sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Meditação Litúrgica



Sexta-feira 21 de Outubro de 2011
Ao longo da semana, estou postando em meu blog uma série de reflexões, acolhendo, assim, as inspirações e o sopro do Espírito em minha participação no retiro anual da nossa comunidade.
Hoje chegamos ao final do retiro. Mas, antes, gostaria de poder partilhar dessa riqueza com aqueles e aquelas que me acompanham. Para ajudá-los (as) na reflexão, disponibilizo também os textos bíblicos da liturgia de hoje.
Primeira leitura (Romanos 7,18-25a
Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos.

Irmãos, 18estou ciente de que o bem não habita em mim, isto é, na minha carne. Pois eu tenho capacidade de querer o bem, mas não de realizá-lo. 19Com efeito, não faço o bem que quero, mas faço o mal que não quero. 20Ora, se faço aquilo que não quero, então já não sou eu que estou agindo, mas o pecado que habita em mim. 21Portanto, descubro em mim esta lei: Quando quero fazer o bem, é o mal que se me apresenta.
22Como homem interior ponho toda a minha satisfação na lei de Deus; 23mas sinto em meus membros outra lei, que luta contra a lei da minha razão e me aprisiona na lei do pecado, essa lei que está em meus membros.
24Infeliz que eu sou! Quem me libertará deste corpo de morte? 25aGraças sejam dadas a Deus, por Jesus Cristo, nosso Senhor.
- Palavra do Senhor.
- Graças a Deus. — Ensinai-me a fazer vossa vontade!
— Ensinai-me a fazer vossa vontade!

— Dai-me bom senso, retidão e sabedoria, pois tenho fé nos vossos santos mandamentos!
— Porque sois bom e realizais somente o bem, ensinai-me a fazer vossa vontade!
— Vosso amor seja um consolo para mim, conforme a vosso servo prometestes.
— Venha a mim o vosso amor e viverei, porque tenho em vossa lei o meu prazer!
— Eu jamais esquecerei vossos preceitos, por meio deles conservais a minha vida.
— Vinde salvar-me, ó Senhor, eu vos pertenço! Porque sempre procurei vossa vontade.
Salmo Responsorial
Evangelho Lucas 12,54-59
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, 54Jesus dizia às multidões: "Quando vedes uma nuvem vinda do ocidente, logo dizeis que vem chuva. E assim acontece. 55Quando sentis soprar o vento do sul, logo dizeis que vai fazer calor. E assim acontece. 56Hipócritas! Vós sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu. Como é que não sabeis interpretar o tempo presente? 57Por que não julgais por vós mesmos o que é justo?
58Quando, pois, tu vais com o teu adversário apresentar-te diante do magistrado, procura resolver o caso com ele enquanto estais a caminho. Senão ele te levará ao juiz, o juiz te entregará ao guarda, e o guarda te jogará na cadeia. 59Eu te digo: daí tu não sairás, enquanto não pagares o último centavo".C
Palavra da salvação.
Glória a vós Senhor
(Fonte dos textos bíblicos: Canção nova).
Jesus se encontra diante de um grupo adversário. Todos sabemos que não é fácil convencer o adversário de seus planos maus, pois ele está fechado sobre si mesmo. Não é capaz de enxergar além de seus próprios horizontes, mergulhando cada vez mais numa verticalização que o conduz a separação dos outros, aos quais exclui e combate como seu inimigo.
Aliás, são pessoas muito perspicazes, mas disfarçadas de bondade. Percebem os sinais da natureza e os compreendem. Mas por estarem tão fechadas em seu egocentrismo, falta-lhes a capacidade de perceber os apelos do Espírito, tornando-se incapazes de interpretar os sinais do tempo presente. Consequentemente, podem ser boas em muitos assuntos, mas não conseguem chegar ao conhecimento do Reino de Deus. É a esse grupo que Jesus dirige o seu convite a conhecer os sinais do tempos, a fim de descobrir na história, os sinais da presença e da vinda de Deus. Hoje a ciência explica quase todos os fenômenos da natureza. Mas ela não é capaz de explicar os sinais da salvação. Só os descobre o homem que entra no laboratório da fé e lá, acolhe cada dia o mistério de Deus que continua se revelando.
O centro da mensagem evangélica está no homem que vai até o juiz na expectativa de receber justiça porque seu inimigo o prejudicou. Aqui devemos nos perguntar: quem é esse homem? Facilmente o identificamos como uma outra pessoa. Mas, na verdade, esse homem é cada um de nós que devemos comparecer diante de Deus para prestar-lhe contas de nossos atos, ações, inclusive, da nossa vida.
Os mistérios da Salvação, e, lembro, que estamos meditando neles ao longo do nosso retiro, nos convidam a conversão,a uma mudança radical no nosso jeito de pensar e encarar as coisas. Logo, percebemos que temos medo dessa mudança. Mas, aqui, o juíz é uma imagem de Deus. Ele espera a nossa conversão. Por isso Jesus insiste na necessidade do homem reconciliar-se com o adversário, isto é, ele próprio, antes de apresentar-se ao juíz. O reconciliar-se aqui está ligado a idéia da conversão sincera, "a fim de que, intervindo a misericórdia de Deus, ao conceder o perdão, não tenha de intervir justiça".
A menssagem evangélica encontra eco na carta aos romanos, primeira leitura da missa de hoje. Paulo constata a ausência do bem em sua carne, ao mesmo tempo em que, rconhece que acaba fazendo o mal que não queria, pois o pecado, é realidade presente em nossa condição humana. É pela renovação da nossa opção pelo Senhor, que podemos nos afastar do mal e nos dedicar a prática do bem. É daqui que brota nosso anseio pela libertção da trágica situação de pecado em que nos encontramos, libertação operada por Cristo. A saída, portanto é, "sair de nós mesmos, reconhecer nossa incapacidade" e procurar no Senhor nossa segurança, com a certeza da fé que nos ensina a rezar: "Sois o meu refúgio e fortaleza, torre forte na presença do inimigo" (Sl 60/61,v.4).
 
Em nosso último encontro com o pregador do retiro, não meditamos nenhuma tema específico, pois ele preferiu partilhar sua experiência de vida conosco, desde a abadia de Spencel nos EUA onde entrou aos 28 anos de idade, após ter sobrevivido como soldado na segunda grande guerra mundial, onde atuou como membro da tripulação aérea no combate dos aliados contra a Alemanha. Mas a graça divina o levou ao mosteiro, onde vive empenhado no trabalho de conversão. Mas para concluir, nos lembrou o que já havia dito no início: "A nossa identidade é a imagem de Deus". Retomando a carta de Paulo aos Efésios 1, 11 disse ainda que somos chamados para viver no amor. E acrescentou: " A vida monástica é uma maneira de reformar em nós a imagem de Deus que foi deformada pelo pecado". Nossa Senhora, a mãe do divino amor e da divina graça, que esteve conosco desde o início do retiro, continuará sendo modelo de amor e serviço em nossa vocação.
Em toda a nossa vida temos uma missão e depois temos que prestar contas a Deus da nossa administração.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Batismo de Jesus

Batismo e tentações no deserto





Após o seu batismo, na força do Espírito, Jesus foi ao deserto onde foi tentado pelo demônio. É o Espírito de Deus que estava sobre ele que o conduz ao deserto, lugar da prova na tradição bíblica e morada dos demônios, segundo a tradição dos padres do deserto. Lá Jesus vence o diabo. O deserto ajuda a pessoa a descobrir os sentimentos e desejos do coração, dando oportunidade de fazer novas escolhas e opções. A opção e a escolha de Jesus é pela realização do projeto do Pai. "Não tentarás o Senhor teu Deus", "Só a ele servirás", "adorarás somente ao Senhor teu Deus". A vida monástica, por sua natureza, é uma vida de lutas e combates contra a tentação do ter e do poder. Mas o mosteiro é o melhor lugar para enfrentar essa luta na companhia de outros irmãos. É uma luta que enfrentamos em nome do Senhor, como outrora o jovem Davi enfrentava o gigante Golias. Nessa luta, não podemos esquecer nunca que o Senhor é o nosso "refúgio e fortaleza, torre forte na presença do inimigo" (Sl 60/61 v. 4). A tentação, como um mau pensamento, pode aparecer até mesmo num momento sagrado. São Bento nos ensina na regra a "quebrar todo e qualquer pensamento ao encontro de Cristo". O pecado do mundo tem reflexos em nós, mas podemos vencê-lo quando trocamos uma ação má, por uma ação boa. Quando fazemos o bem, deixamos o mundo melhor.

Conferência da Tarde

Vida Pública de Jesus

Durante a sua vida pública, Jesus manifesta a sua autoridadde. Mas de onde ela vem? Ele na encarnação foi concebido pelo poder do Espírito santo. Em seu encontro na casa de Pilatos, o Bom Jesus afirma ao tirano, que ele não poder nenhum sobre ele se não lhe fosse dado pelo Pai.
Em seus gestos e ações em benefício da vida do povo, quando das curas e expulsão do demônio, o povo reconhecia que Jesus tinha um poder/autoridade. E até perguntavam: de onde lhe vem esse poder e sabedoria? A autoridade que Jesus tinha lhe foi dada pelo Pai. Mas sua autoridade era serviço. Deixou isso claro na ceia de despedida.  No mosteiro, o abade e alguns oficiais recebem autoridade para servir aos irmãos. É lamentável quando não se presta esse serviço aquele que recebeu a autoridade de Deus através do voto de confiança dos irmãos. Quem recebe autoridade deve lembrar-se de que deverá prestar contas a Deus (abade na regra de São Bento). Quem tem autoridade tem também fraquezas, por isso não deve usar da autoridade para vigiar, controlar, manipular, invadir as consciências, etc.


No evangelho de hoje, Jesus nos lembra que a opção por ele pode causar divisão no ambiente familiar. A história tem comprovado essa constatação do Divino Mestre. Por isso, expressa seu desejo de "lançar fogo a terra e como gostaria que estivesse aceso!" Referia-se ao fogo do seu Espírito que derramaria sobre os fiéis no dia de Pentecostes. Vivemos agora no tempo da Igreja. a missão do Espírito Santo, além de santificar, é renovar a face da terra e promover a unidade.

Quarta-feira de XXIX Semana do Tempo Comum

19 de Outubro de 2011 - S. Paulo da Cruz
A Igreja celebra hoje a memória litúrgica de São Paulo da Cruz. Primeiramente viveu sua vocação de consagração a Deus como Eremita. Depois, dedicou-se ao trabalho missionário colocando a Paixão de Cristo no centro da sua pregação. É o fundador da congregação dos Passionistas.
O Evangelho contém um convite a vigilância. Por isso, se faz necessário um urgente empenho no trabalho da conversão pessoal e comunitária.Jesus não quer nos assustar e causar pânico. Porém, sua vinda no fim dos tempos é certa, embora, não se saiba o dia nem a hora. Todavia, o Senhor já veio uma primeira vez na encarnação. Celebramos esse mistério no natal. Virá uma segunda vez, definitivamente no fim dos tempos. Mas, ele vem todos os dias para nós. São Bernardo chama essa terceira vinda de intermediária. Podemos, pois, dizer, que ele vem e está presente em nosso meio, na Palavra, na Eucaristia, nos irmãos, na comunidade. Ele costuma nos visitar também nos pobres. A certeza dessa sua presença, nos consola e anima.
Na primeira conferência dessa manhã, o tema foi o "Mistério da Epifania" (Mt 2)

Epifania: revelação, manifestação. A Epifania acontece em três momentos:
1.Na visita dos magos.Eles oferecem presentes ao grande Rei.
2.Batismo de Jesus. O Pai fala sobre o seu Filho e convida a humanidade a ouvir a sua Palavra.
3.Caná. No casamento, Jesus se revela como o messias ao manifestar a sua glória ao transformar a água em vinho e vinho novo.
Na Regra, São Bento nos ensina que a presença divina está em toda parte, sobretudo, quando estamos reunidos em oração, durante o ofício divino.Por isso, a vocação do monge é uma vocação para o louvor divino. O monge busca viver e crescer na presença de Deus. Começa a admirar Deus. É a contemplação. O louvor começa, pois, da admiração e da contemplação de Deus.
Muitas pessoas se queixam que não sabem rezar. Até nós,monges, sentimos a mesma coisa em algumas situações. Mas se perseverarmos na oração do ofício divino, que é escola de oração, certamente aprenderemos a rezar. O monge reza em comunhão com toda a Igreja. Pela oração,manifesta sua solidariedade com as necessidades e sofrimentos de todo o corpo místico (Igreja). Jesus continua dirigindo sua oração sacerdotal ao Pai através da Igreja, sua esposa. Como corpo, a Igreja torna atual a oração de Jesus e a apresenta ao Pai pelo Filho, na unidade do Espírito Santo. Essa oração é de: louvor, agradecimento, adoração, súplica. Assim, quando dois ou três se recolhem em oração, ou até mesmo uma comunidade religiosa e monástica, ela se associa a oração de todo o corpo,uma vez que,naquela hora em que rezamos ou celebramos a Eucaristia, em qualquer parte do mundo, há pessoas rezando e celebrando o mistério eucarístico da salvação.
Conferência da Tarde
"Vida escondida de Jesus em Nazaré"
Lucas 2,41-52
Jesus viveu 30 anos em Nazaré, antes de iniciar sua vida pública.Quando retorna de Jerusalém com os pais, Maria e José, o evangelista diz que, "desceu com eles a Nazaré e lhes era submisso", ao mesmo tempo em que, "crescia em estatura, em sabedoria e graça diante de Deus e dos homens" (Lc 2,51-52).
Segundo nosso pregador de retiro,Pe. Francisco, "a vida oculta de Jesus, é um mistério negligenciado".É um convite a explorarmos mais esse mistério através da "Lectio Divina.A Cristologia nos fala da divindade de Jesus e sua humanidade. Uma não diminui a outra. Jesus é Deus,mas é também humano. A Palavra, o Logos, se fez carne e habitou entre nós.Agora como humano, precisa aprender a ser humano. Essa é a resposta a pergunta levantada acima. Em Nazaré, Jesus aprendia a ser humano na companhia dos pais, pois "a Palavra de Deus tinha que comunicar a Palavra de Deus, com palavras humanas.Nazaré, é, portanto, a escola, onde Jesus aprende a ser humano.Lá ele cresce em sabedoria e graça. Dessa forma,seus atos são também divinos,pois ao assumir a nossa humanide, não perdeu a divindade. Cada gesto seu é cheio de dignidade que ele quer comunicar aos homens.
No mosteiro, o monge, é chamado a desenvolver a espiritualidade sapiencial. Aqui falamos da Sapientia que não é aquela acadêmica, mas a do saber vivencial que se adquire ao longo dos anos.
Maria teve um papel importante na formação humana de Jesus, bem como seu pai adotivo São José.A condição feminina de Maria, na companhia de quem Jesus passou boa parte do seu tempo, o fez perceber como ela se relacionava com as outras mulheres. Certamente a acompanhou em muitas viagens ao poço para buscar água para casa e, possivelmente é lá que Jesus aprende a desenvolver um grande respeito pelas mulheres, como o veremos posteriormente no seu encontro com a mulher Samaritana (Jo 4). Por outro lado, Jesus se relacionava bem com os homens, inclusive, pescadores e pecadores.Pela condição profissional do pai que precisava ir às casas para combinar trabalhos e fazer orçamentos,José era uma excelente pessoa no contato com os outros homens. Dele, certamente, Jesus terá aprendido a manifestar grande respeito e consideração pelo homem. Maria,é mulher cheia de confiança. Ela a comunica a Jesus.Na casa judaica, era responsabilidade do ensinar a religião ao filho. Com ele Jesus aprende a TORÁ.Sim,Jesus vive um processo humano normal de aprendizado. Mas é no contato cotidiano com a Palavra de Deus que, o Verbo encarnado, lendo sobretudo Isaías, descobre sua identidade de Messias-Servo, ao mesmo tempo em que descobre sua própria identidade de homem Deus.Dessa forma, toda a vida de Jesus era orientada para Deus. Sua vida oculta pode estimular nossa estabilidade no mosteiro.A vida monástica escondida, portanto,tem grande valor, mas exige muita fé. Ela deve ser vivida sob o olhar de Deus.

São Lucas Evangelista




Terça-feira 19 Outubro de 2011

Segundo dia de retiro - Mistérios da Visitação e do Natal - Na missa, durante a homilia, o pregador Pe. Francisco lembrou que São Lucas foi cooperador de São Paulo na missão de anunciar o Evangelho. Também nos lembrou que a missão de Jesus é nossa missão e já desde o batismo, estamos comprometidos com a evangelização. Hoje Jesus nos envia em missão. O conteúdo da pregação é Jesus, a paz que Deus oferece ao mundo, porque, "O Reino de Deus está próximo de vós". Sinal da presença do reino é a cura dos doentes. Todavia, ele nos lembra, que somos enviados para o meio dos lobos. Mesmo assim, alerta-nos para não por a nossa confiança em seguranças humanas, mas unicamente naquele que nos envia e nos acompanha com seu olhar.
Na coinferência da manhã, meditmos o mistério da visitação. No seu encontro com o mensageiro de Deus, apesar da sua pouca idade, Maria era consciente de que nela, Deus havia feito grandes coisas, como cantou no cântico em casa de Zacarias e Izabel. Essa consciência a levou a colocar-se a caminho da casa de Zacarias para oferecer seu humilde serviço a prima Izabel. Só quem está cheio do Espírito Santo é capaz de se abrir ao serviço para testemuhar o amor. Já se tornara, um pouco antes, serva so Senhor, agora, se coloca como serva da família. Ela atravessa as montanhas com a disposição de servir e comunica essa disposição ao filho que tr´s no seu seio, pois, Jesus, dirá, mais tarde: "Estou no meio de vós como aquele que serve". São Bento recomenda receber todos no mosteiro como o Cristo. Maria é recebida como o Cristo na casa da prima, o que se percebe, através da afirmação que faz Izabel: "Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe do meu Senhhor?". É com esse sentimento que devemos nos receber e acolher no mosteiro, pois, cada um de nós, é imagem de Cristo. Agindo desse modo, em relação aos nossos irmãos, bem como em relação àqueles que vem ao mosteiro, colaboramos para o crescimento da dignidade de filho e filha de Deus. Da gravidez ao nascimento de João Batista, Zacarias permaneceu mudo, em silêncio. Mas a figura de Maria, com sua ternura e feminilidade cheia de dignidade, bem como sua solicitude, tudo isso foi capaz de comunicar a ele a compaixão e a ternura, abrindo-se interiormente a contemplação do mistério de Deus na sua casa. Quando nasceu a criança, sua boca se abriu para entoar um grande louvor ao criador, que "visitou seu povo na paz". Claro que isso só se capta, através de uma profunda "Lectio Divina", cultivada e valorizada pelos padres da Igreja e autores cistercienses. Zacarias viveu um momento muito difícil na sua vida de fé. Mas a presença de Maria, mulher cheia de graça, lhe comunicou a compaixão e a ternura de Deus. É uma lição para que nós nos comportemos também assim, em relação aos irmãos que vivem à margem da comunidade ou ocasionam sofrimentos no convívio fraterno. Também nós, somos servos do Senhor. Como Maria, devemos nos entregar a ele sem reservas ou condições, mas com disponiblilidade total. Assim, nossos dons e talentos devem ser colocados a serviço dos irmãos do Senhor.
O Mistério do Natal - Lc 2
Todo dia é natal, porque, todo dia, Cristo deve nascer em nós, ou melhor, ele nsce em nós. Por isso, a veida monástica é sacramento da presença de Cristo. O Emanuel, o Deus-conosco, está em nosso meio. Por outro lada, a teologia nos ensina que Jesus Cristo é o sacramento do Pai - "Felipe, quem me ver, ver o Pai". A Igreja é sacramento de Cristo. Por ela, a humanidade é chamada a ver e a contemplar o rosto do Pai no rosto do Filho. Com a Igreja, a humanidade ver a presença visível do invisível. Na encarnação, reconhecemos que Deus quis entrar na hostória é de forma natural. A diferença que há é que, o que, o que é gerado no seio de Maria é obra do Espírito Santo. Agindo assim, Deus quis esperar a resposta de Maria, não lhe tirou a liberdade que é dom do seu amor. Maria não compreendeu inicialmente, quem sabe, até teve medo. É natural ter medo diante do mistério de Deus. Mas Deus quer entrar em nosso vida, em nosso mundo, como Emanuel, o Deus próximo e presente. Por isso ele vem como criança. Diante de uma criança nos sentimos fascinados. A criança, apesar da sua fragilidade, possui uma força de fascínio e admiração. Ninguém resiste a sua candura. Todos queremos segurará-la em nosso colo, acariciá-la, tocá-la, fazê-la sorrir. Assim, para vencermos o medo que se instalou após a entrada do pecado no mundo, Deus quis vir ao nosso encontro na fragilidade da criança para ser tocado, beijado, acolhido por nós. "O medo é a paixão mais profunda do homem". Mas Deus não quer prisioneiros do medo. criou-nos para a liberdade,isto é, para o amor. O Verbo, a Palavra de Deus, nasce impotente. José e Maria o protege e cuida dele até que se torne adulto. Quando São Bento fala na regra que no mosteiro, "nada seja preferido ao amor de Cristo", certamente está querendo nos ensinar que o cuidado no crescimento dos irmãos, é a doutrina que deve nortear nossas relações fraternas nas comunidade, para que o irmão, cresça na amizade com o Senhor, isto é, na vida em Cristo. A missão de uma comunidade cristã e monástica, é ajudar Cristo os irmãos a crecer na vida em Cristo. Por isso mesmo, o mosteiro deve ser o lugar, onde a divindade, unida a nossa humanidade, assume um vínculo esponsal, através de uma aliança de amor com a nossa humanidade.
 
 

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Meditação

Hoje a Igreja celebra a memória litúrgica de Santo Inácio de Antioquia, bispo e mártir ( Síria - 50-107), terceiro bispo de Antioquia e sucessor de Pedro naquela Igreja. Sua sorte não poderia ser diferente daquela enfrenta por Jesus. Perseguido pelo imperador Trajano, foi conduzido a Roma, e aí, no ano 107, "recebeu a gloriosa coroa do martírio", sendo devorado pelas feras selvagens. Durante sua romaria em direção a Roma, podemos vê-lo como uma testemunha de esperança e de amor apaixonado por Jesus Cristo e sua Igreja através da 7 cartas que escreveu as várias Igrejas. Na carta aos romanos, escreve: "não demonstreis por mim uma benevolência inoportuna. Deixai-me ser alimento das feras; por elas pode-se alcançar a Deus. Sou trigo de Deus, serei triturado pelos dentes das feras para tornar-me o puro pão de Cristo. Rogai a Cristo por mim, para que por este meio me torne sacrifício para Deus".
Hoje iniciamos o nosso retiro anual aqui na abadia de Itaporanga. O pregador é um monge trapista de 88 anos de vida. Um americano que entrou num mosteiro cisterciense trapista nos EUA há 61 anos atrás. Depois foi para o mosteiro de Azul na Argentina, onde viveu catorze anos e depois desse período veio ao Brasil onde se encontra no mosteiro trapista Nossa Senhora do Novo Mundo, em Campo do Tenente - Pr. É a segunda vez que vem a Itaporanga como pregador de retiro. O conheci pela primeira vez em 1987, quando aqui pregou retiro para a mesma comunidade. Na época, eu era um jovem noviço. Já se passaram 25 anos.
Na introdução feita na primeira colocação na tarde de hoje, partindo do texto da carta de Paulo aos Efésios 1,11 - lembrou-nos que nossa vocação é uma vocação de amor e, que, portanto, nosso destino, já antes da fundação do mundo, é ser salvos pelo amor. Por isso a história da Salvação começa com alegria. Isto se verifica quando o anjo anuncia a Maria que ela seria a mãe do Verbo encarnado. Maria, é a cheia de graça. Cada vez que mergulha no mistério do amor de Deus, fica mais cheia de graça ainda.
Com essa colocação, quis o pregador mostrar que nossa vida e nossa vocação de cistercienses se apoia nos mistérios de Cristo. Vivendo nossa vocação monástica como uma pedagogia mistagógica, podemos continuar no seguimento de Jesus, até chegarmos a atingir a nossa identidade que é, a nossa união com Cristo.
Não ter medo, é o pensamento que devemos ter sempre presente ao longo do caminho, pois Deus pensa em nós com amor, tem um plano para cada um de nós. Hoje estamos aqui experimentando a graça do seu amor.
São Bento define o mosteiro como uma escola do serviço do Senhor, onde os irmãos se amam e se servem na caridade. Penso no mosteiro como uma cidade, a cidade de Deus, onde nela se encontra tudo que o monge precisa para viver sua vocação de amigo de Deus e da humanidade. De seus muros deve irradiar para o mundo, um testemunho vivo de esperança.Diante de tantos fracassos e desilusões que experimentam os homens e as mulheres de hoje, os monges devem oferecer-lhes um testemunho da sua fé, esperança e caridade.
Por isso, o Evangelho de hoje ao relatar o pedido que um jovem faz a Jesus para que ele reparta a herança a qual os dois tem direito, Jesus o convida a olhar para os bens que não se perdem. Olhar para esses bens e buscá-los cada dia pela entrega da nossa vida que é marcada por sofrimentos e renúncias, é a verdadeira riqueza que o homem deve lutar para não perder.

Santo Inácio de Antioquia
 

domingo, 16 de outubro de 2011

"Eu sou Deus"

XXIX Domingo do Tempo Comum - A

Homilia no XXIX Domingo do Tempo Comum A 2011 em 14 Outubro 2011.
 
Como não publiquei a homilia do XXIX domingo do tempo comum, quero aqui partilhar a homilia do Pe. Amaro Gonçalo, Pároco da paróquia Nossa Senhora da Hora, publicada no site abc da catequese.
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Esta prioridade é uma urgência, num nosso tempo, como o nosso, em que "está em curso, uma mudança cultural, que leva a uma mentalidade e a um estilo de vida, que dispensam a o evangelho, como se Deus não existisse, e que exaltam a busca do bem-estar, do lucro fácil, da carreira e do sucesso, como finalidade da vida, mesmo em detrimento dos valores morais".
Por isso, já dizia Paulo VI, "não é aceitável, que na evangelização, se descuidem os temas relativos à promoção humana, à justiça, à libertação de todas as formas de opressão, obviamente no respeito pela autonomia da esfera política. Desinteressar-se dos problemas temporais da humanidade significaria ignorar a doutrina do Evangelho sobre o amor ao próximo" (EN, 31.34).Porque o próximo é a outra face de Deus!
Assim se vê, que, ali, onde se esquecem os direitos de Deus e Deus é negado, também se ignoram os direitos do Homem e o homem é diminuído e desprezado!
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O que de melhor podemos dar a César e a Deus, isto é, à causa do Reino de Deus neste mundo, é uma fé activa e comprometida, numa caridade esforçada por servir e amar a todos, dando assim ao mundo razões de uma esperança firme! Deste modo, o que nos é pedido é muito simples: estar no mundo sem ser do mundo!
Por isso, a primeira coisa, na nova evangelização, é colocar Deus, no coração da nossa vida e do nosso mundo, não O guardar para si, nem O esconder no espaço da intimidade pessoal! É preciso dar visibilidade a Deus, na grande praça pública deste mundo, para que, em tudo e sempre, Ele tenha o primeiro lugar!
Estamos a iniciar a semana das Missões. E o Santo Padre vem recordar-nos precisamente que a missão universal, «empenha todos, tudo e sempre». Neste «tudo», estão as duas metades, as duas faces da mesma moeda: o compromisso pelo anúncio de Deus, e o compromisso com a transformação deste mundo!
Com esta resposta, Jesus não nos diz que uma "metade" do ser humano ou do nosso mundo, pertence a César, e a outra metade a Deus! Seria um erro pensar que a primeira metade, a parte material, social, cultural e política da nossa vida, deva ser entregue aos poderes deste mundo; e, nesse sentido, a outra metade, a mais pessoal, religiosa, espiritual, ou interior, seria reservada para Deus. Não. Trata-se simplesmente de colocar Deus, como único Senhor, a quem nos damos, devemos e servimos. E, em nome deste Deus e do Reino que nos confia, comprometermo-nos na transformação deste mundo real, a que nos envia.
E volta à carga, a carga fiscal! Também, no tempo de Jesus, metade do orçamento era para pagar impostos, ainda por cima, a uma potência estrangeira! Por isso, a pergunta a Jesus, que não é Prémio Nobel da Economia, cheira-nos bem a hipocrisia! É uma espécie de cilada, para apanhar Jesus, no que dissesse. "Deve-se ou não pagar o tributo a César", perguntaram fariseus e herodianos, agora unidos numa coligação negativa, contra Jesus, o seu inimigo comum! Jesus deu a resposta, que fez história na história: «Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus». Deste modo, Jesus relega a questão política dos direitos de César, para urgir e lembrar os direitos de Deus! De modo simples, Jesus parece dizer: se a imagem e a inscrição da moeda são de César, não há por que lhe negar esse direito: o seu a seu dono! Mas Jesus vai mais longe e mete "Deus" na conversa, para dizer: só a Deus, pertencem o céu e a terra, só a Deus pertenceis vós, que fostes criados à sua imagem (Gen.1,27) e tendes os vossos nomes inscritos nos céus (Lc.10,10)! Podeis e deveis comprometer-vos, com o mundo, com a sua transformação. Mas não sereis do mundo, isto é, não fareis de nenhum senhor deste mundo, nem do dinheiro, nem de qualquer outro poder, o vosso Deus! A Deus o que é de Deus! Só Ele é o Senhor e não há outro. São Paulo dirá: "Tudo é vosso, mas vós sois de Cristo e Cristo é de Deus" (I Cor.3,22-23)!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

"Os braços de um rio vem trazer alegria, a cidade de Deus"

12 de Outubro - N. Sra. Aparecida Rainha e Padroeira do Brasil

Acompanhei com muita fé e emoção a celebração Solene da Eucaristia, presidida por D. Damasceno, e resolvi compartilhá-la em meu blog.

Para mim todo o sentido da festa se volta para a alegria das bodas em Caná da Galiléia, que acontece também aqui em Aparecida , no Brasil, quando os braços de um rio, trás alegria a cidade de Deus.

Homilia - Festa da Padroeira do Brasil - 2011

Cardeal Dom Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida e presidente da CNBB



Divulgação
Arcebispo de Aparecida e presidente da CNBB, Cardeal Dom Raymundo Damasceno Assis
HOMILIA – 12/10/2011
FESTA DE NOSSA SENHORA APARECIDA
PADROEIRA DO BRASIL

Je désire une cordiale bienvenue, à  Madame Immaculée Ilibagiza,  vous qui avez survécu, miraculeusement, au génocide au Rwanda en 1994. Madame Immaculée  Ilibagiza a emigré aux États Unis où elle a travaillé aux Nations Unies (ONU).  Mère de deux enfants, elle se dédie actuellement à la fondation qui porte son nom: Fondation Ilibagiza.  Madame  Ilibagiza se dédie à aider d’ autres survivants à se récupérer des effets traumatiques provoqués par la guerre.  Sa vie a été préservée, sans doute par l’oeuvre de la Divine Providence, pour qu’elle puisse raconter son histoire et les horreurs de la guerre et en même temps lutter pour un monde plus juste, sans discrimination, sans haine et sans violence;  un monde où tous puissent vivre comme des fils de Dieu et comme des frères les uns des autres.

Soyez bienvenue, Madame Immaculée  Ilibagiza, et que Notre Dame Aparecida vous protège ainsi que votre famille et votre travail pour la paix.


Dou cordiais boas-vindas a senhora Immaculèe Ilibagiza, que sobreviveu, miraculosamente, ao genocídio ocorrido em Ruanda, em 1994. Emigrou para os Estados Unidos e trabalhou nas Nações Unidas (ONU). É mãe de dois filhos e, atualmente, se dedica à Fundação que traz o seu nome: Fundação Ilibagiza, dedicada a ajudar outros sobreviventes a se recuperarem dos efeitos traumáticos produzidos pela guerra. Sua  sobrevivência é obra da divina providência que preservou sua vida para que pudesse contar sua história e os horrores da guerra e lutar por um mundo mais justo, sem discriminação, sem ódio, sem violência, no qual todos possam viver como filhos de Deus e irmãos uns dos outros. Seja bem-vinda, senhora Immaculèe Ilibagiza,  e que Nossa Senhora Aparecida proteja a senhora, sua família e o seu trabalho pela paz.

Em outubro de 1717, três simples pescadores foram mandados ao rio Paraíba a fim de trazer peixes para o Conde de Assumar que iria passar por Guaratinguetá a caminho da Capitania de Minas Gerais, então pertencente a capitania de São Paulo. Após lançarem a rede várias vezes, sem nenhum resultado, ao chegarem com sua canoas ao Porto de Itaguaçu, um dos pescadores, João Alves,  lançou novamente a rede e tirou das águas o corpo de uma imagem, sem cabeça.  Lançando a rede mais abaixo, outra vez, retirou a cabeça da mesma imagem. Era uma estátua da Imaculada Conceição que ninguém sabe como fora parar ali. Ao continuar a pescaria, não tendo até então apanhado nenhum peixe, dali por diante foi tão copiosa a pescaria que os três pescadores admirados do sucesso, viram na pesca e no encontro da imagem um sinal da proteção do céu,  da Senhora da Conceição, representada naquela imagem de terracota, pequena e escura. Felipe Pedroso recolheu, com respeito, a pequenina imagem, envolveu-a  em um pano e a levou para a casa. Mais tarde, foi levada  para um oratório, no Porto de Itaguaçu, onde começou a devoção a Nossa Senhora da Conceição, que, logo foi chamada, carinhosamente, de Nossa Senhora Aparecida.

Vinte e seis anos mais tarde,  no dia 05 de maio de 1743, Dom Frei João da Cruz, Bispo da Diocese do Rio de Janeiro, que na época abrangia a Capitania de São Paulo e quase toda a de Minas Gerais, assinou em Mariana, antiga vila do Ribeirão do Carmo,  o decreto canônico, erigindo  a Capela de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. Dois anos mais tarde, o mesmo Dom Frei João da Cruz, achando-se em Mariana, novamente, em preparativos para a criação da Diocese de Mariana e ciente de já haver sido edificada, no alto do Morro dos Coqueiros, a capela de Aparecida, autorizou por provisão do dia 22 de maio de 1745, a sua bênção litúrgica e o culto divino da mesma. (cf. Oliveira, Oscar. Virgem Maria: Mãe de Deus e Mãe  dos Homens. Mariana: Editora Dom Viçoso, 1968, p. 151).

Quase dois séculos mais tarde, a pequena Capela foi substituída pela atual Matriz Basílica que foi sagrada e inaugurada no dia 08 de setembro de 1909, por Dom Duarte Leopoldo e Silva, Arcebispo de São Paulo.  Com o fluxo de romeiros cada vez mais numeroso, tornou-se necessário a construção de um novo templo, com capacidade para acolher um maior número de romeiros.

No dia 11 de novembro de 1955, com a bênção do senhor Cardeal Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, Arcebispo de São Paulo, iniciou-se a construção deste grandioso Santuário, projetado pelo arquiteto Benedito Calixto. No dia 04 de julho de 1980, o Papa João Paulo II, em sua 1ª visita ao Brasil, fez a sagração deste magnífico templo, cuja construção  tem sido levada adiante graças a colaboração generosa dos devotos de Nossa Senhora Aparecida e ao zelo pastoral incansável dos missionários redentoristas que, desde 28 de outubro de 1894, a pedido de Dom Lino de Carvalho Deodato, 8º. Bispo de São Paulo,  assumiram o cuidado pastoral do Santuário.

Hoje, são mais de 10 milhões de devotos de Nossa Senhora Aparecida que visitam este Santuário e,  com a Rede Aparecida de Comunicação, este Santuário, parafraseando o Papa João Paulo II,  “se converteu, não só para os romeiros, mas também, para o Brasil,  em antena permanente da boa nova da salvação.”

Os textos das leituras que acabamos de escutar nos fazem referência ao tema da festa da Padroeira, deste ano: “Senhora Aparecida, reflexo do coração materno de Deus”.

Ester, órfã de pai e mãe, foi eleita esposa do rei Assuero, rei da Pérsia e pela sua beleza, prudência e  sua confiança em Deus, obteve a libertação do povo judeu que tinha sido condenado ao extermínio por um edito real. A tradição cristã viu no papel desempenhado por Ester em favor do seu povo, a prefiguração de Maria, na sua função materna e de advogada nossa diante de Deus. Esta confiança na missão de Maria de defensora do povo  cristão foi expressa na primeira oração mariana, composta no Egito, no século 3º.: “Sob a vossa proteção nós nos refugiamos, ó Santa Mãe de Deus. Não desprezeis nossas súplicas, mas livrai-nos de todos os perigos, Virgem gloriosa e bendita”.  No decorrer dos séculos, Nossa Senhora tem sido sempre invocada pelos cristãos em suas súplicas, sobretudo, nos momentos difíceis. Diante de Cristo, mediador entre Deus e os homens, Maria é a nossa mãe que está continuamente intercedendo por nós seus filhos. Se os santos podem interceder em nosso favor, com maior razão a Virgem Maria, mãe de Deus e nossa mãe!

No evangelho, São João faz referência a um casamento em Caná da Galiléia e destaca, neste episódio, a presença da mãe de Jesus, do próprio Jesus e de seus discípulos.   Durante o banquete o vinho veio a faltar. Quem dá conta da situação de angústia dos noivos é Maria e ela  apenas diz a Jesus: “Eles não têm mais vinho”. A resposta de Jesus parece de indiferença à preocupação de Maria. “Mulher, porque me dizes isso a mim? Minha hora ainda não chegou”. A resposta de Jesus é um semitismo, isto é,  uma maneira normal da época de se dirigir as mulheres,  como vemos  no diálogo com a mulher adúltera; no diálogo com a Samaritana;  e a mesma  expressão é usada também por ele, no Calvário, quando se dirige a Maria ao pé da cruz: “Mulher, eis aí teu Filho.”

A hora de Jesus, no evangelho de João, é a hora de sua glorificação definitiva, de sua volta ao Pai após sua morte e ressurreição, por isso, ele diz que sua hora ainda não chegou. Maria compreende o significado profundo da resposta de Jesus, e sua hora fixada pelo Pai  não será antecipada.  Maria, porém, com plena confiança e esperança de que seu Filho haveria de resolver a situação,  diz aos serventes: “Fazei tudo o que vos disser”. Este primeiro milagre que se realizou, no inicio de sua vida pública, a pedido de Maria, é o anúncio simbólico da hora de Jesus, da manifestação da sua glória e os seus discípulos creram nele.

Maria é o reflexo humano do coração materno de Deus. Por isso, os fiéis recorrem a ela com tanta devoção, pois sentem intuitivamente este amor materno.  Sabem que Maria compreende sua dor e seus desejos, entende suas limitações. Reconhecem em Maria a nossa irmã, que viveu como perfeita discípula de Jesus com esperança e coragem. Reverenciam a Senhora Aparecida como Mãe nossa, que reúne os filhos e filhas debaixo de seu imenso manto. Pois o povo costuma dizer: “em coração de mãe sempre cabe mais um filho”. No cuidado e na ternura de Maria se reflete a bondade de Deus. No seu canto, chamado “Magnificat”, ressoa a voz do Deus que olha com carinho especial para os pobres e injustiçados deste mundo.

Podemos dizer, com certeza: Maria é reflexo do amor de Deus. Ela não é fonte. Por isso, no culto católico, Nossa Senhora não ocupa o lugar de Jesus, que é o único mediador entre Deus e a humanidade, como afirma São Paulo, na primeira epístola a Timóteo. Maria consegue as graças que pedimos, mas é Deus que as concede.

Hoje,  dia da Padroeira e Rainha do Brasil, rogamos à Mãe de Deus, Nossa Senhora da Conceição Aparecida, que cuide de nosso amado e continental país, que foi confiado à sua proteção como Padroeira principal de nossa Nação Brasileira e de sua boa gente. Que a Senhora Aparecida faça crescer em todos nós a fé em Jesus, o compromisso de anunciá-Lo aos nossos irmãos, a consciência cidadã, a responsabilidade de cuidar também dos mais fracos e de proteger o meio ambiente.

Confiantes, suplicamos à Mãe de Jesus que faça de cada um de nós e das nossas comunidades, reflexo da misericórdia de Deus. Alegres, recorremos à Mãe Aparecida, dizendo: “Maria, reflexo do coração materno de Deus”, rogai por nós. Amém!

Dom Raymundo Damasceno Assis
Cardeal Arcebispo de Aparecida, SP


Assista à homilia na íntegra

Vinha e Banquete escatológico

XXVIII Domingo do Tempo Comum - A

sábado, 8 de outubro de 2011

"Fica conosco Senhor!"

XXVII do Tempo Comum - Ano A



XXVII Domingo do Temo Comum – Ano A
"A Vinha do Senhor é a Casa de Israel!"
Isaías 5,1-7
Salmo 79.9.12.13.1415.16.19.20
Filipenses 4,6-9
Aclamação ao Evangelho
Aleluia 3x – Jo 15.16
Evangelho 21,33-43
Queridos irmãos,
Queridas irmãs,
O tema da Vinha reaparece novamente na liturgia de hoje com o objetivo de mostrar os saborosos frutos que a vinha deve produzir, nesse caso, frutos de justiça e de direito.
Na verdade, o tema da Vinha quer nos falar do profundo amor de Deus pela humanidade. Isso se torna claro pela forma como o profeta Isaías se serve de um poema para falar da vinha de um amigo seu.
Sim, a Vinha do Senhor é a casa de Israel! O povo eleito é a dileta videira do Senhor, não por ser o melhor povo entre os povos da terra, na verdade é um povo pequeno e insignificante frente aos outros.Mas é o povo pelo qual o Senhor demonstra uma afeição especial, escolhendo-o para ser "Luz" entre as nações.
Na verdade, sob a forma de parábola, o profeta canta o cântico da vinha de um amigo seu em tom de acusação contra Israel. Primeiramente o cântico descreve o amor zeloso do dono da vinha. Ele limpa e prepara o terreno em "fértil encosta", constrói um muro de proteção, uma torre de guarda, um lagar para pisar as uvas e do Egito, transporta a sua videira querida (salmo 79,9). Claro que, o amor do amado, isto é, o senhor da vinha, espera frutos de amor – "até o mar se estenderam seus sarmentos, até o rio os seus rebentos se espalharam" (Salmo 79,12). Todo amor espera ser correspondido – "Esperava que ela produzisse uvas boas, mas só produziu uvas selvagens" (v.2). Seu projeto foi por água abaixo. A partir daqui, Deus toma a Palavra para censurar a falta de correspondência ao seu amor por parte da vinha, bem como nos mostrar as conseqüências da ingratidão: "Vou desmanchar a cerca, e ela será devastada; vou derrubar o muro...; vou deixá-la inculta e selvagem..." (vv.5-6). Como conclusão: o povo que haveria de dar frutos de justiça e fidelidade por ser vítima do sofrimento em terra estrangeira, facilmente se esqueceu do compromisso e da aliança quando se viu em melhores condições. Justiça e direito quando são deixados de lado, a vida de um povo está destinada ao fracasso.
Em Jerusalém, no interior do templo, Jesus retoma esse tema em seu diálogo com os sumos sacerdotes e anciãos do povo. É mais uma parábola que Jesus lhes conta. "Escutai essa outra parábola" (v.33). Veja, ele pede para escutar. Sabemos que escutar é mais do que ouvir. "Trata-se de parábolas de confronto e de conflito entre o Mestre da justiça e os promotores da sociedade injusta. Na parábola de hoje, são eles os vinhateiros. Não só não produzem frutos de justiça e direito, mas impedem que os mensageiros (os profetas) suscitem no povo esses mesmos frutos"(vida pastoral, Set / Out 08. P.52).
Vejamos como o projeto da vinha é retomado. "Certo proprietário plantou uma vinha, pôs uma cerca em volta, fez nela um lagar..., arrendou-a a vinhateiros e viajou para o estrangeiro" (v.33). Todo cuidado e zelo do proprietário da vinha revelam que ele não quer nada para si, antes quer doar de si, isto é, a sua parte. O Pe. Bortolini, na já citada revista, acrescenta – "A historia é o tempo e o lugar onde Deus quer colher frutos de justiça e de direito". O momento da colheita e, conseqüente devolução da parte do proprietário, é marcada por um grande sentimento de egoísmo, aliado da inveja, que gera, espancamento de uns, apedrejamento de outros, bem como assassinato de outros. Mata-se a todos, isto é, os profetas, para que eles não "suscitem no povo" os frutos da justiça e do direito.
Em seu Filho, que como todos os profetas, também será espancando, morto e, jogado para fora da cidade, Deus retoma o seu projeto original. Ele que havia abandonado a sua vinha, volta agora ao seu encontro para refazê-la na pessoa do seu Filho, pedra angular, isto é, pedra principal que fora jogado fora da vinha. O Senhor abandona a sua vinha por um período provisório, a fim de voltar no momento oportuno na pessoa do seu Filho a fim de dar a sua vida pela vinha. Só o seu amor pela vinha poderá fazer ela produzir os frutos do direito e da justiça como expressão de fidelidade à aliança. Na verdade, a união do Filho com a vinha se tornam uma união esponsal, uma vez que a vinha é símbolo do amor. Unida ao esposo, a vinha dará os frutos esperados.
De fato, o esposo da vinha, espera uma atitude dos que o escutam. Mas como eles partem do principio de que é legitimo matar e tomar a vinha para dá-la a outros, isto é, dar continuidade ao que eles já fazem, Jesus declara solenemente: "O Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos" (v.43). Isso se dará sem violência da parte do proprietário. Mas nos perguntemos agora: "Em nossa vida diária não há algum tipo de cumplicidade" com os vinhateiros homicidas? O que temos feito na prática pelo estabelecimento da justiça e do direito no mundo atual? A Palavra de Deus nos questiona muito. O fato de sermos cristãos não nos garante o Reino. Somos escolhidos para sermos sinal do amor, da misericórdia e da salvação de Deus. É preciso provar essa escolha de Deus com frutos e ações concretas de justiça e direito. Ser Cristão é dar a vida"(Roteiros homiléticos, CNBB, Set / Out / Nov. Ano A – 2008 ).
Esta Parábola nos ensina a paciência de Deus. Ele tem paciência com o povo. "Finalmente, envia seu ‘Filho amado’, Jesus, para no-lo revelar e dar contas a ele. Mesmo que alguns o rejeitem e alguns de nós continuemos a fazê-lo, Deus ainda não expulsou os arrendatários. Mas a parábola nos diz que chegará o tempo em que, como o dono da vinha, a paciência de Deus terminará e seremos chamados a dar conta da nossa administração da vinha" (John L. McLaughlin, Parábolas de Jesus, Ed. Ave Maria. P.88).
Paulo, Apóstolo missionário, apaixonado por Jesus Cristo Crucificado, escrevendo aos Filipenses recomenda não ser necessário inquietar-se, perder a cabeça diante dos obstáculos, mas, com orações e súplicas, apresentar a Deus na Eucaristia, o que cada um precisa, pois a Paz e a justiça, brotam da Cruz. Esses são os primeiros e grandes frutos da nova vinha.
Para finalizar essa reflexão, a Palavra de Deus, proclamada e partilhada, nos convida a levantar os olhos para Cristo e, com os discípulos de Emaús, fazer nossa a sua súplica: "Fica conosco Senhor".



 


Pe. Basílio J. Ilton Alves, O. Cist.