sexta-feira, 16 de setembro de 2011

“Perdão como cura das enfermidades” (Salmo da missa de hoje, 102/103,3).

XXIV DOMINGO DO TEMPO COMUM – A



“Perdão como cura das enfermidades” (Salmo da missa de hoje, 102/103,3).

1ª Leitura, Eclesiástico 27,33-28,9

Salmo 102/103

2ª leitura, Romanos 14,7-9.

Evangelho, Mateus 18,21-35



        Queridos irmãos e irmãs, a liturgia de hoje nos oferece o tema do perdão sem limites. Já o apostolo São João nos ensina em sua primeira carta – “Deus é amor” (1Jo 4,16). O perdão está no amor, ou melhor, a casa do perdão é o amor. Por isso, entrar na dinâmica do perdão é fazer uma experiência de ressurreição, isto é, ser curado de toda culpa e enfermidade. O ódio, ao contrário, tem como casa que o hospeda a sepultura, ou seja, a morte. Quando perdoamos, experimentamos a força do amor que “da sepultura salva a nossa vida e nos cerca de carinho e compaixão” (salmo da missa de hoje, v.4).



        Por isso, quero refletir na homilia de hoje, o tema do “Perdão como cura das enfermidades”.



        A primeira leitura (Eclo 27,33-28,9), com a intenção de fazer o homem enxergar o valor do perdão, o convida a “lembrar”, “perseverar”, “pensar” no fim da sua vida e nos mandamentos. Observar os mandamentos, e o primeiro dentre os 10 é “amar a Deus sobre todas as coisas, e o próximo como a si mesmo”, significa reconhecer a nossa própria finitude e que a vida plena está na observância do mandamento do amor a Deus e aos irmãos. A vivencia do amor expulsa, não somente o temor, mas, sobretudo,  liberta o coração da doença do ressentimento que  faz sofrer, inclusive, criando doenças no coração. Não me refiro aqui a doenças cardíacas, mas, as doenças que pode se instalar no coração como o ódio e a vingança. Há muita gente, inclusive, entre nós, que até pensa estar com a consciência tranquila e o coração sadio, quando, sua maldade não é vista a luz do dia. Geralmente, essas pessoas, agem na escuridão da noite, para que suas obras más não sejam vistas, chegando ao ponto de manipular a consciência de quem não conhece a verdade, para, através dela, disseminar o mal. Irmãos, como podemos querer que Deus nos perdoe, quando prejudicamos nosso irmão? Como é possível ter a consciência em paz, quando se manipula e joga sujo com as mesmas cartas do mundo? Como é possível perdoar quando por trás, há falta de sinceridade e de honestidade com a verdade. Uma das piores enfermidades no coração é ser ele prisioneiro da própria consciência. Conheço pessoas que dissimulam muito bem essa verdade. São artistas da dissimulação. Só em olhar para sua cara, seus gestos, expressões, se percebe, o quanto ainda está longe do amor que perdoa. O amor e o perdão geram uma vida nova, constrói a comunidade. Finalmente, a leitura nos convida a recordar a aliança de Deus conosco. Essa aliança de amor encontra sua máxima expressão na doação de Jesus. Por isso, em cada eucaristia, no memorial da consagração, o Senhor nos recorda, através das palavras pronunciadas pelo celebrante, que o seu corpo e sangue, selaram conosco “a nova e eterna aliança”. É uma aliança de amor e perdão. Uma aliança sempre nova, porque se renova e se atualiza na eucaristia, sacramento do seu amor por nós. Deus ama perdoando!



        O Evangelho nos faz perceber até onde nossos valores são por demais mesquinhos, diante do valor infinito do amor. O judaísmo antigo e seus mestres haviam estabelecido certo limite ao perdão. Condenavam “a vingança, a ira, o rancor e exigia a reconciliação”, porém, para esses mestres da religião, “a obrigação de perdoar é restrita aos membros de Israel e não é ilimitada”. Alguns rabinos achavam que se devia perdoar uma vez, outros, duas vezes ou até três. “mas na quarta vez deveria haver a punição”. Nisso todos estavam de acordo. Bem parecida é a expressão que costumamos usar quando alguém erra: vamos dar uma nova chance uma vez, duas vezes, mas a terceira é última, definitiva, não há mais como ceder. O evangelho nos ensina que o perdão se adquire na escola do amor. Nessa escola, seremos sempre alunos. Nunca conseguiremos fechar o ano letivo, senão no último instante da nossa vida. Penso muito na gratuidade do perdão que Deus nos ofereceu em Jesus Cristo e continua nos oferecendo na eucaristia e no sacramento da reconciliação ou penitência (confissão). Penso na força das palavras de Jesus no alto da cruz: “Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem”. Penso nas vezes que os profetas de todas as épocas, inclusive na nossa, abriram sua boca não para proferir desgraças, mas para proclamar uma palavra de perdão. Penso nas vezes que agindo “in persona Christi”, ofereci a muitos o perdão do Senhor, ou melhor, o Senhor, ofereceu seu perdão aos seus e meus irmãos pelo ministério que me confiou em sua Igreja. Penso nas vezes, que perdoei e ofereci meu perdão aos que me ofenderam. Grande é o perdão. Perdoar é amar, amar é perdoar. É grande a pessoa que perdoa, não porque está num nível melhor que os outros, mas porque vive o amor e o perdão que existe em Deus, sem deixar de ser humano. E Deus, para nos perdoar, não o quis fazer através dos anjos, mas, quis se encarnar, para nos ensinar que ele quer nos perdoar através do homem.



        Creio que talvez para nós, que vivemos a fé a luz d Páscoa, nos seja fácil ver assim. Recordo que o texto evangélico que escutamos se situa antes da Páscoa de Jesus, enquanto o Senhor estava a caminho de Jerusalém. O amor está a caminho da cidade que é cheia de simbolismo espiritual na tradição bíblica de Israel. Ao longo do seu ministério público, Jesus curou muitas pessoas de todos os males e enfermidades. Agora, ele se encaminha para a cidade que o rejeitará, para, fora dela, ser levantado no altar da cruz, e de “braços abertos, traçar entre o céu e a terra o sinal permanente da sua aliança” e perdoando-nos, enriquecer-nos com o mesmo dom do seu amor. Se Pedro temia que a lição de Jesus fosse de um perdoar sempre, por isso refletiu num número matemático que tem sentido de perfeição,mas é finito, “sete” e concluiu, “sete vezes?”. Conhecemos a resposta de Jesus. A história da parábola ilustra que o reino dos céus, é um reino de amor e justiça. Realmente, Deus perdoa sempre, mas não deixa impune quem sendo perdoado, não sabe fazer o mesmo. Com outras palavras, o perdão não se encaixa apenas numa dimensão vertical, isto é, eu o recebo e ele pára em mim, mas sua dinâmica se encaixa numa horizontalidade que deseja atingir a todos.



        Para nós, perdoar, significa “abrir o coração para acolher quem errou, quer dizer, disponibilidade para não conservar rancor contra quem nos causou contrariedades, mas quer dizer também um compromisso positivo para esclarecer o irmão sobre o erro que cometeu, quer dizer, ajuda-lo para que ele recomece a construir novamente a sua vida”. Só um coração que foi curado pelo perdão, sabe o tamanho da exigência do perdão.



        Queridos irmãos e irmãs, o mundo onde somos chamados a testemunhar o amor e o perdão, é marcado pelas diferenças, oposições, resistências, etc. Paulo, na segunda leitura (Romanos 14,7-9), nos oferece um princípio que ajuda na superação das diferenças: “tenha sempre o cristão que ele não vive para o próprio egoísmo, mas para o Senhor. No seu relacionamento com os irmãos, portanto, não se deixe guiar por considerações humanas. Ele vive e morre somente para o Senhor”.



        E para concluir, gostaria de deixar falar o meu irmão no ministério do perdão, o cardeal Van Thuan, “o testemunho mais importante que podemos dar é o amor, o perdão e a reconciliação”.




Nenhum comentário:

Postar um comentário