domingo, 25 de setembro de 2011

“Livres no amor”

XXVI Domingo do Tempo Comum A

Leituras:
1ª Profecia de Ezequiel 18,25-28
Salmo 24(25)
2ª Leitura – Filipenses 2,1-11
Evangelho Mateus 21,28-32
      Queridos irmãos e irmãs, imagino que ao longo da semana que passou, tenha ecoando em nosso coração, a palavra que Jesus dirigiu aos operários da primeira hora: “Estás com inveja porque eu estou sendo bom?” (Mt 20,15). Imagino ainda que tenhamos nos esforçado para aceitar a lógica de Deus nas situações em que nosso modo de agir é diferente do seu modo de se comportar em relação as fraqueza da pessoa humana.
         Na liturgia de hoje, continua ressoando com maior exigência, o convite a conversão da visão que temos de Deus em vista dos nossos méritos. Toda a liturgia da Palavra que acabamos de escutar, nos convida a descobrir como Deus é livre na forma de amar. A conversão que a palavra de Deus pede hoje de cada um de nós, dia dedicado a Bíblia, aqui na Igreja do Brasil, é que cresçamos também nós, “livres no amor”. Penso que essa expressão: “livres no amor”, nos ajuda a descobrir melhor, o modo, como viver nossa vocação cristã ao mesmo tempo em que pode ser o tema da nossa reflexão.

         A 1ª leitura da profecia de Ezequiel se insere no contexto do exílio na Babilônia e, entre eles, se encontra também o profeta. A leitura procura responder a pergunta: “quem é o culpado por essa desgraça?” Num primeiro momento, a resposta se volta para culpar os pais e os antepassados por sua infidelidade a aliança. Mas essa forma de pensar cria um problema, pois exime cada um de sua responsabilidade pessoal, podendo chegar ao ponto de querer jogar a própria responsabilidade em Deus que agora parece não querer fazer nada para livrar seu povo do sofrimento. Por isso, a palavra do profeta é uma exortação dirigida aos que são fiéis para que continuem firmes na prática do bem e da justiça, e uma exortação, aos que cometeram o mal, para que se arrependam dos seus pecados e encontrem no amor do Senhor a vida que aspiram.
         A palavra e a vida do profeta no meio do povo, o faz perceber, a responsabilidade pessoal que cada um tem pelo bem que deixou de fazer ao optar pelo mal, isto é, ao praticar a injustiça e desrespeitar o direito, ao mesmo tempo em que, reafirma, o sentido da esperança como caminho para a vida para aqueles que, afastando-se do mal pelo arrependimento, voltam-se para Deus, fonte de amor e misericórdia. Vendo o crescimento da injustiça no mundo, alguns, talvez, sejam tentados a não fazer nada, por acreditar que tudo já está corrompido. Aos que nos perguntarem se é possível haver mudança no cenário de dor e morte, gerada pela injustiça e a corrupção em todas as esferas de poder, a nossa resposta deveria soar como um brado profético, sim, há, se cada um assumir suas próprias responsabilidades diante do mundo e da vida.  Nossa vida parece estar condicionada por escolhas erradas, mas podemos nos livrar dessa pesada herança. Deus está sempre disposto a ajudar a quem renuncia o mal a reencontrar a vida. Alguém já disse, o futuro se constrói agora, a partir de cada decisão positiva ou negativa. O cristão no mundo é chamado, a assumir suas próprias responsabilidades, não somente no campo da evangelização, mas, sobretudo, na construção de uma sociedade justa e igualitária para todos. Essa sociedade nova nasce, quando eu aceito que o senhor possa recompensar a todos com o mesmo amor. Então, também eu e você e o outro que não está aqui conosco celebrando a eucaristia, formos capazes de olhar para os outros nas suas diferenças, reconhecendo-os como irmãos (ãs) com direito a mesma herança dos filhos de Deus, estará se desenvolvendo em nós, o sentido da conversão. É aqui que começa a encarnação da profecia como anuncio do amor como disse há poucos dias (XXIII Domingo do Tempo Comum, A).

         A responsabilidade pessoal é o fio condutor que a leitura nos oferece para a reflexão do evangelho desta eucaristia. O relato evangélico situa-se após a entrada de Jesus em Jerusalém. Tendo entrado no templo, Jesus realiza com a sua presença uma purificação da casa do Senhor. Não se trata de uma purificação ritualista, mas de descoberta da novidade de Deus. Deus se faz presente no meio do seu povo pela humanidade do seu Filho, ele é o novo Templo. Todos conhecemos a reação dos mestres e anciãos (judeus) que perguntam a Jesus de onde ele recebeu autoridade para agir da forma como está agindo entre eles. A resposta lhes será dada através da parábola dos dois filhos que mostra a recusa de Jesus pelos judeus (templo) e sua acolhida pelos pecadores (pagãos). A parábola também vem questionar nossas seguranças religiosas e despertar em nós, o sentido da conversão da imagem de Deus que premia os bons, mas castiga os maus, ou o que é pior, não se dando por satisfeito em punir os que erram, pune também seus descendentes. Há quem pense também hoje que seu sofrimento é por causa dos pecados dos avós, pais, gerações passada, antepassados, etc. Eu não gosto de ouvir esse tipo de discurso, pois ele não me mostra o Deus que Jesus nos revelou. Quem pensa assim, não é capaz de ver seu sofrimento como uma participação no mistério da cruz de Cristo, mas, sim, como uma maldição. Amados irmãos, Jesus veio justamente para arrancar de nós a maldição e nos fazer experimentar a alegria de sermos salvos (Sl 50). A cena evangélica se compõe de um pai e dois filhos. Mas onde está a mãe? Os dois filhos são convocados pelo pai a trabalhar na sua vinha. Num primeiro olhar, mais superficial, temos a impressão que um é filho  bom, obediente e, o outro, ruim, desobediente. Até podemos imaginar quem sejam esses filhos. O primeiro é o povo eleito (Israel) e o segundo, os pagãos. Mas o problema é admitir que Deus tenha dois filhos, quando na verdade ele só tem um (Israel era assim que pensavam os mestres da lei). Isto se constituía um problema para a teologia do templo. Por outro lado, encontro um problema sério para resolver nessa parábola. O texto da nossa versão em português diz que o pai dirigindo-se ao primeiro filho diz: “Filho, vai trabalhar hoje na minha vinha!”. Mas o filho lhe respondeu “Não quero. Mas depois mudou de opinião e foi”. Dirigindo-se ao segundo fez o mesmo pedido.  E ele lhe respondeu: “Sim, senhor, eu vou. Mas não foi” (v.30). Olhando o texto de forma superficial, podemos entender que, Israel é o filho obediente e que os pagãos, o segundo filho, é o eterno rebelde em relação a Deus. O texto na versão italiana, descreve o primeiro como o filho desobediente porque diz ao pai que vai, mas depois não vai. Quanto ao segundo, ele diz que não vai e depois vai. Assim fica fácil de resolver a situação complexa que a parábola contém. De fato, há um paradoxo na parábola. Vejamos: é a obediência do primeiro filho e a desobediência do segundo. O primeiro muito bem representado por Israel, sabe com prontidão dizer sim, sem pesar o peso da conseqüência desse“Sim”. Ao longo de toda a história da salvação, Israel se volta para Deus e acolhe a sua palavra proclamada pelos profetas. Cumpriu religiosamente com todas as normas legais (lei) e até criou outras normas e mandamentos, tão grande era o seu zelo pela lei. Mas, finalmente, quando o Pai revela o seu filho ao mundo, não sabe como o acolher porque é por demais humano. É agora que o primeiro filho começa a dizer não. O sim dado no passado, não tem repercussão no presente. Já quanto ao segundo filho que disse “não vou”, mas que se arrependeu depois, graças à pregação de João Batista e em seu coração foi acolhido o convite de Jesus a conversão, vemos nele como se passa da desobediência para a obediência. Nele (a) acontece uma mudança radical na vida e o “não” é substituído pelo “sim” que acolhe o amor de Deus e se deixa transformar por esse amor.

         Queridos irmãos e irmãos, deixemos ressoar hoje em nosso coração a voz de Cristo que é uma voz que nos convida a conversão das nossas práticas religiosas. O paradoxo é justamente esse: os que se julgavam justificados com base nas suas próprias obras se tornaram rebeldes, ao passo que os rebeldes, abandonando seu passado, se dispuseram a entrar na vinha, onde trabalhando a sua conversão, deram frutos abundantes. Esses foram os cobradores de impostos e as prostitutas. Mas não nos enganemos ao sair daqui, tranqüilos, por pensar que estamos na mesma situação que o primeiro filho, isto é, com nossas obrigações em dia, inclusive, com o dever cumprido por ter cumprido o 5º mandamento da Igreja, “participar da missa aos domingos e festas de guarda”, pois, na verdade, somos hora um, hora outro, o melhor seria mesmo que fôssemos um terceiro filho, aquele que com coragem diz “sim, eu vou” e vai mesmo, mesmo que isto custe o preço da sua vida (exemplo dos mártires). No evangelho os pecadores nos ensinam que, não é  possível acolher o reino de Deus, se não temos consciência da nossa pobreza em relação ao amor.

         Paulo na 2ª leitura (Fil 2,1-11) nos mostra a Igreja como mãe que nos educa para a superação das competições e ambições que podem surgir no seio da comunidade, prejudicando a unidade construída por Jesus na sua morte e ressurreição. Essa mãe terá sempre como modelo a ser imitado, Cristo, que, humilhando-se, assume a nossa condição humana e percorrendo o caminho da obediência e do serviço, recebe a glória que tinha junto do Pai antes da encarnação. Jesus Cristo é, portanto, o ponto de unidade na comunidade. Podemos ser diferentes e temos o direito de sermos nós mesmos, mas em Cristo, a comunidade se encontra no amor. O hino de cunho cristológico, reconhece e canta o amor obediencial do Filho, ao mesmo tempo em que, a criação salva e redimida por ele, o proclama Kyrios, isto é Senhor. Jesus é para nós, o modelo do Filho obediente. Nele, por ele e com ele, nós, filhos no único Filho, podemos entrar na vinha do Senhor, isto é, na casa do seu coração “rico em misericórdia”.

domingo, 18 de setembro de 2011

“Deus nos surpreende com a sua bondade ao ir ao encontro dos primeiros e dos últimos”

XXV Domingo do Tempo Comum – A
     
A liturgia deste Domingo nos convida a conversão para que possamos conhecer “os pensamentos” e “os caminhos” de Deus, ou seja,  conhecer o “surpreendente Deus”. Tal descoberta exige de nós dar passos pedagógicos/catequéticos, a fim de superarmos a falsa imagem de Deus que nos foi passada num contexto de limitações e mesquinharias. De fato, toda a liturgia da palavra, nos interpela a refletir se, o Deus que conhecemos, é de fato, o Deus que Jesus nos revelou. Às vezes, tenho a impressão que sabemos pouco de Deus e sabemos menos ainda, quando achamos que já o conhecemos. O critério bíblico para saber se conhecemos a Deus, passa pelo amor aos irmãos (1Jo 4,7). “Amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo o que ama, vem de Deus e conhece a Deus”. Nós, não conseguimos amar muito ainda com aquele amor que Deus nos amou em Jesus Cristo, consequentemente se torna claro, embora nem sempre seja aceito que, na verdade, ainda não conhecemos a Deus. As ideias e os conceitos que temos de Deus podem, facilmente, nos desviar do Deus da ternura revelado por Jesus. Então, cada um, cria um deus que corresponda a seus interesses e caprichos. Por isso, o convite à conversão que nos faz a liturgia da palavra deste Domingo é, “como matar nossos deuses e em que Deus acreditar” (título de uma obra).



         Amados irmãos e irmãs, o contexto em que se situa a 1ª leitura (55,6-9), é o da experiência de Israel no exílio na Babilônia. Para esses exilados, Deus os teria esquecidos numa terra estanha por causa de sua infidelidade a aliança. Às vezes, diante de situações difíceis, sentimos que Deus pode ter nos abandonado quando cometemos um pecado, e, por causa disso, estamos pagando um alto preço com o sofrimento que pode ser uma doença ou algum problema na vida pessoal, familiar e comunitária. Erra quem pensa assim. Estaria reduzindo Deus (Deus é amor) a um homem mesquinho que se realiza quando se vinga das pessoas. Em situações assim, há quem não sabe dar “uma boa palavra” e acaba reforçando o sentimento de culpa e autodestruição. Gostaria que a pessoa que não tem discernimento nem maturidade espiritual nunca atrapalhasse tais pessoas. A missão profética é apontar para a um caminho de esperança, pois onde há esperança, a vida se renova. Quem tem esperança, se volta para Deus e descobre que sua generosidade é perdão. É aqui que o pecador descobre Deus como aquele que nos surpreende pelo amor – “Estão meus caminhos tão acima dos vossos caminhos  e meus pensamentos acima dos vossos pensamentos quanto está o céu acima da terra” (v.9). Deus sempre nos surpreenderá com a infinidade de seu amor.

                       

         Os dois último versículos da 1ª leitura servem de introdução ao evangelho de hoje. A parábola dos operários da vinha serve para nos mostrar como Deus age com Israel e com os pagãos. Israel, o povo da aliança, é representado pelos operários da primeira hora (madrugada), os pagãos, pelos operários da ultima hora. Uns e outros recebem o mesmo valor, “uma moeda de prata por dia” (v.2).



         O contexto da parábola é, sobretudo, o da resposta à pergunta “o que devo fazer para ter a vida eterna”, feita pelo jovem rico a Jesus. O jovem já cumpria todos os mandamentos e normas morais, mas não foi capaz de perceber que o cumprimento frio da lei não o fez conhecer Deus na verdade. É Jesus quem lhe diz o que lhe falta para ele chegar ao conhecimento de Deus: “vai, vende tudo e dá aos pobres, depois, terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me” (19,16-22).



Diante da resposta que Jesus dá a ele, os discípulos ficam desconcertados. A palavra que Jesus oferece a ele é uma palavra boa, mas é uma palavra exigente, pois implica desapego e renúncias. Até mesmo seus discípulos ficam desconcertados. Mas Jesus não volta atrás para oferecer uma palavra menos exigente. Pelo contrário, o jovem rico, pode ser uma imagem também de Israel pelo conhecimento que ele tem da lei/mandamentos, afasta-se de Jesus e vai embora muito triste. Os operários da primeira hora (símbolo de Israel) ficam com ciúmes diante da generosidade do patrão. Por isso o questionam e o acham injusto. Há quem não aceite como correta o comportamento do patrão. Até mesmo aqui entre nós, há quem esteja pensando nos direitos humanos (eles suportaram o peso e o calor do dia) e poderiam ter recebido uma gratificação como forma de reconhecimento pelo esforço e o desgaste. É aqui que entra a religião do mérito como forma de manipular Deus. É aceito hoje, que o salário deve corresponder ao trabalho feito. Mas, só para esclarecer, a parábola não fala disso, mas de Deus e de seu modo de ser. As últimas palavras do texto evangélico nos ajuda a perceber o sentido da narrativa: “Estás com inveja por que eu estou sendo bom (v.15)”.  São palavras que Deus, de alguma forma, dirige hoje a cada um de nós que participamos dessa eucaristia. É uma afirmação da sua bondade para com todos e ao mesmo tempo, uma denúncia profética da nossa mesquinhez e ânsia de querer manipular até Deus. Vejo pessoas que pensam manipular Deus quando assumem perante os outros uma postura de falsa humildade e se escondem atrás de uma falsa imagem de Deus para se auto afirmar no ambiente eclesial e social. Aquele que se faz de coitadinho para ter uma acolhida melhor, mostram o quanto é ainda fraco. Precisa de compaixão.  Não é mostrando seu aparente esforço de conversão que vai manipular Deus como em certas situações, consegue manipular os que são considerados menos esclarecidos culturalmente ou instruídos na vida religiosa.



         A parábola nos revela um Deus de ternura que a todos quer estender a sua bondade. Um Deus que vai ao encontro dos primeiros que já estavam acordados (madrugada), mas que também vai ao encontro dos que ainda no final do dia, não tinham se dado conta da sua passagem pela praça da cidade. Aliás, a imagem da praça é aqui muito significativa. A praça é comumente um lugar de encontro, festas, celebrações. É um espaço aberto a todos. Nela todos podem chegar e encontrar o que buscam. Nela há pessoas consideradas boas e ruins. Nela se encontra Israel e os pagãos. Mas, sobretudo nela, chega àquele que é capaz de reunir na praça do seu reino a todos. Por isso, a parábola foi utilizada por Jesus para falar do “Reino dos céus” (v.1). Na vinha do Senhor, somos chamados a ser “humildes operários” como falou o atual papa Bento XVI ao se apresentar ao mundo como sucessor de Pedro no dia de sua eleição.



         O Apóstolo Paulo nos ensina com o seu testemunho na 2ª leitura (Filipenses) como deve se comportar o operário: “para mim o viver é Cristo...”. Estar disposto a servir a causa do evangelho e dos irmãos, dá sentido a vida e a missão do discípulo missionário. Um operário deve viver sempre a altura do evangelho pelo modo discreto e responsável na tomada de decisões ou posturas, para não expor nenhum dos irmãos a uma situação de vexame diante de um mundo que se distancia de Deus e muitas vezes, por culpa de quem, devia ser fermento de unidade na comunidade, mas para aparecer como justo, até como forma de reparar seu próprio passado, busca arruinar a vida dos outros que também estão trabalhando na vinha. Isso não é viver a altura do evangelho. Viver a altura do Evangelho é assimilar a compaixão de Deus, sua bondade e misericórdia.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

“Perdão como cura das enfermidades” (Salmo da missa de hoje, 102/103,3).

XXIV DOMINGO DO TEMPO COMUM – A



“Perdão como cura das enfermidades” (Salmo da missa de hoje, 102/103,3).

1ª Leitura, Eclesiástico 27,33-28,9

Salmo 102/103

2ª leitura, Romanos 14,7-9.

Evangelho, Mateus 18,21-35



        Queridos irmãos e irmãs, a liturgia de hoje nos oferece o tema do perdão sem limites. Já o apostolo São João nos ensina em sua primeira carta – “Deus é amor” (1Jo 4,16). O perdão está no amor, ou melhor, a casa do perdão é o amor. Por isso, entrar na dinâmica do perdão é fazer uma experiência de ressurreição, isto é, ser curado de toda culpa e enfermidade. O ódio, ao contrário, tem como casa que o hospeda a sepultura, ou seja, a morte. Quando perdoamos, experimentamos a força do amor que “da sepultura salva a nossa vida e nos cerca de carinho e compaixão” (salmo da missa de hoje, v.4).



        Por isso, quero refletir na homilia de hoje, o tema do “Perdão como cura das enfermidades”.



        A primeira leitura (Eclo 27,33-28,9), com a intenção de fazer o homem enxergar o valor do perdão, o convida a “lembrar”, “perseverar”, “pensar” no fim da sua vida e nos mandamentos. Observar os mandamentos, e o primeiro dentre os 10 é “amar a Deus sobre todas as coisas, e o próximo como a si mesmo”, significa reconhecer a nossa própria finitude e que a vida plena está na observância do mandamento do amor a Deus e aos irmãos. A vivencia do amor expulsa, não somente o temor, mas, sobretudo,  liberta o coração da doença do ressentimento que  faz sofrer, inclusive, criando doenças no coração. Não me refiro aqui a doenças cardíacas, mas, as doenças que pode se instalar no coração como o ódio e a vingança. Há muita gente, inclusive, entre nós, que até pensa estar com a consciência tranquila e o coração sadio, quando, sua maldade não é vista a luz do dia. Geralmente, essas pessoas, agem na escuridão da noite, para que suas obras más não sejam vistas, chegando ao ponto de manipular a consciência de quem não conhece a verdade, para, através dela, disseminar o mal. Irmãos, como podemos querer que Deus nos perdoe, quando prejudicamos nosso irmão? Como é possível ter a consciência em paz, quando se manipula e joga sujo com as mesmas cartas do mundo? Como é possível perdoar quando por trás, há falta de sinceridade e de honestidade com a verdade. Uma das piores enfermidades no coração é ser ele prisioneiro da própria consciência. Conheço pessoas que dissimulam muito bem essa verdade. São artistas da dissimulação. Só em olhar para sua cara, seus gestos, expressões, se percebe, o quanto ainda está longe do amor que perdoa. O amor e o perdão geram uma vida nova, constrói a comunidade. Finalmente, a leitura nos convida a recordar a aliança de Deus conosco. Essa aliança de amor encontra sua máxima expressão na doação de Jesus. Por isso, em cada eucaristia, no memorial da consagração, o Senhor nos recorda, através das palavras pronunciadas pelo celebrante, que o seu corpo e sangue, selaram conosco “a nova e eterna aliança”. É uma aliança de amor e perdão. Uma aliança sempre nova, porque se renova e se atualiza na eucaristia, sacramento do seu amor por nós. Deus ama perdoando!



        O Evangelho nos faz perceber até onde nossos valores são por demais mesquinhos, diante do valor infinito do amor. O judaísmo antigo e seus mestres haviam estabelecido certo limite ao perdão. Condenavam “a vingança, a ira, o rancor e exigia a reconciliação”, porém, para esses mestres da religião, “a obrigação de perdoar é restrita aos membros de Israel e não é ilimitada”. Alguns rabinos achavam que se devia perdoar uma vez, outros, duas vezes ou até três. “mas na quarta vez deveria haver a punição”. Nisso todos estavam de acordo. Bem parecida é a expressão que costumamos usar quando alguém erra: vamos dar uma nova chance uma vez, duas vezes, mas a terceira é última, definitiva, não há mais como ceder. O evangelho nos ensina que o perdão se adquire na escola do amor. Nessa escola, seremos sempre alunos. Nunca conseguiremos fechar o ano letivo, senão no último instante da nossa vida. Penso muito na gratuidade do perdão que Deus nos ofereceu em Jesus Cristo e continua nos oferecendo na eucaristia e no sacramento da reconciliação ou penitência (confissão). Penso na força das palavras de Jesus no alto da cruz: “Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem”. Penso nas vezes que os profetas de todas as épocas, inclusive na nossa, abriram sua boca não para proferir desgraças, mas para proclamar uma palavra de perdão. Penso nas vezes que agindo “in persona Christi”, ofereci a muitos o perdão do Senhor, ou melhor, o Senhor, ofereceu seu perdão aos seus e meus irmãos pelo ministério que me confiou em sua Igreja. Penso nas vezes, que perdoei e ofereci meu perdão aos que me ofenderam. Grande é o perdão. Perdoar é amar, amar é perdoar. É grande a pessoa que perdoa, não porque está num nível melhor que os outros, mas porque vive o amor e o perdão que existe em Deus, sem deixar de ser humano. E Deus, para nos perdoar, não o quis fazer através dos anjos, mas, quis se encarnar, para nos ensinar que ele quer nos perdoar através do homem.



        Creio que talvez para nós, que vivemos a fé a luz d Páscoa, nos seja fácil ver assim. Recordo que o texto evangélico que escutamos se situa antes da Páscoa de Jesus, enquanto o Senhor estava a caminho de Jerusalém. O amor está a caminho da cidade que é cheia de simbolismo espiritual na tradição bíblica de Israel. Ao longo do seu ministério público, Jesus curou muitas pessoas de todos os males e enfermidades. Agora, ele se encaminha para a cidade que o rejeitará, para, fora dela, ser levantado no altar da cruz, e de “braços abertos, traçar entre o céu e a terra o sinal permanente da sua aliança” e perdoando-nos, enriquecer-nos com o mesmo dom do seu amor. Se Pedro temia que a lição de Jesus fosse de um perdoar sempre, por isso refletiu num número matemático que tem sentido de perfeição,mas é finito, “sete” e concluiu, “sete vezes?”. Conhecemos a resposta de Jesus. A história da parábola ilustra que o reino dos céus, é um reino de amor e justiça. Realmente, Deus perdoa sempre, mas não deixa impune quem sendo perdoado, não sabe fazer o mesmo. Com outras palavras, o perdão não se encaixa apenas numa dimensão vertical, isto é, eu o recebo e ele pára em mim, mas sua dinâmica se encaixa numa horizontalidade que deseja atingir a todos.



        Para nós, perdoar, significa “abrir o coração para acolher quem errou, quer dizer, disponibilidade para não conservar rancor contra quem nos causou contrariedades, mas quer dizer também um compromisso positivo para esclarecer o irmão sobre o erro que cometeu, quer dizer, ajuda-lo para que ele recomece a construir novamente a sua vida”. Só um coração que foi curado pelo perdão, sabe o tamanho da exigência do perdão.



        Queridos irmãos e irmãs, o mundo onde somos chamados a testemunhar o amor e o perdão, é marcado pelas diferenças, oposições, resistências, etc. Paulo, na segunda leitura (Romanos 14,7-9), nos oferece um princípio que ajuda na superação das diferenças: “tenha sempre o cristão que ele não vive para o próprio egoísmo, mas para o Senhor. No seu relacionamento com os irmãos, portanto, não se deixe guiar por considerações humanas. Ele vive e morre somente para o Senhor”.



        E para concluir, gostaria de deixar falar o meu irmão no ministério do perdão, o cardeal Van Thuan, “o testemunho mais importante que podemos dar é o amor, o perdão e a reconciliação”.




sexta-feira, 9 de setembro de 2011

22º DOMINGO DO TEMPO COMUM - PARTICIPAR DA CRUZ



À medida que se aproxima a conclusão do ano litúrgico, a liturgia vai nos colocando mais próximos do mistério da cruz do Senhor.
         Hoje o Evangelho nos convida a participar da cruz. Esse é, portanto, o tema central da nossa homilia.
          A cruz é altar das nossas renúncias e local onde oferecemos nossa vida, inclusive como “sacrifício, santo e agradável a Deus” (2ª leitura – Romanos 12,1-2). Nela matamos nossa vontade própria para que o amor possa colocar-se a serviço do Reino, servindo cada irmão pequeno do Senhor.
         Na 1ª leitura (Jeremias 20,7-9), o profeta, seduzido por Deus, nos mostra como a força da Palavra de Deus nos seduz e nos rende ao seu amor. A força da palavra seduz, é sedutora. Mas essa sedução é antes vista no seu aspecto positivo, em que, aquele ou aquela que é seduzido, não perde a sua liberdade e corresponde com liberdade operativa, para se tornar ministro e instrumento da mensagem do amor misericordioso e salvador. Todavia, a força da Palavra que seduz não nos isenta de humilhações e sofrimentos, por causa da Palavra mesma. O profeta experimentou esse sofrimento em sua pele por ter sido fiel a Palavra que o convocou. Chegou até a ficar desgostoso e se queixou, dispondo-se a largar tudo, expressando sua tristeza desse modo: “A Palavra do Senhor tornou-se para mim fonte de humilhação e de chacota o dia inteiro”. Nós, como ele, quando profundamente prostrados sob o peso de tais humilhações, pensamos também em desistir, abandonar tudo, fechar-se em si mesmo e buscar caminhos alternativos que nos leve para longe do compromisso com a missão recebida e livremente aceita – “Não quero mais lembrar-me dele, nem falar em nome dele”. Todos, sem exceção, já fizemos experiências semelhante. E é justamente quando chegamos ao nível mais profundo da nossa humilhação e sofrimento, que podemos experimentar um fogo a nos consumir interiormente, destruindo nossos medos, incertezas e dúvidas. É a hora em que, abertos ao Espírito recebido no batismo, sentimos o amor do Senhor renovando a chama do seu amor acesa em nós. É daí que saímos transfigurados.
         É justamente nesse momento que sentimos a força do Senhor a nos encorajar a participar da sua cruz, quando, então, estaremos rendidos ao seu amor e já totalmente seduzidos. A partir desse momento já não há mais como fugir. A cruz e a Palavra estão tão unidas a nós e nós a elas como que formando uma sintonia de amor, ao ponto de não termos mais medo de descobrir Deus na Cruz, onde também estamos crucificados com ele, para com ele e nele, anunciarmos a força do amor que transforma e comunica nova vida. Nesse ponto da caminhada, podemos dizer com o profeta: “Seduziste-me Senhor e eu me deixei seduzir. Fostes mais forte e vencestes!”. É esse amor que nos chamou a sermos testemunhas de esperança nesse lugar onde estamos (Itaporanga), há setenta e cinco anos. Por isso, não nos preocupa saber que para alguns nosso estilo de vida não exerce atrativo. Antes, importa-nos saber que, aqui somos chamados a dar testemunho da nossa esperança, seja através da Liturgia, seja através dos trabalhos pastorais assumidos legitimamente, mas, sobretudo, da forma como vivemos o amor entre nós. É na oração que descobrimos a luz que ilumina a nossa missão – “Vosso amor vale mais do que a vida: e por isso meus lábios vos louvam” (Salmo 62,4).
         Queridos irmãos e irmãs, o Evangelho nos leva a Cesaréia de Felipe, certamente uma região onde Jesus não era reconhecido como messias e salvador. Lá, Jesus, recebe a profissão de fé dos seus discípulos – “Tu és o messias, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,16). A cruz já se descortina no horizonte da missão e da vida de fé de Jesus. Sim, ele é o messias, mas, um messias servo, o que desconcerta as expectativas dos discípulos quando a seguir, ele lhes prediz pela primeira vez, a sua paixão, morte e ressurreição em Jerusalém. Tal anúncio os faz perceber quanto Deus é realmente diferente da experiência que tinham até então. Pedro reage dizendo: “Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isto nunca te aconteça!” (v.22). É uma resposta consolo? Ou realmente medo de descobrir o Deus amor? A segunda questão é mais certa, pois tanto eles, como nós hoje, temos medo da cruz, não queremos conhecer Deus dessa forma. Mas a verdade é que Deus quer dar a se conhecer pelo amor-serviço para a vida do mundo. A repreensão de Jesus é muito dura e severa. Ele não está afirmado que Pedro é satanás, mas apenas está dizendo, que toda vez que não queremos conhecer Deus como ele quer se revelar, nos tornamos satanás, isto é, alguém que como satanás, quis desviar a atenção de Jesus do plano salvífico e redentor. Por isso, Pedro se torna naquele momento uma pedra de tropeço. Quando não somos capazes de enxergar as coisas na perspectiva de Deus, nos comportamos como um satanás, isto é, o divididor, aquele que não quer servir, mas seduzir pelas falsas sensações de segurança, bem estar e prazer, para escravizar, oprimir e matar.

         O verdadeiro discípulo missionário é chamado a confessar sua fé no “Cristo, o Filho de Deus vivo”, mediante sua participação no mistério da cruz. Antes, vista como um sinal de maldição e escanda-lo, tornou-se, no dia da entrega do Senhor, o altar onde o amor se imola para dar vida ao mundo. Só quem é capaz de abraçar a cruz e renunciar aos seus projetos pessoais, morrendo cada dia a si mesmo, é capaz de chegar a conhecer verdadeiramente Deus e seu plano de amor, pois, não é possível conhecer Deus sem a cruz. Quantos ao longo da história da Igreja descobriram o segredo que a cruz encerra, ao ponto de se deixarem seduzir por sua mensagem para viver a vida cristã com uma grande paixão de amor pelo reino.

         Jesus para voltar ao Pai, passou pela via dolorosa da cruz e nos convida a segui-lo pelo mesmo caminho: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me siga... (v.24). Na cruz, o homem Deus se esvazia da sua glória e assume a condição de servo (Filipenses 2,6-11). Abraçando-a com amor e alegria, cada batizado, já associado a ela pelo seu batismo, é convidado a esvaziar-se de sua vaidade e ambição a todo e qualquer projeto humano. Querer ser isso ou aquilo, nos mostra o quanto ainda estamos longe do autêntico caminho para um discipulado serviçal.
         Irmãos amados, o mundo espera ver nosso testemunho de serviço abnegado. Os que testemunham o amor através do serviço incendeiam o mundo, convertendo-se, assim, em sinais luminosos para um mundo de esperança. A nossa comunidade está dentro do mundo, não para ser mundana, mas para ser solidária com a luta do seu povo, mesmo que nessa luta, ela tenha que abraçar a cruz. Só então, poderemos compreender o alcance da expressão paulina há pouco proclamado na segunda leitura (Rom 12,1), “Eu vos exorto, pela misericórdia de Deus, a vos oferecerdes em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso culto  espiritual”. A comunidade deve brilhar não tanto pelo esplendor na sua beleza litúrgica (não descuidar também da liturgia), mas ser, sobretudo, uma liturgia viva pelo amor e o serviço da caridade.
         A liturgia de hoje nos trouxe algumas inquietações. O contrário seria preocupante, pois nos mostraria uma religião alienada e anestesiada diante da dor e sofrimento de tantos irmãos e irmãs. As inquietações que foram surgindo ao longo de nossa reflexão, servem para percebermos se estamos ou não acolhendo as inspirações ou apelos do Espírito Santo.

         Finalmente, uma palavra a nos encorajar quando estivermos sentindo cansaço ou perdendo as motivações da nossa esperança. Com o salmista (Sl 118,107) poderemos rezar: “Ó Senhor, estou cansado de sofrer; vossa Palavra me devolva a minha vida”. Depois da cruz, o Pai nos devolve a vida em sua plenitude.



domingo, 4 de setembro de 2011

XXIII Domingo do Tempo Comum

Profecia e anúncio do amor
                              
         Queridos irmãos (ãs), a liturgia do domingo passado nos convidava a participar do mistério da cruz do Senhor para nela, dar testemunho de fidelidade a Deus e amor aos irmãos.

         Hoje, XXIII DTC, a liturgia nos convida a “OUVIR, HOJE, A VOZ DE DEUS” (refrão do salmo responsorial). E o que nos diz hoje a voz do Senhor?

         Olhando com atenção os textos bíblicos, se percebe a íntima correlação que existe entre eles, dos quais, podemos destacar como mensagem central, o tema da “profecia como anuncio do amor”. O testemunho de uma autêntica profecia passa pela cruz. Os profetas, do passado e do presente, experimentaram na cruz o único modo de fazer da própria vida uma profecia.

         A primeira leitura da profecia de Ezequiel nos ensina que, a missão do profeta se fundamenta no amor do Senhor para com o seu povo. Ele, o Senhor, “não tem prazer com a morte do ímpio; mas antes, na sua conversão, em que ele se converta do seu caminho e viva”. Por isso, a missão do profeta é de vigia e sentinela da casa de Israel. O profeta é, portanto, a consciência crítica no meio do seu próprio povo. Cabe a ele, dar o alerta diante do perigo. De qual perigo trata o texto? Evidentemente que, do desprezo da Palavra de Deus. Por isso, a missão profética é de enorme responsabilidade. A vida de um povo depende da sua fidelidade à missão que recebeu. Por isso, em primeiro lugar, ele deve “ouvir como discípulo” (Isaias 50,4), a fim de que, possa perceber os caminhos através dos quais o Senhor quer conduzir seu povo. O compromisso assumido em nome do Senhor, para uma missão de salvação, o faz perceber, o quanto, em parte, ele é responsável pelo destino dos irmãos. Tal, responsabilidade, porém, cessa, quando ele não é ouvido. Ele, portanto, é o filho do homem, expressão que quer dizer, um irmão, entre os irmãos, sem, contudo, deixar de explicitar o sentido do Rei messias.
         Caríssimos irmãos e irmãs, o Evangelho que escutamos há pouco, nos convida a abraçar o diálogo para superar os conflitos. A superação dos conflitos é o indicativo de que nossa vida está se tornando um testemunho profético como anúncio do amor.

         Hoje, talvez, mais do que no passado, se fala do diálogo como caminho para a Paz e a reconciliação. O diálogo sadio e cheio de humanidade é a proposta que Jesus nos oferece hoje no Evangelho. Uma comunidade verdadeiramente profética cultiva o diálogo e o apresenta para o mundo como um bem. Na comunidade, todos somos profetas, até mesmo, os irmãos faltosos. Por isso, saber corrigir com prudência e responsabilidade é um imperativo evangélico. Uma correção contém uma palavra profética, quando, o que corrige é consciente de que, ele também é receptor da profecia que anuncia. Há às vezes, pouca atenção a essa lição dada por Jesus. Justifica-se, às vezes, a correção em nome da verdade. Ora, a verdade é o amor. O amor não fere, diz Paulo, na 1ª carta aos coríntios. O que vai ser corrigido deve antes ser ouvido “em particular, a sós contigo” (v.15), caso não te escute, “toma contigo mais uma ou duas pessoas”, se ainda assim, não te escutar, “dize-o a Igreja”. Há um caminho longo a ser percorrido (v.15) antes de qualquer decisão precipitada. Assim, profecia e correção fraterna, só cabem num contexto de amor; “amor pelos irmãos e irmãs, pela humanidade, pela criação”. Amor cheio de compaixão e misericórdia. A mensagem que o Evangelho nos oferece hoje, deve servir de orientação para s diversas situações que enfrentamos. Amados irmãos, o mundo está dividido pelo ódio e a origem de toda divisão está no fato de que já não se ver no outro um irmão que merece respeito e estima.

         A comunidade profética é chamada a testemunhar a presença do ressuscitado, pois, como nos ensina a lição dada no Evangelho, toda a comunidade compartilha do mesmo Espírito que a anima e a apresenta ao mundo, como o lugar do perdão e da festa. Na força do Espírito, a comunidade profética é formada por pessoas que antes não se conheciam e agora, reunida pelo amor do Senhor, reza e celebra a eucaristia. Queridos irmãos (ãs), agora podemos nos perguntar se estamos de acordo entre nós. O senhor não nos escuta quando estamos em desacordo uns com os outros. Também ele não se manifesta presente onde há divisão, intrigas, falsidade e tramas. Nós sonhamos com um mundo novo, uma comunidade nova, uma Igreja nova, e, quase sempre não nos colocamos dentro desse sonho como agente de transformação. O mundo novo, a comunidade nova, a igreja nova é possível no sacramento da caridade. Necessitamos nos dispor a uma reorganização e restauração contínua do nosso eu em vista da comunhão interpessoal e da transformação da história.

         A mensagem da carta de Paulo aos Romanos aponta para a encarnação da profecia na vida e na história: “Não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, pois quem ama o próximo está cumprindo a lei” (v. 8). O texto paulino se insere no contexto das obrigações do cidadão em relação às autoridades do Estado, considerando a situação em que vivia a população de Roma sob o imperador Nero levado a excentricidade e extravagâncias. Certamente, alguns cristãos deviam se perguntar se deviam continuar cumprindo com suas obrigações morais em relação ao estado. A resposta que Paulo dá é recordar o mandamento de Jesus que resume o cumprimento de toda a lei, pois, quando não sabemos nas situações difíceis qual a melhor atitude a assumir ou mesmo ainda, quando não temos certeza das escolhas a serem feitas, a referência será sempre o mandamento do amor. Quem ama mesmo quando, incompreendido, perseguido ou caluniado, não erra se está disposto a fazer sempre o bem. Portanto, é um dever de justiça dar ao outro aquilo que é dele, como, respeitar sua honra e pagar suas dívidas. Evidentemente, a única dívida que jamais conseguiremos pagar é a dívida do amor de Deus para conosco. Na questão do amor, fica sempre uma pendência de nossa parte com um convite permanente a abraçar o amor, resumo e cumprimento de todos os mandamentos.

         Com as lições que aprendemos do Evangelho e que ressoam na regra de São Bento sobre o tema da correção fraterna, seja a oração pessoal e comunitária, bem como “uma boa palavra”, a ajuda que podemos oferecer aos que, passando por situações de conflitos, não sabem como orientar aos que devem corrigir, para que este veja na correção feita, a presença profética do amor e da misericórdia.

Obs: minhas homilias eram postadas em meu blog a partir de um link do site oficial da Paroquia Bom Jesus de Riversul desde quando foi criada a página. Mas com a minha saída, o...................... ,(acabo de retirar o nome da pessoa, - 23:38h -por respeito a ela, o respeito que não teve para comigo, mas certamente vocês sabem quem ela é) em conversa com o atual pároco, achou  ser isso um inconveniente, ou como me disse pessoalmente a pessoa em questão, uma invasão de privacidade, tendo como consequências o cancelamento da página citada. Agora você poderá acessar diretamente no meu blog: homiliaspebasilio.blogspot.com.

Só quero dar a minha contribuição para o processo de Evangelização , fazendo uso dos novos recursos que os Mass media nos oferecem.