, não só para suscitar o desejo do mundo futuro, como para inspirar, purificar e fortalecer o compromisso com a finalidade de tornar mais humana à vida terrena” (GS 38).

          Se a liturgia do advento for iluminada por essa luz e perspectiva teológicas, os cristãos serão mais enriquecidos e estimulados a “construir comunidades que saibam ser a alma do mundo”.

(Resumo do Dicionário de Liturgia, in.Ed. Paulinas/Paulista. 1992).

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Deus visita seu povo como Pai e Redentor

1º Domingo do Advento – Ano B – 2011



Deus visita seu povo como Pai e Redentor



Isaías  63.16b-17.19;64,2b-7

Salmo 79,2ac3b.1516.17.18.19

Iluminai a vossa face sobre nós, convertei-nos, para que sejamos salvos!

1Cor 1,3-9

Marcos 13,33-37



Iniciamos o tempo do advento como tempo de preparação para o natal do Senhor e início do novo ano litúrgico. Durante quatro semanas, a liturgia própria deste tempo nos convida a abrir o nosso coração, para que, sejamos dóceis aos apelos do Espírito Santo que continuamente convida toda a Igreja a uma atitude permanente de conversão.



A primeira leitura nos mostra o povo eleito no exílio da Babilônia, onde reconhece e confessa o seu pecado diante de Deus, pai e redentor. Deus é para o povo exilado, o pai bondoso e rico em misericórdia. Ele é o divino oleiro. Em sua presença somos barro, isto é, matéria prima com a qual molda o homem e a sua mulher a sua própria imagem e semelhança. “Por isso, nossa identidade não pode prescindir da sua fisionomia”. Diante da eterna pergunta que nos fazemos porque ele tolera nossa liberdade rebelde, brota como que espontaneamente uma prece cheia do desejo de Deus: “Ah, se rompesses os céus e descesses! As montanhas se derreteriam diante de ti. Descestes, pois, e as montanhas se derreteram diante de ti” (v.19b e 642b). O advento é o tempo de gestação da esperança. Deus não frustrou a esperança de seu povo no exílio, mas foi ao seu encontro e o libertou. Todavia, muitos outros sofrimentos se abaterão sobre Israel, sem, todavia, Deus deixar de agir. A palavra dos profetas é uma voz que anima e conforta. Porém, será na plenitude dos tempos que as nuvens se romperão e como chuva, descerá a terra o salvador e redentor Jesus, nascido de mulher, sujeito a lei, para remir os que estavam sujeitos à lei (Gálatas 4,4-5).

O evangelho de Marcos, narra à parábola de um homem que viaja para o estrangeiro e deixa sua casa sob a responsabilidade de seus empregados. A parábola é um convite a todos, inclusive, aos discípulos: “Cuidado! Ficai atentos,...”. Sim, o dono da casa parte em viagem, mas não antes de confiá-la aos cuidados dos seus empregados, aos quais distribui tarefas variadas. Podemos imaginar como é bom o dono dessa casa. Ele confia em cada um dos seus empregados e como o homem da parábola dos talentos, confia a cada um deles, responsabilidades, segundo a capacidade de cada um. Mesmo o porteiro, que não trabalha no interior da casa, mas que tem igual responsabilidade, ele ordena: “Vigiai”. “Porque não sabeis quando dono da casa virá”. Refletindo esse texto evangélico, ele me faz perceber a ternura do dono da casa ao se despedir de cada um deles como se fosse um irmão. E é isso que ele é mesmo. Por isso, não posso deixar de ver que os irmãos que ficam o acompanham até a porta e, da porta e janelas da casa, o veem partir, enquanto lhe acenam com um até breve. Esse gesto bonito leva o Senhor a repetir a mesma palavra do início: “O que vos digo, digo a todos: Vigiai!”. Sem dúvida, a vigilância não é atitude de ociosidade, mas de operoso trabalho. A casa do Senhor, é a sala onde se espera por ele trabalhando, celebrando o amor e a reconciliação. Essa casa com uma grande sala é a Igreja. Os empregados, somos todos os discípulos missionários, chamados a proclamar a justiça e a bondade de Deus e com alegria, testemunhar Jesus Cristo como a verdadeira vida dos povos e nações. O porteiro pode ser uma imagem dos que na Igreja, casa e escola da comunhão (D. A.), tem a missão de coordenar as várias tarefas e ministérios nas comunidades eclesiais, sob a presidência do santo padre o Papa.

Finalmente, o Apóstolo Paulo, agradece a Deus com fervorosa prece pelos cristãos de corinto, que foram enriquecidos em Cristo com a Palavra e o conhecimento do Evangelho. Apoiados nele e na sua palavra, cresceremos na perseverança e numa vida correta aos olhos de Deus e do mundo.


domingo, 11 de dezembro de 2011

Ser luz para testemunhar Cristo

III Domingo do advento – Ano B








Leitura do Livro do profeta Isaías: 

1O espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu; enviou-me para dar a boa nova aos humildes, curar as feridas da alma, pregar a redenção para os cativos e a liberdade para os que estão presos; 2apara proclamar o tempo da graça do Senhor. 
10Exulto de alegria no Senhor e minh’alma regozija--se em meu Deus; ele me vestiu com as vestes da salvação, envolveu-me com o manto da justiça e adornou-me como um noivo com sua coroa, ou uma noiva com suas joias. 
11Assim como a terra faz brotar a planta e o jardim faz germinar a semente, assim o Senhor Deus fará germinar a justiça e a sua glória diante de todas as nações. 

- Palavra do Senhor. 
- Graças a Deus.


— A minh’alma se alegra no meu Deus. 
— A minh’alma se alegra no meu Deus. 

— A minha alma engrandece ao Senhor,/ e se alegrou o meu espírito em Deus, meu Salvador,/ pois ele viu a pequenez de sua serva,/ desde agora as gerações hão de chamar-me de bendita.
— O Poderoso fez por mim maravilhas./ E Santo é o seu nome!/ Seu amor, de geração em geração,/ chega a todos que o respeitam. 
— De bens saciou os famintos,/ e despediu os ricos sem nada./ Acolheu Israel, seu servidor,/ fiel ao seu amor.


Leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Tessalonicenses: 

Irmãos: 16Estai sempre alegres! 
17Rezai sem cessar. 
18Dai graças em todas as circunstâncias, porque essa é a vosso respeito a vontade de Deus em Jesus Cristo. 
19Não apagueis o espírito! 
20Não desprezeis as profecias, 21mas examinai tudo e guardai o que for bom. 
22Afastai-vos de toda espécie de maldade! 
23Que o próprio Deus da paz nos santifique totalmente, e que tudo aquilo que sois — espírito, alma e corpo — seja conservado sem mancha alguma para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo! 
24Aquele que vos chamou é fiel; ele mesmo realizará isso. 

- Palavra do Senhor. 
- Graças a Deus.
— O Senhor esteja convosco. 
— Ele está no meio de nós. 
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo, + segundo João.
— Glória a vós, Senhor!

6Surgiu um homem enviado por Deus; seu nome era João. 7Ele veio como testemunha, para dar testemunho da luz, para que todos chegassem à fé por meio dele. 8Ele não era a luz, mas veio dar testemunho da luz. 
19Este foi o testemunho de João, quando os judeus enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para perguntar: “Quem és tu?”
20João confessou e não negou. Confessou: “Eu não sou o Messias”. 
21Eles perguntaram: “Quem és, então? És tu Elias?” João respondeu: “Não sou”. Eles perguntaram: “És o Profeta?” Ele respondeu: “Não”. 
22Perguntaram então: “Quem és, afinal? Temos de levar uma resposta para aqueles que nos enviaram. O que dizes de ti mesmo?”
23João declarou: “Eu sou a voz que grita no deserto: ‘Aplainai o caminho do Senhor’” — conforme disse o profeta Isaías. 
24Ora, os que tinham sido enviados pertenciam aos fariseus 25e perguntaram: “Por que então andas batizando, se não és o Messias, nem Elias, nem o Profeta?”
26João respondeu: “Eu batizo com água; mas no meio de vós está aquele que vós não conheceis, 27e que vem depois de mim. Eu não mereço desamarrar a correia de suas sandálias”. 
28Isto aconteceu em Betânia, além do Jordão, onde João estava batizando. 



Queridos irmãos e irmãs, entramos na terceira semana do advento, o tempo da espera alegre pela vinda do messias salvador. Com alegria proclamamos: “Ele está no meio de nós”. A certeza da sua presença enche o universo e os corações humanos de uma grande alegria, pois, nele, nos reconhecemos filhos amados do Pai. Essa alegria que brota da fé, nos estimula a sermos “missionários para proclamar o Evangelho de Jesus Cristo” (D. A. 103).

As leituras bíblicas deste domingo nos orientam para o verdadeiro sentido da alegria que deve cultivar os discípulos missionários. A experiência do pecado e suas consequências, entre elas, a amargura e tristeza que o povo eleito sentiu por ter se afastado de Deus, o fez perceber que sem a reconciliação, não seria possível recuperar a alegria. Essa alegria começa a brotar, a partir do anúncio profético de que Deus perdoa o seu povo amado e, Ele mesmo, em seu amor misericordioso, se coloca no meio de sua situação de dor como “Pai e redentor”, pois, sendo ele o “Divino oleiro”, dará uma nova forma aos seus amados filhos que somos barro em suas mãos(1ª leit. I Domingo do advento, B) e os modelará segundo o seu coração, para que “sejam luz entre as nações”. Desse modo, Deus assume lutar e combater a favor de Israel, como quando do primeiro êxodo. Um novo e segundo êxodo acontecerão dentre em breve e ele se mostrará como pastor que carrega as ovelhas frágeis em seus ombros e, colocando-se atrás, tange as ovelhas mães, que provavelmente se encontram machucadas, cansadas e abatidas. Tudo isso está para acontecer. Os perigos do deserto e dos montes já não representam obstáculos à vitória do amor.

A 1ª leitura do profeta Isaías se situa após o 2º êxodo. De volta à palestina, os israelitas percebem que a realidade é bem diferente. Mas não deixam de confiar na profecia daquele profeta que surgiu entre eles cheio do Espírito de Deus para anunciar a boa nova da liberdade da vida e da esperança e para proclamar o ano da graça de Deus. Sua profecia não é um fiasco, mas augúrio de um novo tempo, isto é, o tempo do messias redentor. Com sua chegada, será plenamente restabelecida a paz e a reconciliação. Antecipando a alegria desse momento, o profeta (3º Isaías), exulta de alegria no Senhor, e revestido com as vestes núpcias, aguarda na alegre esperança, a vinda do Salvador, pois, sua firme esperança se apoia na certeza de que Deus realiza sua obra, como “a terra faz brotar a planta e o jardim faz germinar a semente, assim o Senhor Deus fará germinar a justiça e a sua glória diante de todas as nações” (v.11). A esperança na fidelidade de Deus o leva a cantar um belo magnificat que, depois, será entoado nas montanhas da Judéia pela virgem Maria. Sua fé o leva a crer que Deus virá em primeiro lugar para os que nele esperam, isto é, os pobres e os humildes da terra.



Queridos irmãos e irmãs, a liturgia deste domingo, também chamado de “Gaudete” por causa do forte e insistente apelo para esperar o Senhor na alegria, nos faz perceber na simbologia deste tempo, o sentido da espera como vigilância alegre. Os paramentos rosa, ou “róseo” que hoje podem ser usados, significam que nosso coração está alegre pela proximidade da chegada do Senhor. Hoje também se acende a 3ª vela da coroa do advento (vela rosa). A coroa em sua forma circular representa a eternidade. Nosso coração se alegre até que essa alegria seja plena no eterno convívio com o Senhor.

O evangelista são João, no início do seu evangelho, nos apresenta a figura profética de João Batista como uma testemunha da luz. João vivia num ambiente hostil e indiferente ao plano de amor salvador do Pai. Por isso, opta por levar uma vida despojada que contrasta com a daquela que vive o povo nos centros urbanos, vencidos pelo consumismo. Sua figura causa até espanto nos que o veem. Vê-se assim que, sua opção de vida se converte num sinal de abertura da vida e do coração para reconhecer e acolher o Senhor que já está no meio do povo, mas ainda é um desconhecido. Se tríplice é a missão de Jesus e de cada batizado, tríplice é também a missão de João Batista, “dar testemunho da luz” (v. 7.8), para que “todos cheguem à fé por meio dele” (v.7). Mas todos sabem que dar testemunho da luz num mundo onde impera as trevas não é uma tarefa fácil, haja vista a oposição que há entre luz e trevas. Exemplo disso é quando, há fortes tempestades em época de fortes chuvas. As fortes descargas elétricas que atingem os geradores de eletricidade faz com que as cidades abastecidas por uma determinada rede, caiam no apagão. Nesse momento é hora de trabalho reforçado dos técnicos para restabelecer a luz o quanto antes. Eles mesmos, correndo perigos, entram em ação. Do mesmo modo, os cristãos devem testemunhar a luz de Cristo num mundo onde ainda há muitas trevas, entre elas, a descrença e a falta da necessidade de Deus. Essa é a luta que o precursor enfrenta com os líderes religiosos do judaísmo que enviam a João Batista sacerdotes e levitas para certificar-se de sua identidade e missão que, em conluio com os fariseus, insistem junto a João Batista para que defina sua verdadeira identidade. Na verdade, o que está por trás de tal preocupação é a inveja e ao mesmo tempo o peso de consciência por não terem cumprido com a missão que tinham de levar o povo a reconhecer a chegada do Senhor. João se declara a “voz” que grita no deserto, conforme havia anunciado o profeta Isaías. Ele não é nem o messias, nem Elias, nem o grande profeta anunciado por Moisés. É apenas a “voz que grita no deserto: aplainai o caminho do Senhor” (v.23). “Ele não é a luz do mundo que é Jesus, mas apenas uma luz provisória. Seu batismo não é propriamente uma atuação escatológica, mas um sinal que aponta para o enviado de Deus, o qual está desconhecido no meio do mundo”. Sua mensagem é para que sejamos capazes de descobrir essa luz já presente através da conversão do conversão e de uma vida modesta. É preciso agora tomar uma decisão diante da sua pregação. A pregação provoca o arrependimento e a conversão e daí brota o testemunho. João apontará mais tarde Jesus luz do mundo, como o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Em relação a ele, é o amigo do esposo. Por isso, não se considera digno de “desamarrar a correia de suas sandálias”. João não pode assumir o lugar do messias, por isso mesmo, não se acha em condições de desamarrar as sandálias dele, por que o reino por ele anunciado pertence a Jesus luz do mundo. O testemunho de João como voz nos ensina que toda a sua vida foi uma mensagem de anúncio da chegada do reino. Reconhecido e acolhido como luz entre as trevas, Jesus traz alegria e paz aos corações. Testemunhar a luz de Cristo no mundo através do amor e da compaixão, é a missão do discípulo missionário. Ninguém vai querer se entusiasmar pela missão de Jesus se os que já a assumiram, são pessoas tristes e sentem derrotadas. A alegria cristã é sinal da vitória do amor de Deus na vida e na história.



Por isso, Paulo, escrevendo aos Tessalonicenses os exorta: “estai sempre alegres”! “A alegria é um dos sinais característicos da presença do Espírito de Deus no coração do homem”. Ela nasce da oração – “rezai sem cessar” (v. 16), da abertura do coração ao sopro e apelos do Espírito e de uma vida correta e honesta. Os cristãos que cultivam essa alegria reacendem cada dia a chama da fé e, sua vida se transforma em profecia quando deixam de fazer o mal e trabalham pelo bem. A comunidade que cresce cultivando esse ideal cresce na santidade e na fidelidade ao Senhor. Alegrai-vos!

A Luz de Cristo já brilhou sobre nós. Ela continua acesa ainda. Não a deixemos apagar. Das nossas comunidades cristãs, a luz do Senhor deve irradiar amor, acolhida, alegria e paz. Esse é o primeiro passo que deve dar uma comunidade no trabalho da evangelização. Sem esse testemunho encarnado, não há como mostrar Cristo aos homens, mulheres jovens e crianças do nosso tempo. Alegrai-vos!

domingo, 13 de novembro de 2011

“Vigilância, o jeito inteligente de viver”

XXXIII Domingo do Tempo Comum – Ano A

Liturgia:

1ª leitura – Provérbios 31,1-13.19-20.30-31

Salmo 127/128

Refrão do Salmo:

Felizes os que temem o Senhor e trilham seus caminhos!

2ª leitura – 1tessalonicenses 5,1-6

Evangelho – Matheus 25,14-30

Aproxima-se o final do ano litúrgico. A Liturgia da palavra coloca o acento no tema da vigilância. O que significa essa vigilância? Um tempo de tensão? Medo? Apreensão? Não. A vigilância a qual se refere à liturgia de hoje se orienta para um “jeito inteligente de viver” a fé e o compromisso que dela deriva.



       A primeira leitura, tirada do livro dos Provérbios, nos apresenta a imagem da mulher cheia de virtudes. Ela é uma benção de Deus para a família. Aliás, surge aqui uma visão nova em relação à mulher, que supera toda uma mentalidade que se desenvolveu dentro de uma cultura patriarcal. Vista, antes, com adjetivos pejorativos, “sedutora, faladeira, ciumenta, curiosa, vaidosa” (Eclo 26,12-36), o autor sagrado, mostra-a como uma joia rara e cheia de qualidades. O texto proclamado hoje destaca quatro qualidades na mulher: 1ª). Ela é uma mulher de valor. É a alegria do marido e da família. 2ª) Ela é laboriosa, isto é, dedicada ao trabalho. Suas mãos têm grande habilidade. Trabalha a lã e o linho com suas mãos para ajudar no orçamento doméstico. 3ª)Ela tem um coração grande, sensível e aberto as necessidades dos  pobres e necessitados. 4ª) Ela é uma mulher religiosa. É fiel aos mandamentos de Deus. Não se deixa levar pelo encanto enganador da sua beleza, pois, sabe que, a beleza é passageira. O texto sagrado reconhece que a sua maior beleza é as suas obras. A pergunta que se faz agora é esta: existem essas mulheres entre nós? Sim, existem muitas e nós sabemos onde encontrá-las. Muitas levam uma vida anônima. Mas a verdade é que, elas estão presentes em muitos espaços das nossas comunidades e são até ignoradas. Aliás, a mulher é símbolo do povo eleito. É também símbolo da Igreja. O novo Israel, isto é, a Igreja, é chamada a cultivar permanentemente uma atitude de vigilância no mundo. Por isso, parece ser “sintomático o fato que, neste domingo, querendo propor-nos um exemplo de laboriosidade (trabalho), de dedicação, de empenho, a liturgia tenha escolhido um texto que nos apresenta a mulher” com suas qualidades ( in Celebrando a Palavra. Ano A. , AM. p.385).



Paulo, grande amigo da comunidade cristã de Tessalônica, tendo tomado conhecimento das suas inquietações em relação ao dia da vinda do Senhor, afirma não ter outra orientação, senão a que foi dada pelo senhor no Evangelho. O dia e a hora ninguém sabe, virá como o ladrão no meio da noite. É por isso que é necessária a atitude da vigilância. Mas, para animar os discípulos de Jesus, Paulo os tranquiliza, lembrando-lhes a condição em que se encontram a partir do batismo, ao fazer a distinção que há entre luz e trevas. O dia que é iluminado pela luz do sol (Cristo, o sol nascente que nos veio visitar), é símbolo da verdade, da clareza, da segurança. Sua luz,  refletida na criação e no coração dos homens e mulheres, permite-nos ter a nossa consciência iluminada pela verdade diante das escolhas e opções que fazemos. Ao passo que, a noite, opondo-se ao dia, ela é símbolo da morte e dos perigos. Ela rouba ao homem a capacidade de enxergar por si só, por isso, ele, com facilidade, mergulha no mundo do prazer e da vida fácil. Totalmente desorientado e seduzido pelo mundo e sua concupiscência, ele pensa ter encontrado a paz e a segurança. Mas não! É aí que soa o grito de dor semelhante ao da mulher que está em trabalho de parto. Uma vida que estava escondida e que foi preservada pelos cuidados e zelo da sua mãe (vigilância) precisa deixar o ventre, isto é, um mundo protegido e sair para enfrentar um mundo desconhecido com muitos riscos e perigos. O cristão vive uma grande tensão no mundo. Mas ele deve lembrar-se sempre da sua nova condição: “Todos vós sóis filhos da luz e filhos do dia!”. Sua vida no mundo deve ser marcada por um grande empenho na construção de um mundo mais justo, humano e fraterno. É aqui que ele é chamado a colaborar na construção do reino de Deus. Do rosto de cada cristão, deve irradiar a luz de Cristo como um farol seguro que, aponta aos homens e as mulheres do nosso tempo, o porto seguro, Cristo. Sua vinda para nós será o momento do nosso desembarque no porto seguro da vida. A leitura nos indica o modo como devemos nos comportar neste mundo enquanto esperamos o Senhor: “numa vigilância consciente e operosa, marcada pela sobriedade no sono, nas escolhas e decisões” (in Vida Pastoral, Nov/Dez. 2012).

Para nos ensinar que a vigilância é vivida no tempo da Igreja, isto é, no tempo desde a ascensão de Jesus ao céu e seu retorno no final dos tempos, o evangelista São Matheus nos oferece a parábola dos talentos que um homem distribui entre seus servos, antes de viajar para o estrangeiro. Na verdade, ele distribui os seus “bens”. Toda a sua riqueza foi distribuída entre seus servos. A essa riqueza ou bens, ele dá o nome de talentos. O patrimônio do homem está avaliado em oito talentos, pois ele dá cinco talentos ao primeiro, dois ao segundo e um ao terceiro. Um talento correspondia a 34 kg de ouro puro ou a vinte anos de trabalho de um operário. A distribuição considera o critério da “capacidade” de cada um e não o das qualidades pessoais, o que levaria a distorção da mensagem evangélica. Feita a distribuição, tem início a grande viagem. Considerando que o homem é Jesus Cristo e que a soma da sua fortuna corresponde a oito (8) talentos entregue aos seus servos, o dia da viagem é o dia da Páscoa. Nesse dia, Jesus confiou a sua Igreja, que recolhe em seu seio servos e servas, o tesouro do Evangelho, para que esse mesmo tesouro fosse dado aos outros. Foi no dia da sua Páscoa que ele soprou sobre seus apóstolos e encheu-os do dom do seu Espírito, enviando-os em seguida, pelo mundo afora, com a missão de percorrer o mundo inteiro, levando o tesouro do Evangelho aos povos e nações da terra. O evangelho é o primeiro tesouro, seguido de outros como a Eucaristia, batismo, perdão e reconciliação e os outros sacramentos. A aplicação e distribuição desses “bens”, proporcionam curas, restauram vidas, libertam o coração da cegueira e das trevas, promovem uma ordem justa e fraterna. Com a viagem, vemos logo os dois primeiros servos aplicados em fazer render os talentos. O lucro é o dobro que receberam. Mas o lucro maior, está por vir, quando se apresentarem diante do Senhor: “Como fostes fiel na administração de tão pouco...Vem participar da minha alegria!”. Agora, a nossa atenção se volta para o homem que enterrou seu talento. Podemos até querer encontrar uma razão para justificar seu receio, como ele mesmo fez. Mas, antes, lembremos que ele não é um coitado, um incapacitado. Também ele recebeu de acordo com a capacidade que tinha para investir. Mas o medo lhe paralisou. Por isso, diz ele ao seu patrão: “escondi o teu talento no chão”. O Senhor semeou no seu coração. Mas ele se deixou vencer pelo medo e preocupações consigo mesmo. Não pensou na comunidade (banco) com suas necessidades. Não quis se comprometer nem participar do processo de construção de uma comunidade nova. Foi um egoísta ao extremo. Por isso, o que pode receber senão colher as consequências do seu amor próprio: “Quanto a este servo inútil, jogai-o lá fora, na escuridão. Ali haverá choro e ranger de dentes!”.

A parábola questiona a falsa segurança de um sistema religioso legalista fechado em si, sem abertura aos outros aos quais consideram pagãos e pecadores, simbolicamente representado pelo homem que enterrou seu talento. Portanto, o personagem que enterrou o talento

por medo do seu senhor representa as pessoas

que permanecem na “segurança” do sistema em

que se encontravam antes de sua adesão à fé

cristã. Representa todas as que estão acomodadas

em seu “ninho”, preocupadas apenas com

o seu bem-estar e indiferentes ao sofrimento

alheio. A comunidade toda é chamada a fazer

render os talentos, isto é, agir de modo criativo,

promovendo relações de justiça e fraternidade.

Esse é o jeito certo de se preparar para a volta

do Senhor. A parábola não é para ser interpretada na ótica capitalista, pois ela não tem a intenção de legitimar a produção econômica em vista do acúmulo de bens nas mãos dos espertos, mas, antes, corrigir as atitudes egoístas e encorajar a prática do amor e da justiça (in Vida pastoral Nov/Dez 2011).

São Bento ensina no capitulo 57 da sua regra como o monge pode dar a sua contribuição para a construção dessa comunidade justa e fraterna quando analisa a produção dos artistas que residem no mosteiro. O produto de seu trabalho seja vendido por um preço mais barato, evitando-se assim, o mal da avareza que gera uma comunidade de explorados e excluídos. O talento de cada um é uma arte a ser colocada a serviço da construção do Reino de Deus.


domingo, 6 de novembro de 2011

“A Santidade é a vocação da Igreja”

Solenidade de todos os Santos

05/11/2011

“A Santidade é a vocação da Igreja”


Queridos irmãos e irmãs, celebramos neste domingo, a solenidade de todos os santos e santas, homens, mulheres, crianças, jovens e adolescentes, que ao longo da história da Igreja, deram seu testemunho de amor apaixonado por Jesus Cristo e o Reino de Deus.



A verdade acerca da santidade é que ela não é um apêndice na vida da Igreja, reservada a poucos privilegiados, mas constitui sua própria vocação e missão. O beato João Paulo II na carta Novo Melenio Ineunte, afirmava: “o horizonte para o qual deve tender todo o caminho pastoral é a santidade”. E reafirmava que após as celebrações do grande jubileu, voltando à vida ordinária, o trabalho da Igreja continua ser: “apontar a santidade permanece de forma mais evidente uma urgência da pastoral”. Sim, meus irmãos, sem santidade a missão não se desenvolve e não irradia a alegria de quem encontrou Jesus Cristo. Por outro lado, uma pastoral que não leve em conta esse programa, corre o risco de ser mais um trabalho de caráter social, a ser desenvolvido por uma agência de propaganda que tem muitos voluntários. Mas a Igreja não é uma agência de propagada. Ela é sacramento de salvação. Casa e escola da comunhão (DA). Por essa razão, o DA desenvolve no cap. IV o tema: “A vocação dos discípulos missionários à Santidade” e afirma no N. 129 – “Deus Pai sai de si para nos chamar a participar de sua vida e de sua glória”. Por isso, Ele, “que é Santo e nos ama, nos chama por meio de Jesus Cristo a sermos santos (Ef 1,4-5)”. Essa é a grande verdade. Após a queda no paraíso, Deus não nos abandonou. Seus passos, ouvidos no jardim do Éden, caminha na direção dos nossos pais, produzindo em seus corações, medo de Deus. Mas na encarnação, ele se aproxima de nós e nos chama em Jesus Cristo a participar da sua vida e glória, isto é, da sua santidade. A consequente perda da nossa semelhança com Deus em razão da desobediência traz consigo a dessemelhança, tema que foi desenvolvido por alguns de nossos autores cistercienses. Mas, em Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, o Pai nos restitui o dom da semelhança com ele e mais ainda, chama-nos a participar da sua vida e felicidade.



As leituras bíblicas desta solenidade nos oferecem o programa a ser desenvolvido pela Igreja, casa e escola da comunhão, tendo em vista, alcançarmos a santidade como meta do nosso discipulado.

A 1ª leitura (Ap 7,2-4.9-14), se situa no contexto das visões proféticas. O texto está cheio de uma linguagem simbólica, bem ao estilo apocalíptico. Primeiramente encontramos um anjo que sobe do lugar de onde nasce o sol, o oriente. É do Oriente que brilhou para o mundo, a estrela que anunciou a chegada do salvador em nossa humanidade. O anjo traz consigo a marca do Deus vivo, as chagas redentoras. Esse anjo é Cristo. Sua missão é marcar na fronte os servos de Deus, antes que a terra e o mar, lugares onde se travam a luta pela vida, sejam atingidos pela justiça de Deus que não deixe sem punição, os que matam e perseguem as testemunhas do Cordeiro. Descrevendo o número dos assinalados, percebemos que o quadrado de 12 (número sagrado e ao mesmo tempo simbólico, pois ele corresponde as 12 tribos de Israel), dividido por mil, chega-se a soma de 144 mil, isto é, a multidão dos fiéis de Cristo, povo de Deus, novo Israel. Eis que agora surge a imensa multidão dos que saíram vitoriosos do confronto com o mundo e suas forças hostis a Deus e ao testemunho de Jesus. Essa multidão está de pé, diante do trono e do cordeiro, rodeada pelos anjos, os vinte e quatro anciãos que aqui exercem uma função sacerdotal e real: louvam e adoram a Deus, oferecendo-lhe as orações dos santos. Em sua presença, vestidos de branco e com palmas nas mãos, a multidão dos redimidos, entoa o Hino da vitória do cordeiro, proclamando com voz forte: “A salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono e ao cordeiro”, e como doxologia desse canto de salvação, adoram a Deus dizendo: “Amém. O louvor, a ação de graças, a honra, o poder e a força, pertence ao nosso Deus para sempre. Amém”. Nesse canto, ressoa aquele que no passado foi entoado por Moisés, após a travessia do mar vermelho – “Ao Senhor quero cantar, pois fez brilhar a sua glória (Ex 15,1). Neste mundo, “vale de lágrimas” como cantamos na Salve Rainha, os cristãos, peregrinos que somos e povo a caminho da casa de Deus, queremos fazer nosso esse mesmo canto. Com o canto do salmo, tornamos atual esse canto que reconhece a geração dos santos quando canta: “É assim a geração dos que procuram o Senhor e do Deus de Israel buscam a face” (Sl 23/24,1.2-3.4ab.5-6). A geração dos santos e santas desse início de milênio é chamada a continuar  a ter  “mãos puras”, isto é, abertas ao dom do serviço, da justiça e da paz; a ter “inocente coração”, lugar onde se cultiva o amor e de onde se esparrama como óleo da alegria para aliviar a dor e o sofrimento da humanidade. Os santos e santas de hoje, são também chamados a manifestar a ternura do divino samaritano, sendo bálsamo de Cristo que cura, reconforta e reanima os doentes e sem esperança;  eles “não dirigem sua mente para o crime”, mas cultivam a sabedoria e a testemunham como sinal profético de esperança num mundo que ver a cada dia crescer a criminalidade e seu poder de morte. Os santos de hoje, devem empunhar a arma do amor e da não violência, como o único meio de combate as estruturas geradoras de morte.



São Bento retoma a passagem desse salmo no prólogo da sua regra (RB Prólogo, v. 21), para indicar como devemos cumprir com nossa obrigação de moradores na casa de Deus, o mosteiro, o planeta. Isso vale também, para o nosso mundo, que deveria ser visto como antecipação da grande casa de Deus, pois Deus mora conosco, armou sua tenda entre nós. Nossa condição de moradores nessa casa exige de nós, ter os “rins cingidos” e “guiados pelo Evangelho” (v. 21), caminhar sem mancha, realizando a justiça, falando a verdade no coração, sem dolo na língua, não fazendo mal ao próximo e não acolhendo a injustiça contra o próximo. Os santos foram pessoas como nós. Santificaram-se vivendo o ordinário de suas vidas com alegria e confiança em Deus. Viveram no mundo sem ser do mundo, como se já estivessem vivendo na casa de Deus, o céu. Passaram o céu na terra fazendo o bem, como ensina santa Teresinha do Menino Jesus. São Bento critica o monge que se apresenta como santo antes de o ser (RB 4,62), mas crer que ele pode chegar a realizar com os seus irmãos, essa vocação da Igreja, através da prática das boas obras (RB 4), pois o fundamento de uma vida santa é o amor a Deus e aos irmãos. Por isso mesmo, a Igreja não pode delegar o serviço da caridade ao poder do estado, mas deve ela tornar sempre atual a caridade de Jesus no cuidado aos pobres, doentes e encarcerados, órfãos e viúvas, bem como todos os marginalizados para, na caridade, viver sua vocação a santidade.



Nossos irmãos, os santos e santas, descobriram o amor de Deus como um presente e só pode ser chamado filho de Deus quem vive o mandamento de Jesus. Essa descoberta os animou a viverem sua vocação filial no serviço abnegado, ao ponto de serem visto como estranhos por uns e, ignorados por outros. Assumiram ficar no lugar dos que não eram reconhecidos, a falar por eles, a tirar suas vestes para cobri-los e seus calçados para calça-los. É comovente o pedido que a beata irmã Dulce faz a sua madre geral: “Estou precisando de sapatos e de camisas. O hábito e o escapulário eu ainda tenho”.



Amados irmãos e amadas irmãs, Jesus nos é apresentado pelo evangelista Matheus, sentado no monte. Ele é o novo Moisés. O monte é a sua cátedra, lugar de onde ensina a multidão e os discípulos. Na montanha, Moisés recebeu de Deus os mandamentos, isto é, a lei. Agora, Jesus, entrega aos discípulos não uma lei, mas um programa de vida evangélica. A execução desse programa concretizará a realização do reino de Deus. No início desse mesmo programa, Jesus proclama “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus”. Os pobres de espirito são os que deixam de lado suas necessidades para assumir as dos seus irmãos. Por isso não são apegados a nada. Eles se tornam tudo para todos e com disponibilidade, caminham ao encontro dos irmãos para servi-los em sua dor e sofrimento. Nada possuem, nem mesmo a própria vida, porque descobriram que ela é dom que deve ser colocado a serviço dos irmãos e da construção do Reino de Deus. Esses pobres de espírito se tornam servidores da justiça do Reino e por causa dessa sua vocação, são perseguidos, rejeitados e mortos. Mas essa primeira bem-aventurança encontra seu complemento na 8ª bem-aventurança – “Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus”. As duas primeiras bem-aventuranças desenvolvem o tema da mística do serviço como amor, ao passo que as outras sete (7), estão estruturadas na forma como elas se concretizam no cotidiano da vida do discípulo missionário. Os irmãos e irmãos que hoje celebramos como santos e santas, fizeram dessa página evangélica, a carta magna, ou melhor, a constituição de sua vocação a santidade. Como eles deram testemunho corajoso de Jesus, também hoje, o nosso testemunho deve ser dado a partir da vivência desse mesmo programa, que formou uma multidão imensa de discípulos, santos e santas. Assim seja!