segunda-feira, 23 de abril de 2012

A obra de Deus é crer no seu Filho


 2a feira da III semana da Páscoa

Leitura dos Atos dos Apóstolos.

Naqueles dias, 8Estêvão, cheio de graça e poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo. 9Mas alguns membros da chamada Sinagoga de Libertos, junto com cirenenses e alexandrinos, e alguns da Cilícia e da Ásia, começaram a discutir com Estêvão.
10Porém, não conseguiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que ele falava. 11Então subornaram alguns indivíduos, que disseram: “Ouvimos este homem dizendo blasfêmias contra Moisés e contra Deus”. 12Desse modo, incitaram o povo, os anciãos e os doutores da Lei, que prenderam Estêvão e o conduziram ao Sinédrio.
13Aí apresentaram falsas testemunhas, que diziam: “Este homem não cessa de falar contra este lugar santo e contra a Lei. 14E nós o ouvimos afirmar que Jesus Nazareno ia destruir este lugar e ia mudar os costumes que Moisés nos transmitiu”.
15Todos os que estavam sentados no Sinédrio tinham os olhos fixos sobre Estêvão, e viram seu rosto como o rosto de um anjo.

- Palavra do Senhor.
- Graças a Deus.



— Feliz é quem na lei do Senhor Deus vai progredindo.
— Feliz é quem na lei do Senhor Deus vai progredindo.

— Que os poderosos reunidos me condenem; o que me importa é o vosso julgamento! Minha alegria é a vossa Aliança, meus conselheiros são os vossos mandamentos.
— Eu vos narrei a minha sorte e me atendestes, ensinai-me, ó Senhor, vossa vontade! Fazei-me conhecer vossos caminhos, e então meditarei vossos prodígios!
— Afastai-me do caminho da mentira e dai-me a vossa lei como um presente! Escolhi seguir a trilha da verdade, diante de mim eu coloquei vossos preceitos.



— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo João.
— Glória a vós, Senhor.

Depois que Jesus saciara os cinco mil homens, seus discípulos o viram andando sobre o mar. 22No dia seguinte, a multidão que tinha ficado do outro lado do mar constatou que havia só uma barca e que Jesus não tinha subido para ela com os discípulos, mas que eles tinham partido sozinhos.
23Entretanto, tinham chegado outras barcas de Tiberíades, perto do lugar onde tinham comido o pão depois de o Senhor ter dado graças. 24Quando a multidão viu que Jesus não estava ali, nem os seus discípulos, subiram às barcas e foram à procura de Jesus, em Cafarnaum.
25Quando o encontraram no outro lado do mar, perguntaram-lhe: “Rabi, quando chegaste aqui?” 26Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade, eu vos digo: estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos. 27Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do homem vos dará. Pois este é quem o Pai marcou com seu selo”. 28Então perguntaram: “Que devemos fazer para realizar as obras de Deus?” 29Jesus respondeu: “A obra de Deus é que acrediteis naquele que ele enviou”.

- Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.

Homilia do Padre Basílio na Missa Conventual da 2ª feira da III Semana da Páscoa




Depois da multiplicação dos pães, o povo procura Jesus em Tiberíades, onde no dia anterior ele estava e organizado o povo para lhes dá no pão multiplicado o sinal da sua presença como alimento que dura para a vida eterna. Mas ele não se encontrava mais ali. Jesus afastou-se do meio da multidão que alimentara no dia anterior porque ela não foi capaz de creditar nele como um sinal de Deus, vendo-o apenas como um homem com poderes terrenos, que com facilidade, resolve o problema da falta de pão material e por isso querem proclamá-lo o seu rei. Jesus foge desse tipo de messianismo. Ele aceitará posteriormente ser chamado de “Rei”, quando estiver diante de Pilatos e uma vez suspenso da cruz, será “Rei” por que terá feito da sua vida uma entrega para a vida do mundo. Certamente que esse comportamento trouxe algum tipo de decepção a Jesus. Ali ele reconhece que o povo tem dificuldade em entender os sinais dados por Deus.

Mas longe da multidão e da sua concepção de um messianismo terreno, Jesus é monitorado pelos que o procuram no lugar onde estivera antes. Mas constatam que ali só se encontra uma barca, a que ele devia seguir para encontrar os discípulos. De fato, a barca que ficou para traz contém uma mensagem: remar ao seu encontro para compreender o mistério da sua vida e obras. Uma vez descoberta a sua exata localização em Cafarnaum, todos decidem ir até ele porque não estão dispostos a ficar longe de uma pessoa com talentos e poderes como os que Jesus tem mostrado.

Todavia, esse busca por Jesus, deve vista como um elemento chave para o início de um diálogo catequético mais profundo entre Jesus e o povo. Ao vê-lo lhe perguntam: “Rabi, quando chegaste aqui”? Ao que Jesus não lhes responde falando da difícil situação em que se encontravam os discípulos durante a travessia do lago na noite anterior, mas de maneira crítica responde-lhes: “Estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos”. Com essa palavras, ele os convida a olhar para o “dom” dado por Deus e confirmado com sua unção e assim, buscar o verdadeiro alimento: “Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará”. Como era de se supor, continuam não entendendo nada, porque permanecem apoiados na teologia do judaísmo, entendem ser preciso fazer certas obras para receber tal alimento. Para Jesus, recebe esse alimento quem realiza a Obra de Deus que, aliás, nem é uma obra propriamente dita, mas que num segundo momento, quando a pessoa está totalmente transformada por Cristo e seu amor, as suas opções pela vida, pelo serviço e pela prática da justiça se traduzem em obras. Essa obra é uma obra da fé que é crer em Jesus como o enviado pelo Pai, o pão que alimenta quem tem sede de Deus e do seu reino.

Aqui, crer como um ato de fé é testemunho de adesão à pessoa de Jesus, sua vida, palavras e obras. Realizam as obras de Deus as pessoas “nas quais se manifesta seu Espírito, que é espírito de justiça, de verdade, de amor e de paz. Tudo que contribua para instaurar no mundo, a verdade, o amor e a paz é obra de Deus e todos os que trabalham por isso, estão realizando a obra de Deus”.



Santo Estevão, protodiácono e protomártir da Igreja primitiva, testemunha a obra de Deus no serviço abnegado aos irmãos em suas necessidades cotidianas no seio da comunidade de Jerusalém. Porém, sua fé corajosa e firme na pessoa de Jesus ressuscitado que ele contempla junto de Deus, que o entusiasma na renovação da sua opção por ele. Assim, aceita e assume passar pelo mesmo caminho por onde antes havia passado Jesus, o caminho da humilhação, rejeição e morte. Esse é o caminho que introduz o discípulo na vida eterna alcançada por sua morte e ressurreição.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

“Deus olhou para o meu coração” (1 Sm 16,7b).

15 anos de Ordenação Presbiteral – 19/01/1997 – 19/01/2012

Homilia



( Foto tirada por Jéssica Camargo, após a celebração, enquanto eu segurava a Manuela, a sua linda filha)


“Deus olhou para o meu coração” (1 Sm 16,7b).

Essa passagem da Sagrada escritura, define bem o que estou celebrando hoje, rodeado pelos amigos, que são também meus irmãos. Quinze anos se completa hoje, desde o dia, em que recebi, aqui, nesta Igreja, diante deste altar, o sacerdócio ministerial. Foi um dia de muita alegria e grata satisfação pela resposta que estava dando a Deus pelo chamado que ele fez em minha vida. Tal resposta só foi possível porque tive uma boa educação cristã, pois desde cedo, fui educado na fé pelos meus pais. A minha família, foi a minha primeira escola de catequese. Foi nela que aprendi a rezar as primeiras orações do cristão e a conhecer o catecismo da doutrina cristã. Foi nessa mesma escola que descobri que, Jesus, deu a sua vida por nós ao morrer numa cruz, quando um dia eu lia as estações da via-sacra, digo lia, porque não estava rezando, uma vez que era o meu primeiro contato com a realidade da doação do Senhor. Lembro-me que era noite. Essa mesma cruz, na qual o Senhor foi crucificado, eu a contemplei na sacristia, antes de começar a cerimônia da ordenação, naquele passado dia 19 de janeiro de 1997. Foi depois substituída por outra. Mas eu a pedi a D. Estevam e a conservo comigo até hoje. Naquela ocasião, tinha muitos medos, inclusive, o de me apresentar em público. Diante do que ia assumir só me restava olhar para a cruz e me entregar. Quando D. Alano me chamou para uma breve conversa, antes de tudo começar, ainda na hospedaria, me pediu para confiar na graça e não temer por causa das fraquezas que todos carregamos. Foi aí que lhe pedi que no momento da imposição das suas mãos, ele invocasse ao Espírito Santo para que me curasse desse medo e de outros. Quando suas mãos de Bispo, pastor, sucessor dos Apóstolos tocaram a minha cabeça, que anda tinha cabelos, senti ser acesa a chama do dom de Deus. Aquilo me trouxe alívio, renovou a minha esperança. Naquele período, já circulavam notícias tristes sobre alguns sacerdotes e, o ser padre, parecia passar uma ideia pejorativa, já que, havia outras opções menos arriscadas do ponto de vista do cuidado com a própria imagem. Há uma tendência natural em não correr risco, em não manchar o nome, a cara, a honra. Eu senti tudo isso naquele momento. Por isso, olhei para a cruz e me entreguei àquele que manifestou por mim todo o amor do Pai e, assim, juntos, comecei a fazer com Ele, o caminho da aventura onde a cruz também está edificada. Abracei o sacerdócio com o desejo de ser testemunha da esperança. Ainda não conhecia o testemunho dado pelo grande bispo vietnamita Francois X. N. Van Thuan. O verde, cor litúrgica da missa do 2º Domingo do Tempo comum do ano B, dia em que fui ordenado, significava para mim o testemunho de esperança que devia dar como padre. Mas não era claro para mim como esse testemunho se daria. A cruz que esteve tão presente na minha vida desde aquele dia, é a chave que me abre a porta a compreensão desse mistério. O meu testemunho de esperança se daria pela cruz da humilhação e da vergonha. É desse altar que devo testemunhar a esperança e, permanecer com os “olhos fixos em Jesus”, pois sei, ele continua “olhando bem” ( Jo 1,42) para mim e para cada um de nós. Esse é o caminho que tenho percorrido ao longo desses 15 anos de presbítero. Os outros por onde andarei ainda, desconheço, mas, hoje, como há 15 anos, “coloco minhas mãos por entre as dele” para que Ele me conduza e me sustente pela estrada que “devo andar ainda” (canto que ouviremos no final da celebração). Posso dizer ainda que, o mosteiro de Itaporanga, foi a minha 2ª escola de maturidade na fé e na vocação monástica e sacerdotal. Essa comunidade que me acolheu com “misericórdia” e me deu tudo o que eu não teria recebido em nenhum outro lugar, seja em relação a mim, no que diz respeito a minha formação, seja em relação a minha família, quando a dor da perda também me feriu, foi aqui que fui acolhido, amparado e sustentado pela solidariedade de todos, não só de orações, mas também material. O mosteiro que me acolheu me educou e me apresentou a Igreja, na pessoa do grande e saudoso abade D. Estevam Stork, exerceu para comigo o mesmo papel do sacerdote Heli em relação ao menino Samuel. Toda a comunidade foi meu mestre no caminho do discernimento. Nas horas difíceis, sempre pude receber dos irmãos uma “palavra boa” que me estimulava a continuar no caminho da aventura que comecei a fazer aos 17 anos de idade. Daqui a três anos, celebrarei meu jubileu de prata de profissão monástica nesta comunidade. Aqui, encontrei uma comunidade madura, mas ao mesmo tempo, muito exigente em relação aos formandos. Hoje só posso dizer que tudo foi “muito bom”, uma vez que as exigências feitas me ensinaram o caminho da renúncia ao meu modo de ver as coisas e as pessoas, mas ao mesmo tempo, me ensinaram que eu devia ser cada vez mais eu mesmo e assim assumir minha identidade como pessoa, monge e presbítero. Foi aqui que aprendi como devia responder ao chamado de Deus na minha vida e tendo retornado há seis meses, depois de 12 anos e três meses exercendo o ministério pastoral em Riversul, passando em seguida por Jequitibá, lá na bahia, onde aprendi a amar e a acolher os baianos de lá e que também estão muito presentes no meu coração, aqui estou de novo, no meio de vocês e com vocês, para renovar a minha resposta ao senhor: “Fala, que teu servo escuta!” (1 Sm 3,10). O texto bíblico diz que, após essa resposta, Samuel “crescia, e o senhor estava com ele” (1 Sm 3, 19). Com essa celebração de ação de graças, quis agradecer de novo a Deus, na companhia dos amigos, como o faço desde o 5º ano, preparando-me assim, de cinco em cinco anos, para o meu jubileu de prata sacerdotal.

É verdade que os 15 anos que celebro hoje, me faz compreender o sentido da infância espiritual de santa Teresinha, isto é, fazer com muito amor, os pequenos serviços em casa e fora, quando necessários.

 Hoje, começo a entrar na juventude sacerdotal e quero vivê-la com o entusiasmo de sempre. O entusiasmo com o qual administrei os mistérios de Deus.



A 2ª leitura tirada da 1ª carta de Paulo aos Coríntios 4,1-5, em substituição a que é própria do 2º Domingo do tempo comum, que escutamos domingo passado, dá o arremate ao modo como procurei me comportar na qualidade de presbítero. O 1º versículo foi o que escolhi para ser o meu lema sacerdotal: “Servidor de Cristo e administrador dos mistérios de Deus”. Na administração dos sacramentos sempre tive a consciência de ser apenas o administrador, não por merecimento meu, mas por pura bondade de “Deus” que é “rico em misericórdia”, ou seja, instrumento do Senhor. A oração depois da ladainha na missa da vigília pascal, rezada por mim ao longo de 12 páscoas em Riversul, fortalecia em mim essa consciência – a oração reza assim: “Ó Deus de bondade, manifestai o vosso poder nos sacramentos que revelam vosso amor. Enviai o espírito de adoção para criar um novo povo, nascido nas águas do batismo. E assim possamos ser em nossa fraqueza instrumentos do vosso poder”. Como administrador desses mistérios e dos bens da comunidade, busquei ser fiel. Mas eu não posso me julgar justo. Em mim há falhas, defeitos e pecados. Quem me julga é o Senhor. Por esses dias, rezando com atenção os salmos das horas menores, descobri palavras de conforto diante do que acabo de dizer: “De vossos julgamentos não me afasto, porque vós mesmos me ensinastes vossas leis” e “Vossa palavra é para mim a esperança (Sl 118/119,102.114 – Noa 4ª feira da II semana). Por isso, não me importa ser julgado por alguns.



Passados 15 anos desde que, ouvi com muita consciência o anúncio profético de João Batista aos dois discípulos que estavam com ele, como que dirigido também a mim – “e, vendo Jesus passar, disse: Eis o Cordeiro de Deus!”, desde então, me fascina essa passagem do Evangelho de São João que escutamos há pouco. Quando o diácono proclamava esse evangelho na tarde daquele domingo, aqui nesta mesma Igreja, era como se eu estivesse vivendo tudo aquilo. Era como se estivesse sem fazer a travessia do rio Jordão, o que faria ajudado pelo abade D. Estevam e os irmãos. Após a proclamação do Evangelho, fui chamado a fazer a travessia entre o arco central, até chegar ao presbitério. Ali, ou melhor, aqui onde estou hoje, também perguntei no coração: “Mestre onde moras?” e ele me respondeu: “Queres, pois, desempenhar sempre a missão de sacerdote no grau de presbítero, como fiel colaborador da ordem Episcopal, apascentando o rebanho do Senhor, sob a direção do Espírito Santo”? Quero, respondi. Esse ato livre da minha vontade tem me levado a ir ver onde mora o Senhor. Ele mora no coração do Pai e no coração da nossa humanidade. Há quinze anos vivo no cenáculo do coração de Jesus e Ele, por sua vez, me coloca no coração do Pai e, desse modo, obedecendo a sua ordem: “Fazei isso em memória de mim”, juntos, entramos em comunhão com Ele e com o Pai na unidade do Espírito Santo, em cada Eucaristia que celebramos. Há 15 anos também proclamo: “Eis o Cordeiro de Deus” e “elevo cada dia o Cálice da Salvação”. Tenho celebrado o santíssimo sacramento da eucaristia, mesmo quando estou sozinho. Foram poucas às vezes em que fiquei sem o celebrar, como também, nunca deixei de realizar toda a oração da liturgia das horas como assumir naquele dia. A eucaristia diária é para mim fonte de vida e inspiração. É aqui que entra o meu “permanecer com ele”. O evangelho afirma que os dois ao convite de Jesus, “vinde ver”, “foram ver onde ele morava e, nesse dia, permaneceram com ele”. É na eucaristia diária que está a nossa comunhão vital com o Senhor. A eucaristia sustenta a nossa vida e missão de sacerdotes. Por isso, o nosso testemunho de adoração eucarística, ainda que por breve tempo, junto do povo, deve ser uma luz a iluminar o coração de todos e em todos, despertar o mesmo desejo de adoração. Nunca me esquecerei da criança que um dia estava comigo ajoelhada diante do santíssimo antes de começar a missa, como sempre costumava fazer. Ela queria adorar o senhor como eu. Tinha assumido até mesmo a minha postura.

Diante deste altar, fiz, há quinze anos, a maior e mais rica experiência do amor de Deus. Nunca esquecerei esse dia. Parecia que meu espírito tinha saído de dentro de mim para ser ocupado pelo Espírito de amor do Senhor. Senti a comunhão solidária dos santos invocados desde o momento da ladainha e parecia estar sendo visto, da porta do coro superior, pelo olhar de Deus. Tudo, naquele dia respirava santidade. A santidade de Deus enchia a minha alma e esse espaço.



O tempo passa muito rápido e, muita coisa, cai no esquecimento. Mas o tempo como Kairós, graça, esse permanece vivo e atual no coração. Por isso, não me assusta o fato de estar me consumindo nesse serviço e mesmo se “passo à noite a gemer até a aurora”, e isso aconteceu inúmeras vezes (Ct Isaías 38,13), “elevarei as minhas mãos para louvar-vos e, com prazer meditarei vossa vontade” (Sl 118/119.48). Hoje, assumo novamente, testemunhar a esperança, porque, ela se apoia no amor fiel de Deus.



Queridos irmãos, aceitem essa minha reflexão não como, um discurso bem articulado de ideias, uma vez que ele sai de uma pessoa que vocês o conhecem bem, mas vejam nele, o meu louvor, a minha gratidão a Deus pelo que ele fez e faz na minha vida. Eu creio no que disse e quero contar com as orações de cada um para “não deixar cair por terra nenhuma palavra de Deus” (1 Sm 3,19). A ele agradeço também por ter me dado cada um de vocês, pois foi com vocês e por vocês que aprendo a crescer na fé, na esperança e na caridade.

Bendito seja o Senhor Deus!

Bendito seja o seu nome glorioso!

Bendito seja eternamente! Amém, amém!

Obrigado!!!


Pe. Basílio J. Ilton Alves, O. Cist

sábado, 7 de janeiro de 2012

“Apareceu à bondade do Senhor”

Epifania do Senhor 08 de Janeiro 2012



“Apareceu à bondade do Senhor”



Liturgia:



Isaías 60,1-6



Salmo 71 (72),1-2.7-8.10-11.12-13

“As nações de toda a terra hão de adorar-vos ó Senhor”.



2a Leitura Efésios 3,2-3a.5-6



Evangelho de Mateus 2,1-12





      Caríssimos irmãos e irmãs em Cristo, celebramos hoje, na liturgia, a epifania do Senhor, isto é, a sua manifestação ou revelação como luz entre as trevas. Deus revela hoje a imensa bondade do seu amor à humanidade toda, simbolicamente representada pelos magos do Oriente. O amor de Deus revelado primeiramente aos pobres pastores vai se dilatando até alcançar o coração de todos os povos.



      Isso é motivo para ficar alegre e feliz. Por isso o profeta Isaías convida Jerusalém a levantar-se e acender suas luzes, para em seu seio, acolher o Senhor que é a sua luz. O Senhor será o centro da aliança e a luz das nações (Is 42,6) na cidade santa, que caminhava cambaleando entre os escombros após ser destruída pelos invasores estrangeiros. Nesse contexto, a cidade é comparada a uma mãe que chora ao ver seus filhos e filhas deportados como escravos. Mas agora que brilhou sobre ela a luz do Senhor, não pode permanecer humilhada entre as ruínas, mas deve levantar-se por que seus filhos e filhas já se aproximam carregando também eles seus próprios filhos no colo. Eles vêem de longe, atraídos pelo amor do Senhor que salva o seu povo. Começa a festa do amor. Quanta alegria, quanta emoção. O coração de todos bate mais forte que de costume. Há aqui uma troca de dons. O Senhor oferece seu amor e a humanidade oferece os dons mais preciosos da terra como o ouro, o incenso e a mirra (1a leitura).



      O cumprimento dessa profecia dá-se por ocasião da visita dos magos a Jerusalém depois de iniciarem uma longa aventura na fé, até ter encontrado o objeto da sua procura em Belém. Na verdade, os magos, mestres em astrologia, descobriram numa estrela, o nascimento de uma nova historia. “Os magos seguiram uma estrela e descobriram o Deus da história” (Homilia do Papa Bento XVI na missa da Epifania, 2012). Nada tinham a sua disposição senão a ciência dos astros. Mas Deus quis se servir de seus conhecimentos, para revelar a todos a verdade do seu amor sem fronteiras, ao admitir os pagãos à mesma herança e associa-los a mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho (2a leitura). Deixando suas seguranças, eles põem-se a caminho da nova vida que os atrai de forma irresistível. Não há como ignorar o calor do amor que se revela como vida e esperança da humanidade. Entrando em Jerusalém se perdem um pouco, sobretudo porque a luz não aquece a casa de Herodes nem o coração de Jerusalém. Finalmente podem sair e continuar sua procura e eis que vêem de novo a estrela e sentem uma alegria muito grande. O amor do Senhor aquece novamente seus corações. É o calor vital que os anima a continuar olhando para o lugar de onde Deus os ver e chama. Que bela é esta cena do encontro dos magos com o Senhor. Ao pensar nela, meu coração se enche de uma grande comoção interior. “Quando entraram na casa, viram o menino com Maria sua mãe”. A vida está em casa. Diferentemente de Lucas, Jesus está em casa que aqui é símbolo da comunidade dos discípulos, chamada a acolher a todos e faze-los discípulos. Então eles lhe oferecem seus dons: Ouro, a sua realeza, o incenso a sua divindade e a mirra a sua humanidade já aludindo a sua paixão e morte. É no encontro com o Senhor que termina a aventura que iniciamos na fé.



      Pronto, o mistério escondido, foi agora revelado. Esse mistério é o amor de Deus por nós. Fomos atingidos por esse mistério que nos abriu o coração e a vida para sairmos do nosso individualismo e afirmar que Jesus veio para todos os povos em todos os tempos. Como discípulos missionários, somos chamados a ser epifania de Deus na Igreja, convocados pelo amor do Senhor “a fraternidade universal, ao diálogo ecumênico e ao anúncio da boa nova da salvação”.



Pe.Basílio J. Ilton Alves, O. Cist.

Monge Cisterciense.




01 de Janeiro 2012

– Oitava de Natal – Santa Maria Mãe de Deus – Dia mundial da Paz

“Preservar a criação é a condição para a Paz no mundo”.

Liturgia:
Número 6,22-27

Salmo 66 (67),2-3.5.6.8
Responso: Que Deus nos dê a sua graça e sua benção.

Gálatas 4,4-7

Aclamação ao Evangelho: Aleluia 3x - “De muitos modos, Deus outrora nos falou pelos profetas; nestes tempos derradeiros, nos falou pelo seu Filho”.

Evangelho de Lucas 2,16-21

      Queridos irmãos e queridas irmãs, celebramos hoje a solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus e o dia mundial da Paz proclamado pelo Papa Paulo VI. A presente celebração encontra-se dentro da oitava de natal. Também hoje se celebra o dia mundial da Paz e o primeiro dia do ano civil que é dedicado na liturgia a santa mãe de Deus, Maria, proclamada no concílio de Nicéia em 431. Ela é a “Teotókos”, isto é, a mãe de Deus e “é totalmente mãe porque esteve em total relação com Cristo; por isso, honrando-a, o Filho é mais glorificado” (Missal dominical p. 112). Todavia, as leituras bíblicas põem o acento no “filho de Maria” e no “nome do Senhor”.

      A primeira leitura nos apresenta a fórmula litúrgica com a qual o sacerdote despedia a assembléia litúrgica, ritmada pelo nome do Senhor que é repetido no início de cada uma das três invocações: “O senhor te abençoe..., O Senhor faça..., O Senhor volte...”. De fato, o “filho de Maria” e Filho de Deus, é ele a plenitude de toda a benção de Deus no céu e na terra. Nele, nascido de mulher, sujeito à lei, para remir os que eram por ela oprimidos e recebêssemos a filiação adotiva (2a leitura), amando a nossa humanidade, assumiu-a na mais completa solidariedade, sem, contudo perder a sua divindade, pois, “aquilo que não é assumido, não pode ser redimido”. 

      O hino da carta de Paulo aos Efésios canta em forma de ação de graças o plano divino da salvação assumido até as últimas conseqüências pelo Senhor: “Bendito e louvado seja Deus, o Pai de Jesus Cristo, Senhor nosso, que em Cristo abençoou-nos do alto céu com benção espiritual de toda sorte!” (LH. p. 959). Desse modo, o significado etimológico do “nome Jesus”, nos introduz no mistério de Cristo.

      Queridos irmãos, o canto solene da Paz entoado pelos anjos ao anunciar aos pastores: “Eu vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo...” (Lc 2,10), “Gloria a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados” (idem v. 14), esse canto novo continua ecoando através da Igreja. Em todos os lugares do mundo se faz ouvir nesse dia o mesmo desejo de paz. Vale lembrar que a paz da qual falamos, não é uma idéia, uma utopia, mas uma pessoa real, viva. “Cristo é a nossa paz” (Ef. 2,14), ou como afirmou o Papa são Leão Magno (Séc. V), “É a paz que gera os filhos de Deus e alimenta o amor; ela é a mãe da unidade, o repouso dos bem-aventurados e a morada da eternidade; sua função própria e seu benefício especial são unir a Deus os que ela separa do mundo”.

      De fato, a paz é dom, é salvação trazida por Jesus, é a nossa reconciliação com Deus e a humanidade, mas também é valor humano a ser realizado por todos os homens e mulheres de boa vontade.

       O santo Padre o Papa Bento XVI na mensagem para o dia de hoje, aborda o tema da paz mundial, relacionando-o com a preservação da criação - “Se quiseres cultivar a Paz, preserva a criação”, afirmando logo de início: “O respeito pela criação reveste-se de grande importância... porque a criação é o principio e o fundamento de todas as obras de Deus e a sua salvaguarda torna-se hoje essencial para a convivência pacifica da humanidade” e acrescenta: “é indispensável que a humanidade renove e reforce 'aquela aliança entre ser humano e ambiente' que deve ser espelho do amor criador de Deus, de quem provimos e para quem estamos a caminho” (n.1) e constata: “A paz mundial está ameaçada também pela falta do respeito devido à natureza” (n.3).

      Os Pastores, cheios de alegria, correm ao encontro da Paz que sonhavam e onde a encontram? Em Belém, deitado na manjedoura. Nada de extraordinário, mas simplicidade, humildade, escondimento, pequenez. A eles que viviam na mais profunda solidão e abandono, Deus revelou os sinais da sua presença na ternura de uma criança. É nessa criança que Deus quer ser abraçado e abraçar a humanidade. Ele é a Salvação de Deus. O seu nome, Jesus, recebido por ocasião do rito judaico da circuncisão, encerra o sentido da sua missão.

Pe. Basílio J. Ilton Alves, O. Cist.
Monge Cisterciense


Epifania do Senhor 03 de Janeiro 2010

“Apareceu à bondade do Senhor”

Liturgia:

Isaías 60,1-6

Salmo 71 (72),1-2.7-8.10-11.12-13
“As nações de toda a terra hão de adorar-vos ó Senhor”.

2a Leitura Efésios 3,2-3a.5-6

Evangelho de Mateus 2,1-12


      Caríssimos irmãos e irmãs em Cristo, celebramos hoje, na liturgia, a epifania do Senhor, isto é, a sua manifestação ou revelação como luz entre as trevas. Deus revela hoje a imensa bondade do seu amor à humanidade toda, simbolicamente representada pelos magos do Oriente. O amor de Deus revelado primeiramente aos pobres pastores vai se dilatando até alcançar o coração de todos os povos.

      Isso é motivo para ficar alegre e feliz. Por isso o profeta Isaías convida Jerusalém a levantar-se e acender suas luzes, para em seu seio, acolher o Senhor que é a sua luz. O Senhor será o centro da aliança e a luz das nações (Is 42,6) na cidade santa, que caminhava cambaleando entre os escombros após ser destruída pelos invasores estrangeiros. Nesse contexto, a cidade é comparada a uma mãe que chora ao ver seus filhos e filhas deportados como escravos. Mas agora que brilhou sobre ela a luz do Senhor, não pode permanecer humilhada entre as ruínas, mas deve levantar-se por que seus filhos e filhas já se aproximam carregando também eles seus próprios filhos no colo. Eles vêem de longe, atraídos pelo amor do Senhor que salva o seu povo. Começa a festa do amor. Quanta alegria, quanta emoção. O coração de todos bate mais forte que de costume. Há aqui uma troca de dons. O Senhor oferece seu amor e a humanidade oferece os dons mais preciosos da terra como o ouro, o incenso e a mirra (1a leitura).

      O cumprimento dessa profecia dá-se por ocasião da visita dos magos a Jerusalém depois de iniciarem uma longa aventura na fé, até ter encontrado o objeto da sua procura em Belém. Na verdade, os magos, mestres em astrologia, descobriram numa estrela, o nascimento de uma nova historia. “Os magos seguiram uma estrela e descobriram o Deus da história” (Homilia do Papa Bento XVI na missa da Epifania, 2012). Nada tinham a sua disposição senão a ciência dos astros. Mas Deus quis se servir de seus conhecimentos, para revelar a todos a verdade do seu amor sem fronteiras, ao admitir os pagãos à mesma herança e associa-los a mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho (2a leitura). Deixando suas seguranças, eles põem-se a caminho da nova vida que os atrai de forma irresistível. Não há como ignorar o calor do amor que se revela como vida e esperança da humanidade. Entrando em Jerusalém se perdem um pouco, sobretudo porque a luz não aquece a casa de Herodes nem o coração de Jerusalém. Finalmente podem sair e continuar sua procura e eis que vêem de novo a estrela e sentem uma alegria muito grande. O amor do Senhor aquece novamente seus corações. É o calor vital que os anima a continuar olhando para o lugar de onde Deus os ver e chama. Que bela é esta cena do encontro dos magos com o Senhor. Ao pensar nela, meu coração se enche de uma grande comoção interior. “Quando entraram na casa, viram o menino com Maria sua mãe”. A vida está em casa. Diferentemente de Lucas, Jesus está em casa que aqui é símbolo da comunidade dos discípulos, chamada a acolher a todos e faze-los discípulos. Então eles lhe oferecem seus dons: Ouro, a sua realeza, o incenso a sua divindade e a mirra a sua humanidade já aludindo a sua paixão e morte. É no encontro com o Senhor que termina a aventura que iniciamos na fé.

      Pronto, o mistério escondido, foi agora revelado. Esse mistério é o amor de Deus por nós. Fomos atingidos por esse mistério que nos abriu o coração e a vida para sairmos do nosso individualismo e afirmar que Jesus veio para todos os povos em todos os tempos. Como discípulos missionários, somos chamados a ser epifania de Deus na Igreja, convocados pelo amor do Senhor “a fraternidade universal, ao diálogo ecumênico e ao anúncio da boa nova da salvação”.

Pe.Basílio J. Ilton Alves, O. Cist.
Monge Cisterciense.





BATISMO DO SENHOR 10 de JANEIRO


“O batismo de Jesus é Epifania e adesão à missão que o Pai lhe confiou”

Liturgia

1a leitura Isaías 42,1-4.6-7

Salmo 28 (29),1a. 2.3ac-4.3b.9b-10

“Que o Senhor abençoe, com a paz, o seu povo!”.


      Queridos irmãos, irmãs, catequizandos, catequistas e amados irmãos vindos de outras cidades para participar desta eucaristia do batismo do Senhor, ocasião em que nossa cidade de Riversul realiza a sua Copa mirim. Bem vindos a essa celebração.

      A festa do batismo do Senhor conclui o ciclo do natal e é também epifania do amor do Pai pelo Filho. Por outro lado, nos revela outro aspecto da sua encarnação, quando da manifestação da sua adesão ao Pai e a missão que lhe confiou como Servo e Filho muito amado, cheio de graça, amor e verdade.

      As leituras bíblicas que escutamos dão o sentido da missão de Jesus e ao mesmo tempo orientam continuamente a Igreja para a fonte batismal, onde lá, ela redescobre o compromisso com a missão de Jesus no comprometimento com a justiça e a promoção humana. Vale lembrar ainda que as leituras nos questionam quanto ao modo e a forma como estamos vivendo o nosso próprio batismo.

      O documento de Aparecida revela-nos uma grande preocupação da Igreja quanto ao batismo e aos batizados. É preciso zelar por esse primeiro sacramento de iniciação para que de fato os que o recebem, o vivenciem na comunidade de fé como discípulos e missionários de Jesus Cristo. Quantos são os batizados no mundo? Aqui em nossa comunidade paroquial? Nossa evangelização está anunciando a pessoa viva de Jesus Cristo ou está domesticando as pessoas para que se declarem cristãos? Nesse sentido, parece estar aqui a explicação para a perda do entusiasmo cristão. Por isso, é urgente uma catequese querigmática que anuncia a pessoa, vida e as obras do Senhor, levando o catequizando a uma reflexão e tomada de decisão a fim de que ele seja o Senhor da vida. Nossa paróquia está iniciando uma experiência nova de evangelização e assumindo uma metodologia nova na catequese que prioriza o anúncio kerigmático.

      A 1a leitura do profeta Isaías nos fala do servo do Senhor, escolhido, querido e alegria do coração de Deus. Seu estilo de vida é coerente com a mensagem que anuncia. Nele está o Espírito de Deus. Sua missão é promover o julgamento para que aconteça a justiça. Não grita, nem levanta a voz. Não reage a injustiça com a violência, mas com amor e serenidade. “O Senhor o encarregou de promover a união, a aliança do seu povo, e ser luz para as nações” (v.6). Portanto, sua missão é universal.

      O salmo responsorial por sua vez canta o poder do Senhor que se manifesta nas águas do mar para salvar o seu povo e “aqui celebra sua manifestação no Batismo de Jesus”.

      Tudo o que foi descrito pela leitura e o salmo se realizam como nova páscoa que antecede a páscoa definitiva, no dia em o Senhor desce as águas do Jordão para ser batizado por João Batista. Diz-nos o evangelista Lucas que era muito grande a expectativa do povo em relação ao precursor que o imaginavam como o messias esperado. Mas João declara não ser ele com toda a firmeza da sua fé e esperança, ao mesmo tempo em que aponta para os sinais que os ajudará a reconhecer o messias: “ele é mais forte do que eu”, e “batizará no Espírito Santo e no fogo”, bem como admite ser indigno de desamarrar a correia de suas sandálias. Sim ele é forte. Não porque freqüente academia para adquirir um corpo musculoso e sarado e assim seduzir o mundo. Se assim fosse, seria ele mais um ídolo entre tantos outros. É forte porque sobre ele “está o Espírito do Senhor” que comunica vida eterna.

      É esse o contexto em que se dá a celebração do batismo de Jesus. Embora João administrasse um batismo de penitência e conversão, Jesus nunca cometeu pecado. Não tinha necessidade de receber esse batismo de purificação exterior, símbolo, portanto, do início de uma vida de conversão. Mas vendo o povo ser batizado, “Jesus também recebeu o batismo” (v.21). Aproxima-se do que batiza, “talvez para santificar igualmente aquele que o batiza e, sem dúvida, para sepultar nas águas o velho Adão” (Sermões de são Gregório de Nazianzo. LH. Vol 1. P. 574) ou como afirmam outros padres da Igreja: “Para santificar a fonte das águas com a sua presença corpórea”. Nesse gesto de máxima humildade, kénosis (rebaixamento), Jesus manifesta sua solidariedade com os pecadores, não solidariedade no pecado, pois ele nunca cometeu pecado algum e é ele o que “tira o pecado do mundo”, mas o faz para confessar o nosso pecado e destruí-lo na água que jorrará do seu coração aberto, quando então, a água voltará a jorrar e então se dará o novo renascimento no Espírito. Amados irmãos e irmãs imagino, que toda a criação se volte nesse momento para contemplar o Senhor ao vê-lo sendo batizado e o céu novamente se abrindo, ao mesmo tempo em que  pousa sobre ele o “Espírito do Senhor” em forma visível, corpórea de pomba (símbolo da Shekiná, isto é, morada e presença de Deus). Nova epifania. O Pai declara todo o seu amor pelo Filho e nele por cada um de nós. Enquanto isso, Jesus se entrega oração onde encontrará a força para se dedicar com fidelidade à missão de Servo e Filho num amor que se dilatará por toda a humanidade no altar da cruz. O batismo é, pois, participação na missão profética, real e sacerdotal de Jesus. O batismo é, portanto a fonte de todas as vocações. E você, já descobriu a sua? Seu batismo se traduz em compromisso com a tarefa evangelizadora da Igreja na sua comunidade, diocese e paróquia? Não podemos sair daqui como batizados superciais. Temos que recuperar o entusiasmo que brota de uma fé amadurecida na intimidade com o Senhor, na escuta da sua Palavra, na Eucaristia e no  comprometimento com a transformação das estruturas injustas do nosso tempo. Daí brotará a alegria como resultado do encontro pessoal com o Senhor.

      A Igreja é chamada continuamente a reconhecer e a acolher o amor de Deus presente em outros povos e culturas, haja vista que, segundo as palavras do Apóstolo Pedro, ainda na casa do pagão Cornélio, Deus não faz “distinção entre as pessoas”, mas que “aceita quem o teme e pratica a justiça” (v. 35). Com outras palavras, ela é chamada a testemunhar um amor sem fronteiras através da prática do bem a exemplo do seu Senhor, Esposo e Mestre.

Pe. Basílio J. Ilton Alves, O.Cist.







terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Advento

História e Significado



Advento

 O período que abre o ano litúrgico da Igreja. Inicia-se no quarto domingo antes do Natal, isto é, “nas primeiras vésperas do domingo que sucede ao dia 30 de novembro ou o mais próximo desta data, e  termina antes das primeiras vésperas do Natal” (cf. Missal cotidiano. P.8).

É tempo de alegre espera, arrependimento, expectativa e preparação para a chegada de Cristo.

A verdadeira origem do advento é incerta e escassas são as notícias que chegaram até nós.



Elementos do advento:

1º celebra a vinda gloriosa de Cristo.

2º advento escatológico.

O advento é tempo litúrgico da Igreja ocidental. A Igreja oriental tem apenas poucos dias de preparação para o natal.

A notícia que temos do advento remonta ao século IV. “Da mesma forma que a festa da Páscoa, o Natal recebeu também um tempo de preparação, ao qual se deu o nome de advento (= vinda). Os primeiros indícios de uma preparação para o Natal, não o encontramos na liturgia romana, mas na Espanha e Gália”.  Em Roma aparecem os primeiros indícios de uma liturgia do advento em meados do século VI com São Gregório Magno. Contudo, “é fácil verificar que o conteúdo original do advento não era tanto a expectativa da vinda de Cristo no final dos tempos (Parusia), quanto propriamente a Encarnação e a preparação para a sua celebração litúrgica. De fato, a Encarnação como acontecimento histórico é o começo de nossa Redenção e a garantia de sua consumação na segunda vinda de Cristo” (Adolf Adam, in O Ano Litúrgico, p. 129-130).



Estrutura do Advento no Missal de Paulo VI



O advento consta de quatro domingos e é formado de dois períodos.

1º.   Do 1º Domingo do advento até 16 de dezembro, dá-se maior evidência ao aspecto escatológico e procura-se orientar as almas para a  espera da vinda gloriosa de Cristo.

2º.  17 de dezembro a 24, tanto na missa, quanto na liturgia das horas, todos os textos orientam-se mais diretamente a preparação do natal.



Três figuras emergem nesse tempo

1º - O profeta Isaías.

2º - João Batista.

3º - Maria.

 Isaías: Antiquíssima e universal tradição escolheu o texto a leitura de Isaías, porque nele, mas do que nos outros profetas, se encontra um eco da grande esperança que conforta o povo eleito durante os séculos duros e decisivos da sua história. Suas páginas constituem um anúncio de esperança perene para os homens de todos os tempos.



João Batista: é o último dos profetas que resume na sua pessoa e na sua palavra, toda a história anterior no momento em que desemboca no seu cumprimento. Ele é o sinal da intervenção de Deus em favor do seu povo; como precursor de messias, tem a missão de preparar os caminhos do Senhor (cf. Isaías 40,3), de oferecer a Israel o “conhecimento da salvação” (Lc 1,77-78) e, sobretudo, de apontar Cristo já presente no meio do seu povo (Jo 1,29-34).

Neste tempo de advento, dá-se especial e feliz destaque, a figura de Maria por causa da sua cooperação no mistério da redenção. Mas é bom dizer logo de passagem, que não é justo chamar o advento de “mês de Maria”, exatamente pelo fato de ser este tempo essencialmente celebração do mistério do Senhor, da sua vinda, mistério a que se acha ligada a cooperação de Maria no cumprimento da história da salvação com sua realização total e plena no Cristo senhor. Em Maria Imaculada, Deus nos deu “as primícias da Igreja, esposa de Cristo sem ruga e sem mancha, resplandecente de beleza” (prefácio da Imaculada Conceição).



Teologia do advento



O advento lembra antes de tudo a dimensão histórico-sacramental da história da salvação. O Deus do advento é o Deus da historia, o Deus que veio plenamente para a salvação do homem em Jesus de Nazaré, em quem se revela a face do Pai (Jo 14,9).

O advento é o tempo litúrgico em que se evidencia fortemente a dimensão do mistério cristão (1 Ts 5,9; 1 Pd 1,5; 1Cor 1,8; 5,5; At 10,40-42.

A Igreja na sua peregrinação terrena vive a tensão do já da salvação realizado em Cristo e o ainda não da sua plena manifestação na volta do Senhor, juiz e salvador.

O advento reacende também o compromisso missionário da Igreja e de todo o cristão para o advento do reino de Deus. A missão da Igreja de anunciar o Evangelho a todos os povos e nações, “é essencialmente baseada no mistério da vinda de Cristo, enviado pelo Pai; sobre a vinda do Espírito Santo, mandado pelo Pai e pelo (ou ‘para o’) Filho”.

A Espiritualidade do Advento



         A comunidade cristã, com a liturgia do advento, é chamada a viver algumas atitudes essenciais à expressão evangélica da vida: a espera vigilante e jubilosa, a esperança e a conversão. Mas a atitude da esperança adquire um sentido todo especial, porque é a atitude que assume a Igreja esposa de Cristo, enquanto espera o seu glorioso esposo, até a vinda do seu Senhor em seu advento no final da história. A esperança caracteriza, portanto a Igreja e o cristão, porque o Deus da revelação é o Deus da promessa que em Cristo manifestou toda a sua fidelidade ao homem (cf. 2Cor 1,20). No advento, a Igreja vive a espera de Israel em níveis de realidade e manifestação definitiva da realidade que é Cristo. Agora vemos “como num espelho”, mas virá o dia em que “veremos face a face” (1 Cor 13,12). A Igreja vive essa esperança na vigilância e na alegria. Por isso reza: “Maranathá: Vem, Senhor Jesus” (Ap 22,17-20). O advento celebra o “Deus da esperança” (Rom 15,13) e vive a alegre esperança (Rom 8,24-25). O canto que se caracteriza esse tempo é o do salmo 25: “A ti, Senhor, eu me elevo, ó meu Deus. Eu confio em ti, que eu não seja envergonhado, que meus inimigos não triunfem contra mim! Os que esperam em ti, não ficarão envergonhados”. Deus que entra na história põe o homem em causa e o questiona. A vinda de Deus em Cristo requer conversão contínua e permanente. A novidade do Evangelho, que se destaca com grande força neste tempo, é o da conversão como convite a acolher a Luz que é Cristo, o que exige de cada um, estar atento e acordado (Rom 13,11-14), decidido a ir ao encontro do senhor, quando ressoar sua voz como convite, a exemplo das cinco virgens prudentes que conservaram suas lâmpadas com óleo. Enquanto dormiam, seu coração estava vigilante. A voz do Senhor foram despertadas e quanta alegria e festa.



O Advento educa para viver a atitude dos ‘pobres de javé', ’mansos, humildes, disponíveis, e que Jesus proclamou bem-aventurados (cf. Mt 5,3-12).



PASTORAL  LIRTÚRGICA



 A pastoral do advento, não ignorando que este período, na nossa sociedade industrial e consumista, coincide com o lançamento comercial da ‘operação natal’, justamente por isso, deve comprometer-se a transmitir os valores e as atitudes que estejam de acordo com a visão escatológica transcendental da vida. O advento, com sua mensagem de espera e de esperança diante da vinda do Senhor, deve formar comunidades cristãs e crentes individualmente que se proponham como sinais alternativos para uma sociedade em que as áreas do desespero parecem mais vastas do que as da fome e do subdesenvolvimento. Uma verdadeira tomada de consciência da dimensão escatológica e transcendente da vida cristã deve aumentar em cada um o desejo e o compromisso missionário com a “redenção da história e a preparação através do serviço aos homens aqui na terra, considerando-a a matéria para o reino dos céus. Na verdade, Cristo, com a força do Espírito Santo, age e opera no coração dos homens, não só para suscitar o desejo do mundo futuro, como para inspirar, purificar e fortalecer o compromisso com a finalidade de tornar mais humana à vida terrena” (GS 38).

          Se a liturgia do advento for iluminada por essa luz e perspectiva teológicas, os cristãos serão mais enriquecidos e estimulados a “construir comunidades que saibam ser a alma do mundo”.

(Resumo do Dicionário de Liturgia, in.Ed. Paulinas/Paulista. 1992).