domingo, 18 de setembro de 2011

“Deus nos surpreende com a sua bondade ao ir ao encontro dos primeiros e dos últimos”

XXV Domingo do Tempo Comum – A
     
A liturgia deste Domingo nos convida a conversão para que possamos conhecer “os pensamentos” e “os caminhos” de Deus, ou seja,  conhecer o “surpreendente Deus”. Tal descoberta exige de nós dar passos pedagógicos/catequéticos, a fim de superarmos a falsa imagem de Deus que nos foi passada num contexto de limitações e mesquinharias. De fato, toda a liturgia da palavra, nos interpela a refletir se, o Deus que conhecemos, é de fato, o Deus que Jesus nos revelou. Às vezes, tenho a impressão que sabemos pouco de Deus e sabemos menos ainda, quando achamos que já o conhecemos. O critério bíblico para saber se conhecemos a Deus, passa pelo amor aos irmãos (1Jo 4,7). “Amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo o que ama, vem de Deus e conhece a Deus”. Nós, não conseguimos amar muito ainda com aquele amor que Deus nos amou em Jesus Cristo, consequentemente se torna claro, embora nem sempre seja aceito que, na verdade, ainda não conhecemos a Deus. As ideias e os conceitos que temos de Deus podem, facilmente, nos desviar do Deus da ternura revelado por Jesus. Então, cada um, cria um deus que corresponda a seus interesses e caprichos. Por isso, o convite à conversão que nos faz a liturgia da palavra deste Domingo é, “como matar nossos deuses e em que Deus acreditar” (título de uma obra).



         Amados irmãos e irmãs, o contexto em que se situa a 1ª leitura (55,6-9), é o da experiência de Israel no exílio na Babilônia. Para esses exilados, Deus os teria esquecidos numa terra estanha por causa de sua infidelidade a aliança. Às vezes, diante de situações difíceis, sentimos que Deus pode ter nos abandonado quando cometemos um pecado, e, por causa disso, estamos pagando um alto preço com o sofrimento que pode ser uma doença ou algum problema na vida pessoal, familiar e comunitária. Erra quem pensa assim. Estaria reduzindo Deus (Deus é amor) a um homem mesquinho que se realiza quando se vinga das pessoas. Em situações assim, há quem não sabe dar “uma boa palavra” e acaba reforçando o sentimento de culpa e autodestruição. Gostaria que a pessoa que não tem discernimento nem maturidade espiritual nunca atrapalhasse tais pessoas. A missão profética é apontar para a um caminho de esperança, pois onde há esperança, a vida se renova. Quem tem esperança, se volta para Deus e descobre que sua generosidade é perdão. É aqui que o pecador descobre Deus como aquele que nos surpreende pelo amor – “Estão meus caminhos tão acima dos vossos caminhos  e meus pensamentos acima dos vossos pensamentos quanto está o céu acima da terra” (v.9). Deus sempre nos surpreenderá com a infinidade de seu amor.

                       

         Os dois último versículos da 1ª leitura servem de introdução ao evangelho de hoje. A parábola dos operários da vinha serve para nos mostrar como Deus age com Israel e com os pagãos. Israel, o povo da aliança, é representado pelos operários da primeira hora (madrugada), os pagãos, pelos operários da ultima hora. Uns e outros recebem o mesmo valor, “uma moeda de prata por dia” (v.2).



         O contexto da parábola é, sobretudo, o da resposta à pergunta “o que devo fazer para ter a vida eterna”, feita pelo jovem rico a Jesus. O jovem já cumpria todos os mandamentos e normas morais, mas não foi capaz de perceber que o cumprimento frio da lei não o fez conhecer Deus na verdade. É Jesus quem lhe diz o que lhe falta para ele chegar ao conhecimento de Deus: “vai, vende tudo e dá aos pobres, depois, terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me” (19,16-22).



Diante da resposta que Jesus dá a ele, os discípulos ficam desconcertados. A palavra que Jesus oferece a ele é uma palavra boa, mas é uma palavra exigente, pois implica desapego e renúncias. Até mesmo seus discípulos ficam desconcertados. Mas Jesus não volta atrás para oferecer uma palavra menos exigente. Pelo contrário, o jovem rico, pode ser uma imagem também de Israel pelo conhecimento que ele tem da lei/mandamentos, afasta-se de Jesus e vai embora muito triste. Os operários da primeira hora (símbolo de Israel) ficam com ciúmes diante da generosidade do patrão. Por isso o questionam e o acham injusto. Há quem não aceite como correta o comportamento do patrão. Até mesmo aqui entre nós, há quem esteja pensando nos direitos humanos (eles suportaram o peso e o calor do dia) e poderiam ter recebido uma gratificação como forma de reconhecimento pelo esforço e o desgaste. É aqui que entra a religião do mérito como forma de manipular Deus. É aceito hoje, que o salário deve corresponder ao trabalho feito. Mas, só para esclarecer, a parábola não fala disso, mas de Deus e de seu modo de ser. As últimas palavras do texto evangélico nos ajuda a perceber o sentido da narrativa: “Estás com inveja por que eu estou sendo bom (v.15)”.  São palavras que Deus, de alguma forma, dirige hoje a cada um de nós que participamos dessa eucaristia. É uma afirmação da sua bondade para com todos e ao mesmo tempo, uma denúncia profética da nossa mesquinhez e ânsia de querer manipular até Deus. Vejo pessoas que pensam manipular Deus quando assumem perante os outros uma postura de falsa humildade e se escondem atrás de uma falsa imagem de Deus para se auto afirmar no ambiente eclesial e social. Aquele que se faz de coitadinho para ter uma acolhida melhor, mostram o quanto é ainda fraco. Precisa de compaixão.  Não é mostrando seu aparente esforço de conversão que vai manipular Deus como em certas situações, consegue manipular os que são considerados menos esclarecidos culturalmente ou instruídos na vida religiosa.



         A parábola nos revela um Deus de ternura que a todos quer estender a sua bondade. Um Deus que vai ao encontro dos primeiros que já estavam acordados (madrugada), mas que também vai ao encontro dos que ainda no final do dia, não tinham se dado conta da sua passagem pela praça da cidade. Aliás, a imagem da praça é aqui muito significativa. A praça é comumente um lugar de encontro, festas, celebrações. É um espaço aberto a todos. Nela todos podem chegar e encontrar o que buscam. Nela há pessoas consideradas boas e ruins. Nela se encontra Israel e os pagãos. Mas, sobretudo nela, chega àquele que é capaz de reunir na praça do seu reino a todos. Por isso, a parábola foi utilizada por Jesus para falar do “Reino dos céus” (v.1). Na vinha do Senhor, somos chamados a ser “humildes operários” como falou o atual papa Bento XVI ao se apresentar ao mundo como sucessor de Pedro no dia de sua eleição.



         O Apóstolo Paulo nos ensina com o seu testemunho na 2ª leitura (Filipenses) como deve se comportar o operário: “para mim o viver é Cristo...”. Estar disposto a servir a causa do evangelho e dos irmãos, dá sentido a vida e a missão do discípulo missionário. Um operário deve viver sempre a altura do evangelho pelo modo discreto e responsável na tomada de decisões ou posturas, para não expor nenhum dos irmãos a uma situação de vexame diante de um mundo que se distancia de Deus e muitas vezes, por culpa de quem, devia ser fermento de unidade na comunidade, mas para aparecer como justo, até como forma de reparar seu próprio passado, busca arruinar a vida dos outros que também estão trabalhando na vinha. Isso não é viver a altura do evangelho. Viver a altura do Evangelho é assimilar a compaixão de Deus, sua bondade e misericórdia.

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