domingo, 6 de novembro de 2011

“A Santidade é a vocação da Igreja”

Solenidade de todos os Santos

05/11/2011

“A Santidade é a vocação da Igreja”


Queridos irmãos e irmãs, celebramos neste domingo, a solenidade de todos os santos e santas, homens, mulheres, crianças, jovens e adolescentes, que ao longo da história da Igreja, deram seu testemunho de amor apaixonado por Jesus Cristo e o Reino de Deus.



A verdade acerca da santidade é que ela não é um apêndice na vida da Igreja, reservada a poucos privilegiados, mas constitui sua própria vocação e missão. O beato João Paulo II na carta Novo Melenio Ineunte, afirmava: “o horizonte para o qual deve tender todo o caminho pastoral é a santidade”. E reafirmava que após as celebrações do grande jubileu, voltando à vida ordinária, o trabalho da Igreja continua ser: “apontar a santidade permanece de forma mais evidente uma urgência da pastoral”. Sim, meus irmãos, sem santidade a missão não se desenvolve e não irradia a alegria de quem encontrou Jesus Cristo. Por outro lado, uma pastoral que não leve em conta esse programa, corre o risco de ser mais um trabalho de caráter social, a ser desenvolvido por uma agência de propaganda que tem muitos voluntários. Mas a Igreja não é uma agência de propagada. Ela é sacramento de salvação. Casa e escola da comunhão (DA). Por essa razão, o DA desenvolve no cap. IV o tema: “A vocação dos discípulos missionários à Santidade” e afirma no N. 129 – “Deus Pai sai de si para nos chamar a participar de sua vida e de sua glória”. Por isso, Ele, “que é Santo e nos ama, nos chama por meio de Jesus Cristo a sermos santos (Ef 1,4-5)”. Essa é a grande verdade. Após a queda no paraíso, Deus não nos abandonou. Seus passos, ouvidos no jardim do Éden, caminha na direção dos nossos pais, produzindo em seus corações, medo de Deus. Mas na encarnação, ele se aproxima de nós e nos chama em Jesus Cristo a participar da sua vida e glória, isto é, da sua santidade. A consequente perda da nossa semelhança com Deus em razão da desobediência traz consigo a dessemelhança, tema que foi desenvolvido por alguns de nossos autores cistercienses. Mas, em Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, o Pai nos restitui o dom da semelhança com ele e mais ainda, chama-nos a participar da sua vida e felicidade.



As leituras bíblicas desta solenidade nos oferecem o programa a ser desenvolvido pela Igreja, casa e escola da comunhão, tendo em vista, alcançarmos a santidade como meta do nosso discipulado.

A 1ª leitura (Ap 7,2-4.9-14), se situa no contexto das visões proféticas. O texto está cheio de uma linguagem simbólica, bem ao estilo apocalíptico. Primeiramente encontramos um anjo que sobe do lugar de onde nasce o sol, o oriente. É do Oriente que brilhou para o mundo, a estrela que anunciou a chegada do salvador em nossa humanidade. O anjo traz consigo a marca do Deus vivo, as chagas redentoras. Esse anjo é Cristo. Sua missão é marcar na fronte os servos de Deus, antes que a terra e o mar, lugares onde se travam a luta pela vida, sejam atingidos pela justiça de Deus que não deixe sem punição, os que matam e perseguem as testemunhas do Cordeiro. Descrevendo o número dos assinalados, percebemos que o quadrado de 12 (número sagrado e ao mesmo tempo simbólico, pois ele corresponde as 12 tribos de Israel), dividido por mil, chega-se a soma de 144 mil, isto é, a multidão dos fiéis de Cristo, povo de Deus, novo Israel. Eis que agora surge a imensa multidão dos que saíram vitoriosos do confronto com o mundo e suas forças hostis a Deus e ao testemunho de Jesus. Essa multidão está de pé, diante do trono e do cordeiro, rodeada pelos anjos, os vinte e quatro anciãos que aqui exercem uma função sacerdotal e real: louvam e adoram a Deus, oferecendo-lhe as orações dos santos. Em sua presença, vestidos de branco e com palmas nas mãos, a multidão dos redimidos, entoa o Hino da vitória do cordeiro, proclamando com voz forte: “A salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono e ao cordeiro”, e como doxologia desse canto de salvação, adoram a Deus dizendo: “Amém. O louvor, a ação de graças, a honra, o poder e a força, pertence ao nosso Deus para sempre. Amém”. Nesse canto, ressoa aquele que no passado foi entoado por Moisés, após a travessia do mar vermelho – “Ao Senhor quero cantar, pois fez brilhar a sua glória (Ex 15,1). Neste mundo, “vale de lágrimas” como cantamos na Salve Rainha, os cristãos, peregrinos que somos e povo a caminho da casa de Deus, queremos fazer nosso esse mesmo canto. Com o canto do salmo, tornamos atual esse canto que reconhece a geração dos santos quando canta: “É assim a geração dos que procuram o Senhor e do Deus de Israel buscam a face” (Sl 23/24,1.2-3.4ab.5-6). A geração dos santos e santas desse início de milênio é chamada a continuar  a ter  “mãos puras”, isto é, abertas ao dom do serviço, da justiça e da paz; a ter “inocente coração”, lugar onde se cultiva o amor e de onde se esparrama como óleo da alegria para aliviar a dor e o sofrimento da humanidade. Os santos e santas de hoje, são também chamados a manifestar a ternura do divino samaritano, sendo bálsamo de Cristo que cura, reconforta e reanima os doentes e sem esperança;  eles “não dirigem sua mente para o crime”, mas cultivam a sabedoria e a testemunham como sinal profético de esperança num mundo que ver a cada dia crescer a criminalidade e seu poder de morte. Os santos de hoje, devem empunhar a arma do amor e da não violência, como o único meio de combate as estruturas geradoras de morte.



São Bento retoma a passagem desse salmo no prólogo da sua regra (RB Prólogo, v. 21), para indicar como devemos cumprir com nossa obrigação de moradores na casa de Deus, o mosteiro, o planeta. Isso vale também, para o nosso mundo, que deveria ser visto como antecipação da grande casa de Deus, pois Deus mora conosco, armou sua tenda entre nós. Nossa condição de moradores nessa casa exige de nós, ter os “rins cingidos” e “guiados pelo Evangelho” (v. 21), caminhar sem mancha, realizando a justiça, falando a verdade no coração, sem dolo na língua, não fazendo mal ao próximo e não acolhendo a injustiça contra o próximo. Os santos foram pessoas como nós. Santificaram-se vivendo o ordinário de suas vidas com alegria e confiança em Deus. Viveram no mundo sem ser do mundo, como se já estivessem vivendo na casa de Deus, o céu. Passaram o céu na terra fazendo o bem, como ensina santa Teresinha do Menino Jesus. São Bento critica o monge que se apresenta como santo antes de o ser (RB 4,62), mas crer que ele pode chegar a realizar com os seus irmãos, essa vocação da Igreja, através da prática das boas obras (RB 4), pois o fundamento de uma vida santa é o amor a Deus e aos irmãos. Por isso mesmo, a Igreja não pode delegar o serviço da caridade ao poder do estado, mas deve ela tornar sempre atual a caridade de Jesus no cuidado aos pobres, doentes e encarcerados, órfãos e viúvas, bem como todos os marginalizados para, na caridade, viver sua vocação a santidade.



Nossos irmãos, os santos e santas, descobriram o amor de Deus como um presente e só pode ser chamado filho de Deus quem vive o mandamento de Jesus. Essa descoberta os animou a viverem sua vocação filial no serviço abnegado, ao ponto de serem visto como estranhos por uns e, ignorados por outros. Assumiram ficar no lugar dos que não eram reconhecidos, a falar por eles, a tirar suas vestes para cobri-los e seus calçados para calça-los. É comovente o pedido que a beata irmã Dulce faz a sua madre geral: “Estou precisando de sapatos e de camisas. O hábito e o escapulário eu ainda tenho”.



Amados irmãos e amadas irmãs, Jesus nos é apresentado pelo evangelista Matheus, sentado no monte. Ele é o novo Moisés. O monte é a sua cátedra, lugar de onde ensina a multidão e os discípulos. Na montanha, Moisés recebeu de Deus os mandamentos, isto é, a lei. Agora, Jesus, entrega aos discípulos não uma lei, mas um programa de vida evangélica. A execução desse programa concretizará a realização do reino de Deus. No início desse mesmo programa, Jesus proclama “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus”. Os pobres de espirito são os que deixam de lado suas necessidades para assumir as dos seus irmãos. Por isso não são apegados a nada. Eles se tornam tudo para todos e com disponibilidade, caminham ao encontro dos irmãos para servi-los em sua dor e sofrimento. Nada possuem, nem mesmo a própria vida, porque descobriram que ela é dom que deve ser colocado a serviço dos irmãos e da construção do Reino de Deus. Esses pobres de espírito se tornam servidores da justiça do Reino e por causa dessa sua vocação, são perseguidos, rejeitados e mortos. Mas essa primeira bem-aventurança encontra seu complemento na 8ª bem-aventurança – “Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus”. As duas primeiras bem-aventuranças desenvolvem o tema da mística do serviço como amor, ao passo que as outras sete (7), estão estruturadas na forma como elas se concretizam no cotidiano da vida do discípulo missionário. Os irmãos e irmãos que hoje celebramos como santos e santas, fizeram dessa página evangélica, a carta magna, ou melhor, a constituição de sua vocação a santidade. Como eles deram testemunho corajoso de Jesus, também hoje, o nosso testemunho deve ser dado a partir da vivência desse mesmo programa, que formou uma multidão imensa de discípulos, santos e santas. Assim seja!

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