sábado, 7 de janeiro de 2012

01 de Janeiro 2012

– Oitava de Natal – Santa Maria Mãe de Deus – Dia mundial da Paz

“Preservar a criação é a condição para a Paz no mundo”.

Liturgia:
Número 6,22-27

Salmo 66 (67),2-3.5.6.8
Responso: Que Deus nos dê a sua graça e sua benção.

Gálatas 4,4-7

Aclamação ao Evangelho: Aleluia 3x - “De muitos modos, Deus outrora nos falou pelos profetas; nestes tempos derradeiros, nos falou pelo seu Filho”.

Evangelho de Lucas 2,16-21

      Queridos irmãos e queridas irmãs, celebramos hoje a solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus e o dia mundial da Paz proclamado pelo Papa Paulo VI. A presente celebração encontra-se dentro da oitava de natal. Também hoje se celebra o dia mundial da Paz e o primeiro dia do ano civil que é dedicado na liturgia a santa mãe de Deus, Maria, proclamada no concílio de Nicéia em 431. Ela é a “Teotókos”, isto é, a mãe de Deus e “é totalmente mãe porque esteve em total relação com Cristo; por isso, honrando-a, o Filho é mais glorificado” (Missal dominical p. 112). Todavia, as leituras bíblicas põem o acento no “filho de Maria” e no “nome do Senhor”.

      A primeira leitura nos apresenta a fórmula litúrgica com a qual o sacerdote despedia a assembléia litúrgica, ritmada pelo nome do Senhor que é repetido no início de cada uma das três invocações: “O senhor te abençoe..., O Senhor faça..., O Senhor volte...”. De fato, o “filho de Maria” e Filho de Deus, é ele a plenitude de toda a benção de Deus no céu e na terra. Nele, nascido de mulher, sujeito à lei, para remir os que eram por ela oprimidos e recebêssemos a filiação adotiva (2a leitura), amando a nossa humanidade, assumiu-a na mais completa solidariedade, sem, contudo perder a sua divindade, pois, “aquilo que não é assumido, não pode ser redimido”. 

      O hino da carta de Paulo aos Efésios canta em forma de ação de graças o plano divino da salvação assumido até as últimas conseqüências pelo Senhor: “Bendito e louvado seja Deus, o Pai de Jesus Cristo, Senhor nosso, que em Cristo abençoou-nos do alto céu com benção espiritual de toda sorte!” (LH. p. 959). Desse modo, o significado etimológico do “nome Jesus”, nos introduz no mistério de Cristo.

      Queridos irmãos, o canto solene da Paz entoado pelos anjos ao anunciar aos pastores: “Eu vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo...” (Lc 2,10), “Gloria a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados” (idem v. 14), esse canto novo continua ecoando através da Igreja. Em todos os lugares do mundo se faz ouvir nesse dia o mesmo desejo de paz. Vale lembrar que a paz da qual falamos, não é uma idéia, uma utopia, mas uma pessoa real, viva. “Cristo é a nossa paz” (Ef. 2,14), ou como afirmou o Papa são Leão Magno (Séc. V), “É a paz que gera os filhos de Deus e alimenta o amor; ela é a mãe da unidade, o repouso dos bem-aventurados e a morada da eternidade; sua função própria e seu benefício especial são unir a Deus os que ela separa do mundo”.

      De fato, a paz é dom, é salvação trazida por Jesus, é a nossa reconciliação com Deus e a humanidade, mas também é valor humano a ser realizado por todos os homens e mulheres de boa vontade.

       O santo Padre o Papa Bento XVI na mensagem para o dia de hoje, aborda o tema da paz mundial, relacionando-o com a preservação da criação - “Se quiseres cultivar a Paz, preserva a criação”, afirmando logo de início: “O respeito pela criação reveste-se de grande importância... porque a criação é o principio e o fundamento de todas as obras de Deus e a sua salvaguarda torna-se hoje essencial para a convivência pacifica da humanidade” e acrescenta: “é indispensável que a humanidade renove e reforce 'aquela aliança entre ser humano e ambiente' que deve ser espelho do amor criador de Deus, de quem provimos e para quem estamos a caminho” (n.1) e constata: “A paz mundial está ameaçada também pela falta do respeito devido à natureza” (n.3).

      Os Pastores, cheios de alegria, correm ao encontro da Paz que sonhavam e onde a encontram? Em Belém, deitado na manjedoura. Nada de extraordinário, mas simplicidade, humildade, escondimento, pequenez. A eles que viviam na mais profunda solidão e abandono, Deus revelou os sinais da sua presença na ternura de uma criança. É nessa criança que Deus quer ser abraçado e abraçar a humanidade. Ele é a Salvação de Deus. O seu nome, Jesus, recebido por ocasião do rito judaico da circuncisão, encerra o sentido da sua missão.

Pe. Basílio J. Ilton Alves, O. Cist.
Monge Cisterciense


Epifania do Senhor 03 de Janeiro 2010

“Apareceu à bondade do Senhor”

Liturgia:

Isaías 60,1-6

Salmo 71 (72),1-2.7-8.10-11.12-13
“As nações de toda a terra hão de adorar-vos ó Senhor”.

2a Leitura Efésios 3,2-3a.5-6

Evangelho de Mateus 2,1-12


      Caríssimos irmãos e irmãs em Cristo, celebramos hoje, na liturgia, a epifania do Senhor, isto é, a sua manifestação ou revelação como luz entre as trevas. Deus revela hoje a imensa bondade do seu amor à humanidade toda, simbolicamente representada pelos magos do Oriente. O amor de Deus revelado primeiramente aos pobres pastores vai se dilatando até alcançar o coração de todos os povos.

      Isso é motivo para ficar alegre e feliz. Por isso o profeta Isaías convida Jerusalém a levantar-se e acender suas luzes, para em seu seio, acolher o Senhor que é a sua luz. O Senhor será o centro da aliança e a luz das nações (Is 42,6) na cidade santa, que caminhava cambaleando entre os escombros após ser destruída pelos invasores estrangeiros. Nesse contexto, a cidade é comparada a uma mãe que chora ao ver seus filhos e filhas deportados como escravos. Mas agora que brilhou sobre ela a luz do Senhor, não pode permanecer humilhada entre as ruínas, mas deve levantar-se por que seus filhos e filhas já se aproximam carregando também eles seus próprios filhos no colo. Eles vêem de longe, atraídos pelo amor do Senhor que salva o seu povo. Começa a festa do amor. Quanta alegria, quanta emoção. O coração de todos bate mais forte que de costume. Há aqui uma troca de dons. O Senhor oferece seu amor e a humanidade oferece os dons mais preciosos da terra como o ouro, o incenso e a mirra (1a leitura).

      O cumprimento dessa profecia dá-se por ocasião da visita dos magos a Jerusalém depois de iniciarem uma longa aventura na fé, até ter encontrado o objeto da sua procura em Belém. Na verdade, os magos, mestres em astrologia, descobriram numa estrela, o nascimento de uma nova historia. “Os magos seguiram uma estrela e descobriram o Deus da história” (Homilia do Papa Bento XVI na missa da Epifania, 2012). Nada tinham a sua disposição senão a ciência dos astros. Mas Deus quis se servir de seus conhecimentos, para revelar a todos a verdade do seu amor sem fronteiras, ao admitir os pagãos à mesma herança e associa-los a mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho (2a leitura). Deixando suas seguranças, eles põem-se a caminho da nova vida que os atrai de forma irresistível. Não há como ignorar o calor do amor que se revela como vida e esperança da humanidade. Entrando em Jerusalém se perdem um pouco, sobretudo porque a luz não aquece a casa de Herodes nem o coração de Jerusalém. Finalmente podem sair e continuar sua procura e eis que vêem de novo a estrela e sentem uma alegria muito grande. O amor do Senhor aquece novamente seus corações. É o calor vital que os anima a continuar olhando para o lugar de onde Deus os ver e chama. Que bela é esta cena do encontro dos magos com o Senhor. Ao pensar nela, meu coração se enche de uma grande comoção interior. “Quando entraram na casa, viram o menino com Maria sua mãe”. A vida está em casa. Diferentemente de Lucas, Jesus está em casa que aqui é símbolo da comunidade dos discípulos, chamada a acolher a todos e faze-los discípulos. Então eles lhe oferecem seus dons: Ouro, a sua realeza, o incenso a sua divindade e a mirra a sua humanidade já aludindo a sua paixão e morte. É no encontro com o Senhor que termina a aventura que iniciamos na fé.

      Pronto, o mistério escondido, foi agora revelado. Esse mistério é o amor de Deus por nós. Fomos atingidos por esse mistério que nos abriu o coração e a vida para sairmos do nosso individualismo e afirmar que Jesus veio para todos os povos em todos os tempos. Como discípulos missionários, somos chamados a ser epifania de Deus na Igreja, convocados pelo amor do Senhor “a fraternidade universal, ao diálogo ecumênico e ao anúncio da boa nova da salvação”.

Pe.Basílio J. Ilton Alves, O. Cist.
Monge Cisterciense.





BATISMO DO SENHOR 10 de JANEIRO


“O batismo de Jesus é Epifania e adesão à missão que o Pai lhe confiou”

Liturgia

1a leitura Isaías 42,1-4.6-7

Salmo 28 (29),1a. 2.3ac-4.3b.9b-10

“Que o Senhor abençoe, com a paz, o seu povo!”.


      Queridos irmãos, irmãs, catequizandos, catequistas e amados irmãos vindos de outras cidades para participar desta eucaristia do batismo do Senhor, ocasião em que nossa cidade de Riversul realiza a sua Copa mirim. Bem vindos a essa celebração.

      A festa do batismo do Senhor conclui o ciclo do natal e é também epifania do amor do Pai pelo Filho. Por outro lado, nos revela outro aspecto da sua encarnação, quando da manifestação da sua adesão ao Pai e a missão que lhe confiou como Servo e Filho muito amado, cheio de graça, amor e verdade.

      As leituras bíblicas que escutamos dão o sentido da missão de Jesus e ao mesmo tempo orientam continuamente a Igreja para a fonte batismal, onde lá, ela redescobre o compromisso com a missão de Jesus no comprometimento com a justiça e a promoção humana. Vale lembrar ainda que as leituras nos questionam quanto ao modo e a forma como estamos vivendo o nosso próprio batismo.

      O documento de Aparecida revela-nos uma grande preocupação da Igreja quanto ao batismo e aos batizados. É preciso zelar por esse primeiro sacramento de iniciação para que de fato os que o recebem, o vivenciem na comunidade de fé como discípulos e missionários de Jesus Cristo. Quantos são os batizados no mundo? Aqui em nossa comunidade paroquial? Nossa evangelização está anunciando a pessoa viva de Jesus Cristo ou está domesticando as pessoas para que se declarem cristãos? Nesse sentido, parece estar aqui a explicação para a perda do entusiasmo cristão. Por isso, é urgente uma catequese querigmática que anuncia a pessoa, vida e as obras do Senhor, levando o catequizando a uma reflexão e tomada de decisão a fim de que ele seja o Senhor da vida. Nossa paróquia está iniciando uma experiência nova de evangelização e assumindo uma metodologia nova na catequese que prioriza o anúncio kerigmático.

      A 1a leitura do profeta Isaías nos fala do servo do Senhor, escolhido, querido e alegria do coração de Deus. Seu estilo de vida é coerente com a mensagem que anuncia. Nele está o Espírito de Deus. Sua missão é promover o julgamento para que aconteça a justiça. Não grita, nem levanta a voz. Não reage a injustiça com a violência, mas com amor e serenidade. “O Senhor o encarregou de promover a união, a aliança do seu povo, e ser luz para as nações” (v.6). Portanto, sua missão é universal.

      O salmo responsorial por sua vez canta o poder do Senhor que se manifesta nas águas do mar para salvar o seu povo e “aqui celebra sua manifestação no Batismo de Jesus”.

      Tudo o que foi descrito pela leitura e o salmo se realizam como nova páscoa que antecede a páscoa definitiva, no dia em o Senhor desce as águas do Jordão para ser batizado por João Batista. Diz-nos o evangelista Lucas que era muito grande a expectativa do povo em relação ao precursor que o imaginavam como o messias esperado. Mas João declara não ser ele com toda a firmeza da sua fé e esperança, ao mesmo tempo em que aponta para os sinais que os ajudará a reconhecer o messias: “ele é mais forte do que eu”, e “batizará no Espírito Santo e no fogo”, bem como admite ser indigno de desamarrar a correia de suas sandálias. Sim ele é forte. Não porque freqüente academia para adquirir um corpo musculoso e sarado e assim seduzir o mundo. Se assim fosse, seria ele mais um ídolo entre tantos outros. É forte porque sobre ele “está o Espírito do Senhor” que comunica vida eterna.

      É esse o contexto em que se dá a celebração do batismo de Jesus. Embora João administrasse um batismo de penitência e conversão, Jesus nunca cometeu pecado. Não tinha necessidade de receber esse batismo de purificação exterior, símbolo, portanto, do início de uma vida de conversão. Mas vendo o povo ser batizado, “Jesus também recebeu o batismo” (v.21). Aproxima-se do que batiza, “talvez para santificar igualmente aquele que o batiza e, sem dúvida, para sepultar nas águas o velho Adão” (Sermões de são Gregório de Nazianzo. LH. Vol 1. P. 574) ou como afirmam outros padres da Igreja: “Para santificar a fonte das águas com a sua presença corpórea”. Nesse gesto de máxima humildade, kénosis (rebaixamento), Jesus manifesta sua solidariedade com os pecadores, não solidariedade no pecado, pois ele nunca cometeu pecado algum e é ele o que “tira o pecado do mundo”, mas o faz para confessar o nosso pecado e destruí-lo na água que jorrará do seu coração aberto, quando então, a água voltará a jorrar e então se dará o novo renascimento no Espírito. Amados irmãos e irmãs imagino, que toda a criação se volte nesse momento para contemplar o Senhor ao vê-lo sendo batizado e o céu novamente se abrindo, ao mesmo tempo em que  pousa sobre ele o “Espírito do Senhor” em forma visível, corpórea de pomba (símbolo da Shekiná, isto é, morada e presença de Deus). Nova epifania. O Pai declara todo o seu amor pelo Filho e nele por cada um de nós. Enquanto isso, Jesus se entrega oração onde encontrará a força para se dedicar com fidelidade à missão de Servo e Filho num amor que se dilatará por toda a humanidade no altar da cruz. O batismo é, pois, participação na missão profética, real e sacerdotal de Jesus. O batismo é, portanto a fonte de todas as vocações. E você, já descobriu a sua? Seu batismo se traduz em compromisso com a tarefa evangelizadora da Igreja na sua comunidade, diocese e paróquia? Não podemos sair daqui como batizados superciais. Temos que recuperar o entusiasmo que brota de uma fé amadurecida na intimidade com o Senhor, na escuta da sua Palavra, na Eucaristia e no  comprometimento com a transformação das estruturas injustas do nosso tempo. Daí brotará a alegria como resultado do encontro pessoal com o Senhor.

      A Igreja é chamada continuamente a reconhecer e a acolher o amor de Deus presente em outros povos e culturas, haja vista que, segundo as palavras do Apóstolo Pedro, ainda na casa do pagão Cornélio, Deus não faz “distinção entre as pessoas”, mas que “aceita quem o teme e pratica a justiça” (v. 35). Com outras palavras, ela é chamada a testemunhar um amor sem fronteiras através da prática do bem a exemplo do seu Senhor, Esposo e Mestre.

Pe. Basílio J. Ilton Alves, O.Cist.







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